Zeka.Sixx 12/05/2020
Aqueles que se deram bem - ou nem tanto
O romance aborda um período de cerca de dez dias na vida de Matías Vicuña, um jovem chileno de 17 anos, de família abastada, durante o mês de setembro de 1980, às vésperas da votação do referendo que levou à aprovação de uma nova Constituição para o país, elaborada sob medida para que os setores mais conservadores da sociedade pudessem se manter no poder, mesmo depois do fim da ditadura.
O livro começa com o protagonista vivendo o último dia de uma viagem de férias escolares ao Rio de Janeiro, regada a muita bebida, drogas, sexo e música. Ao retornar ao Chile, Matías entra em uma espécie de ressaca espiritual, uma preguiça de tudo e todos, ao ir aos poucos percebendo a futilidade de seus colegas de escola, das garotas com quem ficou ou com quem queria ficar, da falsa moralidade de sua família, do conformismo de seu país com a situação que estava vivendo.
Encurralado, embarca em uma viagem regada a drogas e rock 'n' roll - da melhor e pior qualidade, em ambos os casos - pela noite de Santiago, enquanto tenta encontrar algo, qualquer coisa, que dê um novo sentido à sua vida.
A originalidade do romance está em, de certa forma, fazer o oposto de outros livros que se passam em épocas de ditaduras. Ao invés de narrar a situação daqueles que foram prejudicados/perseguidos pela ditadura, como geralmente ocorre, narra o lado de quem "se deu bem", de quem ascendeu socialmente durante o regime de Pinochet, como a família do protagonista - ainda que, ao longo das páginas, o próprio Matías vá amadurecendo e criando consciência das claras consequências que a alienação da parcela mais rica da população trouxe ao seu país.
Lançado originalmente em 1991, e recheado de niilismo e citações à cultura pop, é um verdadeiro clássico da literatura latino-americana, que remete a outras obras-primas do gênero, como "O Apanhador no Campo de Centeio", de J.D. Salinger, e "Tanto Faz", de Reinaldo Moraes. Já entrou, merecidamente, para a minha galeria de favoritos.