Sheyla 15/01/2016
VOVÓ VIGARISTA
A resenha de hoje é dedicada a todos que, assim como eu, não se importam com o gênero ou a classificação etária de um livro. Se ele é infantil, infantojuvenil ou adulto não importa. O livro tem de ser bom e, se por algum motivo você nem sonha em ler um livro infantil, preste atenção nessa dica.
David Walliams ganhou meu coração desde que conheci o livro "Ratoburguer" publicado pela editora Novo Século, comprei o livro com o intuito de presentear o meu sobrinho e incentivar ele a começar a ler livros mais grossinhos. Desde então venho adquirindo todos os livros publicados pelo autor no Brasil. Os livros de David são recomendados ao público infantil e infantojuvenil, mas nada impede que um adulto venha se apaixonar por sua narrativa. Além de bem humoradas, suas histórias são normalmente comoventes.
O título já nos dá uma prévia de que a tal vovó é uma trambiqueira nata, uma vigarista. Não se assustem! O autor não pretende corromper as crianças apresentando-lhes uma história sórdida. Na verdade, David já conquista e chama a atenção do leitor desde o primeiro momento com o título.
Ben é um menino de apenas 11 anos que odeia as sextas-feiras, isso porque ele odeia ter que passar a noite na companhia de sua vó paterna que, até o momento ele ainda não conhece como uma vigarista. A avó de Ben tem um gosto muito peculiar, ou seria estranho: ela adora sopa de repolho, bolo de repolho, chocolate de repolho, ou seja, ela é louca por repolho. Se não bastasse o fato de transformar todas suas receitas cujo repolho é o ingrediente principal, Ben tem de suportar a flatulência da avó causada pelo excesso de repolho. Flatulência ou seja, ela solta "Pum", muitos pum's (obs: parte da leitura extremamente engraçada).
A avó de Ben é a figura emblemática da vovozinha frágil, que não costuma sair de casa e que faz tudo para agradar o netinho. Porém, Ben é um menino muito mal humorado e impaciente com avó. O motivo de tamanho mau humor é que Ben é praticamente despachado para a casa da avó nas sextas à noite, isso porque os pais de Ben são apaixonados por um programa de dança na tv.
A paixão de sua mãe pelo programa é tão insana que ela deseja que Ben se torne um dançarino profissional, mas isso está longe dos planos de Ben que na verdade é apaixonado por encanamentos. O menino coleciona revista de encanamentos e não se imagina fazendo outra coisa da vida a não ser consertando tubulações. Mas o desejo de Ben não é bem aceito por seus pais. Resumindo, Ben não tem escolha nem direito de gostar daquilo que lhe dá prazer. O que lhe resta é passar o tempo em que seus pais se ausentam com sua avó.
O convívio entre Ben e avó é bem difícil no começo, mas as coisas começam a fluir depois que Ben descobre uma lata antiga com joias preciosas escondidas na casa da avó. A partir daí, surge o interesse de saber de onde surgiram tais joias. Até o momento não existe nada que desabone a conduta de sua avó até que Ben surpreende sua vó roubando uma joalheria. What’s? De vovó chata e peidorreira para vovó vigarista em poucos segundos!
A avó de Ben passa a ser uma incógnita. Seria ela uma ladra de joias preciosas? Como uma velhinha poderia se passar por uma ladra sem que ninguém notasse? Ben tem muitas perguntas a fazer a avó que irá lhe surpreender ainda mais com histórias cheias de aventuras. O grande barato é perceber o quanto o autor vai inserindo a sua marca ao longo da narrativa. Lições de respeito ao próximo e, principalmente aos idosos que são ignorados por netos, filhos e parentela.
É emocionante a maneira como David constrói a relação de Ben com a avó. É possível que você deixe algumas lágrimas correrem durante a leitura de algumas passagens, mas uma coisa é certa: não há como não se emocionar com a história de Ben e sua vó vigarista. Não estranhe se de repente você abandonar a leitura para ir correndo ao encontro de um abraço de sua avó ou avô, seja ele vigarista ou não.
Ilustrado por Tony Ross, Vovó Vigarista possui belíssimas ilustrações e capítulos curtos que tornam a leitura ainda mais prazerosa. Como não se apaixonar por uma vó como esta e não desejar ter uma igualzinha?
É a típica leitura que tende a transformar alguém ou pelo menos modificá-la de alguma maneira. É um alerta a pais e adultos. É uma mensagem clara e objetiva de como adultos devem tratar os idosos, e consequentemente uma lição para as crianças que precisam aprender a respeitá-los. De todos os livros de David esse é sem sombra de dúvidas o mais emocionante. Numa sociedade cada vez mais preocupada com a aparência, imediatista e individualista uma leitura como esta é indispensável.
Essa obra é cheia de lições de vida. Você percebe que os adultos maduros tem uma bagagem de histórias e que eles não devem ser rechaçados como velhos gagas. Deem atenção aos seus avôs e avós e se deliciem com suas aventuras. O livro e infantil, mas carregado de um humor irresistível a qualquer leitor, independente da idade. A leitura flui de uma maneira surpreendente que quando você se dá conta já acabou o livro. Dá para ler em um dia só.
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