Holocaustos coloniais

Holocaustos coloniais Mike Davis




Resenhas - Holocaustos coloniais


5 encontrados | exibindo 1 a 5


Wendel.Lopes 01/04/2024

Uma obra excelente, mas não é uma leitura para todos
Uma obra excepcional em relacionar os efeitos climáticos do ENSO aos efeitos destrutivos do imperialismo e do livre mercado, literalmente construindo o 3 mundo que conhecemos.

O livro cita profundamente os ocorridos entre 1850 e 1900 na Índia, China, partr da África e nordeste brasileiro.

O livro é extremamente denso, com muitas informações bem baseadas e com muitas referências (Somente as notas são mais de 25% do livro inteiro!).

Uma leitura importante para historiadores, geógrafos e economistas.

Porém, quem busca uma leitura mais casual, não acadêmica, o livro se torna maçante justamente pelo excesso de informações muito detalhadas.

Outro ponto que afasta os leitores casuais é a ausência de um capítulo final mais expositivo e didático.
comentários(0)comente



Bruna.Torres 21/03/2023

O inferno é aqui!
Nunca vi uma obra distopica tratar o mundo de uma maneira pior que o que ele realmente foi e que continua sendo. O nazismo (cria do liberalismo) nao chega nem perto de um fio de cabelo do que as nações colonizadas sofreram com o imperialismo. Só lendo para se ter uma noção da catástrofe criada pelos parasitas colonialistas no terceiro mundo...
comentários(0)comente



GuisoloGui 20/04/2022

Barbárie e desastre ecológico
Uma combinação perfeita entre História, Geografia e Ecologia.

"A Europa estava se barbarizando com sua cumplicidade em holocaustos coloniais secretos."
comentários(0)comente



Daniel432 19/07/2012

"Livre Mercado" Desumano
O autor procura demonstrar que as épicas secas ocorridas em fins do século XIX e início do século XX, na Índia, China, Brasil e África, foram ocasionadas pelo ocorrência de fenômenos naturais (El Niño e La Niña). Ele dedica dois grandes capítulos do livro para explicar detalhada e técnicamente o funcionamento destes fenômenos, uma maravilha para geógrafos mas entendiante e de díficil entendimento para leigos, como eu.

Por outro lado, ele também procura demonstrar que o Império Britânico, nesta mesma época, procurava expandir sua influência no mundo através do "livre mercado". Esta expansão, muitas vezes, não foi pacífica e as canhoneiras eram um fator de forte convencimento.

A conjunção destes dois fatores resultou na morte, pela fome, de milhões de pessoas. Se considerarmos somente as condições climáticas adversas, as mortes realmente seriam muitas (milhares, talvez, alguns milhões) mas o decisivo apoio do "livre mercado" fez com que as mortes multiplicassem para muitos milhões, mas o "livre mercado" não se importava com estas mortes, afinal, os que morriam eram pobres e incapazes de gerarem lucros para o sistema. Melhor que morressem!!

Esta é uma visão que, do meu ponto de vista, ainda perdura. A política liberal de hoje não mudou praticamente nada. A "mão invisível" do mercado, tida como capaz de controlar eficientemente a economia, não se importava e não se importa com as consequências de seus atos, importava e ainda importa-se com o lucro advindo destes atos. Afinal de contas, não é isso que está ocorrendo atualmente em países como Grécia e Espanha??!!

Para concluir, uma crítica ao autor. Ele encerra o livro sem fazer uma conclusão. Apesar de ficar claro seu posicionamento ao longo de todo livro, acho que seria didático ele expôr direta e resumidamente suas conclusões.

comentários(0)comente



Antonio Luiz 23/03/2010

Em 1877, ao deixar a Casa Branca, o general Ulysses Grant estava desacreditado pela corrupção do partido Republicano e de seus auxiliares mais imediatos. Ainda sonhando em voltar à presidência para um terceiro mandato, tentou uma viagem de relações públicas junto com a esposa e o filho adolescente, para mostrar-se como um estadista mundialmente respeitado.

Não foi dessa vez que os norte-americanos ganharam o respeito dos aristocratas do velho mundo. O general disse aos nobres de Veneza que aquela “seria uma boa cidade, se a drenassem”. No banquete em Buckingham, a rainha Vitória, já constrangida com um acesso de raiva do jovem Jesse Grant, alegou ter “fatigantes obrigações” para despedir-se dos Grant. Dona Julia Grant respondeu: “sim, imagino: também sou casada com um grande rei”.

O seriado cômico estrelado pelos Grant estava, porém, destinado a transformar-se no relato de uma tragédia de proporções inimagináveis. Assim que os viajantes deixaram a Europa, o pano de fundo dessa volta ao mundo passou a ser a seca, a fome e a miséria.

No Egito, na Índia e na China, esqueletos ambulantes mal cobertos de pele assombravam os pesadelos da comitiva. As matérias que jornalistas que a acompanhavam remetiam aos leitores nos EUA alternavam os relatos da gigantesca calamidade com as histórias de jantares estupendos e das homenagens principescas prestadas ao ex-presidente.

Se a excursão de Grant tivesse passado pelo Brasil, teria encontrado o mesmo quadro no sertão nordestino: segundo Herbert Smith, jornalista inglês que percorria o Brasil àquela época, “durante 1877 e 1878, a mortandade no Ceará foi provavelmente perto de 500 mil, ou mais da metade da população”.

Vinte anos depois, o desastre se repetiu nos mesmos cenários, com um número semelhante de vítimas. As duas terríveis secas mundiais mataram cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo – o dobro das vítimas da Peste Negra na Idade Média. Sua história e interpretação é o tema central de "Holocaustos Coloniais: Clima, fome e imperialismo na formação do Terceiro Mundo".

