Scappa 09/03/2024
Verdades doloridas, escrita também
Esta obra surge a partir de uma investigação jornalística realizada previamente pela autora, que decide organiza-la neste novo formato.
Responsável por trazer as atrocidades realizadas no Colônia ao conhecimento do público, o livro mostra de forma crua os crimes realizados dentro das paredes do que deveria ser um hospital, atuando na realidade como um campo de extermínio. As descrições são vívidas, sem nenhuma tentativa de esconder os horrores ali presentes - descrições que são muito bem complementadas com as imagens presentes por todo o livro, todas elas mostrando excelência em fotojornalismo.
Porém enquanto os fatos ali apresentados são impressionantes e graves, a escrita infelizmente não está no mesmo nível. Senti uma tentativa em deixar os fatos mais chocantes, sendo que uma descrição objetiva já seria marcante o suficiente. Percebi o uso de alguns eufemismos, algumas hipérboles que talvez não fossem necessárias, tornando o tom da narração dramático demais, sendo que os fatos por si só já são dramáticos e impactantes o suficiente
Também senti falta de uma organização diferente. Acredito que um capítulo trazendo a história cronológica da instituição, desde sua criação até os dias de hoje, de uma maneira mais detalhada mas contínua, seria de muita ajuda no início do livro. Os diversos capítulos e as diversas histórias retratadas ficam soltas entre si, não não há um vínculo temporal que as ligue e que possamos entender quem conviveu com quem, em qual momento da instituição essas pessoas estavam lá. Isso fica ainda mais presente nos capítulos finais, ao discutir sobre as pessoas importantes para a dissolução do manicômio.
Se pudesse resumir meu problema em relação a este livro, é que ficou em cima do muro entre a literatura e o jornalismo, não consegui do se encontrar. Jornalístico demais para ser literário, literário demais para ser jornalístico.