Ca Melo 25/06/2018Sobre um livro... preciso!Como este mês eu vinha fazendo várias leituras para a faculdade (isso não é novidade, eu sei, rs) optei por escolher este livro como companhia no meu final de semana e foi uma escolha bem acertada. Eu tinha uma ideia um tanto equivocada em relação ao livro, por não ir na opacidade que o título apresenta, fiquei imaginando algo mais ligado à tecnologia, por ter a menção de um robô na história.
Muito pelo contrário, a analogia é explicada nas primeiras páginas:
"Ah! – gritou minha mãe – Você não tem coração (…) Você não é uma menina – falou. – É um robô!" (p. 12)
Narrado em primeira pessoa, conhecemos Beatrice ou Bea, a Garota Robô. Prestes a cursar o terceiro e último ano do ensino médio, a história conta sobre esse período, numa escola totalmente nova já que a família está mudando para Baltimore. Mas isso não é novidade, por conta do trabalho do pai de Bea, que é professor universitário de prestígio, a família tem o hábito de não criar raízes em um lugar por muito tempo.
"Enquanto isso, lá estava minha mãe, ainda agachada em sua piscina de lágrimas com cheiro de violetas. Porque está tão chateada?, fiquei imaginando. Não podia ser pelo ratinho. Ela vinha chorado muito, mesmo antes de nós o encontrarmos. Tinha de ser a Mudança. Mas nós já havíamos nos mudado um milhão de vezes – parecia um milhão de vezes, de qualquer maneira – e isso nunca parecia tê-la incomodado antes. Era eu que odiava me mudar, até finalmente me acostumar. Aprendi a não ficar muito presa a nada. Parei de pensar nas casas em que nós morávamos como a minha casa, ou na rua em que morávamos como a nossa rua. Ou nos meus amigos como meus amigos. Não que eu tivesse tantos." (p. 13)
Bea mostra que não permanecer num mesmo lugar por muito tempo colaborou para a sua solidão, e ainda mais com a mudança de comportamento da mãe que começa a fazer coisas estranhas, como se maquiar no meio da noite, chorar o tempo todo e inventar uma doença nova a cada dia. Apesar da relação amistosa com o pai, o mesmo era ausente e negligenciava a filha e a esposa, muitas vezes transferindo a responsabilidade da esposa para a filha numa inversão de papeis da função pai e filhos. Mas a protagonista também tem seus momentos de crise, sofrendo de insônia, busca alguma forma de preenchimento durante as madrugadas sozinha no quarto.
"Jamais contei a ninguém sobre esse hábito noturno. Tinha certeza de que meus pais me mandariam a um psicólogo se soubessem, e o psicólogo iria me internar ou me drogar ou me dar choques ou pelo menos me fazer vistá-lo cinco dias por semana. Eles não entenderiam que eu não queria morrer. Só achava reconfortante pensar na morte." (p. 19)
Um dos pontos muito interessantes que a protagonista relembra antes de sua mãe ficar “maluca” era do tempo em que as duas passavam assistindo filmes, e ainda mais, se fantasiando para reproduzir alguma cena. Por isso, há várias citações de filmes que merecem destaque 😉
Numa escola em que todos se conhecem desde sempre e já tem os seus “lugares fixos” Bea entra mais do que deslocada. A garota passa a ter contato com o colega Jonah, que chamam de fantasma, justamente por não se envolver com ninguém e criar laços de amizade. Ele é considerado o estranho da turma e fazem várias suposições por conta da sua aparência física e do acidente que matou sua mãe e irmão gêmeo quando ainda era criança.
Com isso, a atmosfera do livro se torna por muitas vezes melancólica, com raros momentos de alívio cômico. A impressão é que tem algo de muito errado com a Bea, sua mãe e seu amigo, se é que se pode chamá-lo, Jonah. Fugindo dos clichês, a autora optou por desenvolver o relacionamento dos jovens diferente do típico romance adolescente, não, a relação é ao mesmo tempo que profunda, distante. Na verdade achei o relacionamento dos dois muito bizarro em vários momentos, porque Jonah é complicado e senti que muitas vezes ele usava e manipulava Bea a fazer as suas vontades, e ela se frustrava esperando a mesma consideração que ela tinha por ele. Pensando melhor, acredito que esse seria um livro que seria legal ter os dois pontos de vista dos personagens principais para saber exatamente o que se passava na cabeça do garoto.
Resenha completa no blog ;)
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https://abookaholicgirl.wordpress.com/2018/05/28/resenha-como-dizer-adeus-em-robo-por-natalie-standiford/