O historiador social Mike Davis, já conhecido por seus trabalhos sobre Los Angeles e a urbanização norte-americana, assinala como o imperialismo ocidental, agravou as conseqüências dos desastres climáticos. Isso enfraqueceu ou destruiu as sociedades nativas da África, Ásia e América Latina e criou condições para realimentar sua própria expansão e completar a anexação do planeta – originando o que hoje é chamado de Terceiro Mundo.

Uma parte da explicação reside na análise dos mecanismos climáticos associados ao famoso El Niño, o aquecimento anormal da fria corrente marítima ao largo da costa peruana na época do Natal. Mas esse fenômeno irregular havia ocorrido muitas vezes nos séculos anteriores, com conseqüências menos dramáticas. Suas eclosões em 1876-79 e 1896-1902 foram tão terríveis por terem sido as primeiras a ocorrer num mundo unificado pelo imperialismo governado pelos mercados.

Outrora, rajás e mandarins haviam amenizado os anos de vacas magras proibindo exportações, baixando impostos, distribuindo grãos de graça e punindo a especulação com estoques. Sabiam que no longo prazo, sua prosperidade – e mesmo suas cabeças – dependeriam da sobrevivência de seu povo.

Os dois mil anos de registros históricos da Índia pré-colonial mencionavam 17 fomes sérias; mas os primeiros 120 anos de governo colonial britânico geraram, até 1877, 31 episódios semelhantes. Para os vice-reis da Índia vitoriana, interferir no livre funcionamento do mercado era o maior erro que um governo poderia cometer.

Durante a seca de 1873-74, sir Richard Temple, governador de Bengala, conseguira evitar a maioria das mortes em sua província com arroz importado e pagando aos súditos salários suficientes para comprá-lo, através de obras públicas. Sua carreira quase foi arruinada. A edição de julho de 1874 da revista "The Economist" o censurou por encorajar indianos preguiçosos a acreditar que “é obrigação do Governo mantê-los vivos”. A campanha de socorro foi denunciada por seus colegas como “puro fourierismo” (socialismo utópico).

Em 1877, Temple, agora Delegado Plenipotenciário da Fome, queria redimir-se da reputação de extravagância: proibiu as doações privadas que pudessem interferir com os preços dos grãos fixados pelo mercado, enquanto fornecia uma alimentação mais pobre que a do campo de extermínio de Buchenwald em troca do trabalho pesado que exigia dos indianos “assistidos” por seu governo.

A maioria deles, obviamente, morreu de fome, mas Temple passou a gozar das boas graças do vice-rei e da rainha Vitória como o homem mais adequado que poderia ter sido encontrado para poupar dinheiro no gerenciamento da fome. Que seria usado na tentativa de conquistar o Afeganistão – um dos mais humilhantes fiascos do imperialismo britânico.

As novas tecnologias não compensaram o abandono das políticas tradicionais. Os telégrafos, em vez de transmitir os desesperados pedidos de socorro, ajudavam a alta dos preços a se propagar com maior rapidez. Ferrovias e navios a vapor não serviam para transportar alimentos para os famintos e sim para quem podia pagar: enquanto milhões de indianos morriam de fome, a Índia abastecia os celeiros da Inglaterra.

De 1875 a 1900, os anos que marcaram as duas piores fomes da história indiana, suas exportações anuais de grãos cresceram de 3 milhões para 10 milhões de toneladas. O suficiente para alimentar 25 milhões de pessoas e evitar as mortes pela fome de 1896-1902 não só na Índia como em todo o mundo.

A causa das fomes coletivas não é a falta de alimentos – ao contrário do que pregam os vendedores de fertilizantes, pesticidas e sementes transgênicas. Nem a superpopulação: Winston Churchill atribuiu a última grande fome da Índia – que matou 3 milhões em Bengala, 1943 – à tendência dos nativos de se reproduzir “como coelhos”, mas depois da independência as fomes não voltaram a se repetir, embora a população tenha triplicado desde então.

Como havia mostrado o estudo que em 1998 deu a Amartya Sen o prêmio Nobel de Economia, o problema é a falta de acesso aos alimentos disponíveis. Nas grandes secas do final do século XIX, foi a combinação do desemprego agrícola resultante da seca com a destruição dos mecanismos tradicionais de solidariedade e administração da escassez.

"Holocaustos Coloniais" lança uma nova luz sobre aspectos pouco estudados da história do mundo e do Brasil, revelando inesperadas conexões entre Canudos e Pequim. Na grande seca de 1896-1902, a liderança carismática de Antonio Conselheiro mobilizou milhares de flagelados na tentativa de criar um mundo novo enquanto, na China, a sociedade dos Punhos da Justa Harmonia – os temíveis boxers, que combinando místicas crenças taoístas com um rigoroso treinamento em kung fu, lutaram por uma sociedade purificada e igualitária e lideraram uma enorme rebelião contra os estrangeiros. Duas revoltas com objetivos semelhantes, movidas pelas mesmas causas econômicas e naturais, com o mesmo fervor místico e reprimidas pela mesma violência impiedosa.
cid 12/01/2019minha estante
Tanto para pensar, principalmente o parágrafo sobre as causas das fomes coletivas...Muito bom


Bárbara Tavares 18/08/2019minha estante
Depois de ter lido suas palavras de mestre vou começar a ler agora! Neste exato momento! Temos que levar o conhecimento aos próximos sair desse estado de escravo e ser cocriador da nossa própria realidade. A física quântica explica isso.


ZePPa 25/07/2020minha estante
Me arruma esse livro aí




5 encontrados | exibindo 1 a 5