Bruna 27/07/2013
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Foi extremamente difícil definir a princípio o que eu achei desse livro. O sol negro é uma daquelas leituras em que tive altos e baixos. O livro conseguiu provocar em mim emoções distintas, a maioria, claro de forma positiva, apesar de ter alguns detalhes que me incomodaram um pouco. Demorei bem mais que o normal para terminar de lê-lo, não tanto pela narrativa ou o número de páginas, mas pela carga de informações que ele contém, o que exigiu mais atenção da minha parte, além daquela famosa "pausa para respirar" e deixar meu cérebro processar o conteúdo lido.
Por isso logo de cara adianto: essa resenha será grande e sem quotes, porque os mais interessantes são grandes demais para colocar aqui. Vide o tamanho da sinopse.
Como protagonista dessa história temos a doutora Maya, uma mulher inteligente e independente que trabalha em um laboratório farmacêutico na parte de cosméticos, área que me pareceu não ser muito valorizada lá dentro. Gostei de sua personalidade forte, mas bem dosada, que foge aos padrões de "sexo frágil" ao extremo.
Maya, também tem um hobbie um pouco fora do comum: pesquisar sobre sociedades secretas e outras coisas do gênero, praticamente sua paixão. Eu até arrisco dizer que isso chega a ser um "auter ego" da própria autora, ao menos é a impressão com a qual eu fiquei.
Certo dia, nossa protagonista está em um restaurante com amigas, falando animadamente sobre suas pesquisas, quando surge um homem, desculpando-se por estar ouvindo a conversa, aproxima-se e antes de ir embora apreseta-se como David Bacon e lhe dá um cartão, dizendo que faz parte de um grupo de pessoas que estudam aquele tipo de coisa e que ela seria bem vinda.
A doutora fica intrigada com aquela aparição (que diga-se de passagem é uma "bela" aparição), principalmente pelo sobrenome "Bacon", o mesmo de uma das personalidades que são objeto de sua fascinação.
Apesar dos apesares, ela nada faz a respeito e sua preocupação volta-se para alguns acontecimentos no trabalho. Maya e sua equipe, em seus experimentos, acabam descobrindo que uma determinada planta possui propriedades curativas que poderiam ser utilizadas em queimaduras e, indo mais longe, até mesmo no processo de cura do câncer.
Aparentemente as duas histórias, a de David Bacon e a do laboratório, nada possuem em comum. Porém, acontecimentos estranhos no trabalho e alguns encontros posteriores com o homem misterioso vão ligando-se aos poucos, mostrando a Maya que aquele laboratório esconde segredos que ela jamais pensou que existisse e pior: quando percebe já está mais do que envolvida.
David e ela possuem um laço extremamente forte, que vai além de um romance comum. A ligação entre eles é realmente importante para a história e há uma explicação, de fato, do porque sentem-se atraídos um pelo outro, o que achei uma bela sacada da autora.
A trama envolve bastante mistério, ação, curiosidades históricas e muito sobre a sociedade secreta do vril, que teria sido (pasmem como eu!) um dos grandes pilares do nazismo (link para um documentário maneiro do Discovery Chanel no fim da resenha).
A história é muito bem amarrada e apesar do livro fazer parte de uma trilogia, ele nada deixa devendo ao leitor, a não ser pequenas pontas que servirão de gancho para o próximo livro da série. A problemática menor, proposta para esse primeiro livro é resolvida dentro do primeiro livro.
Foi muito interessante acompanhar a evolução do relacionamento de David e Maya. Senti nesse romance, apesar de abrupto demais, afinal eles pouco tempo tiveram para se conhecerem, um toque racional que eu sinto falta em muitos dos romances dos livros atuais. Eles se gostam, buscam a segurança um do outro, porém não é aquela paixão desvairada e sem sentido, as mentes deles ainda estão no lugar e Maya até mesmo se permite analisar David com desconfiança. Creio que seja por ambos os personagens serem adultos e maduros.
Mas mesmo gostando do casal, meu personagem masculino favorito sempre será o Armando, amigo de David. Isso porque o David é muito "perfeitinho", apesar da onda de mistério que o envolve e de ser perceptível que ele esconde algumas coisas. Ele é bonito, rico, gentil, luta, e rico de novo, e etc, etc, etc. E isso o tornou um personagem menos real para mim. Armando já é mais cômico, os defeitos dele são mais perceptíveis e por isso consegui visualizá-lo melhor, como uma pessoa comum.
Engana-se aquele que pensa que encontrará apenas acontecimentos baseados em fatos palpáveis. A sociedade secreta do Vril possuiu um "quê" no ocultismo, e isso leva a história para um nível menos "carnal", se posso dizer assim, com não um pé, mas quase um dedinho mindinho na fantasia. Ler ou não ler, chamou isso de uma mistura de Dan Brown com Tomb Raider (e eu morri de rir, claro, porque faz muito sentido).
Apesar das comparações, de alguns resenhistas, da autora com Dan Brown, a meu ver, a única semelhança entre os dois está no falar de sociedades secretas. Tanto a narrativa, quanto a história, são desenvolvidos de forma bem diferente.
Dan Brown tem uma maneira mais didática de passar o conteúdo, até porque seu famoso personagem, Robert Langdon, é um professor. Em O sol negro, esse conteúdo é mais "despejado" sobre o leitor, em grande quantidade, normalmente durante os diálogos, mas sem muito do dinamismo que os diálogos deveriam dar. Muitas vezes, durante a leitura, a quantia de informações falada ininterruptamente por um personagem era tanta que não parecia uma fala, mas um livro de história, o que não chega a ser ruim, mas para leitores que não estão acostumados com leituras mais técnicas podem ficar entediado. Por isso é importante ressaltar que o leitor deve realmente se interessar por esse tema. Essa é minha única ressalva.
Quanto a diagramação, o livro é bem feito, o tamanho e o espaçamento sãom muito bons e a folha é em papel pólen, aquele que é o melhor para a leitura. Porém, não gostei dos diálogos serem transcritos entre "aspas" e itálico. Sei que é comum o não uso de travessões, principalmente em livros não brasileiros, mas foi o itálico que me fez enroscar na leitura. Em um livro cheio de informações, onde a maioria delas são passadas através de diálogos, imagine ter que ler páginas inteiras seguidas em itálico. Não é algo que comprometa a história, mas eu ficaria profundamente agradecida se no próximo livro o itálico não existir.
Resumindo, O Sol negro é uma excelente leitura nacional, em um tema pouco explorado aqui nas terras tupiniquins, porém quem o ler deve estar ciente e preparado para a quantidade de informações que irá receber.
Ah, e antes que eu me esqueça, se prepara para o final. Ainda estou chocada com ele ;)
Documentário: http://www.youtube.com/watch?v=rni8y4PXWwA