No Coração do Mar

No Coração do Mar Charlotte Rogan




Resenhas - No Coração do Mar


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Marina 26/08/2013

"Mas é preciso admitir que apenas em circunstâncias desafiadoras, de isolamento, nossa verdadeira natureza se revela."
Um navio naufraga. Há botes salva-vidas, e Grace, nossa protagonista, está a bordo de um deles com outras trinta e oito pessoas. Sabemos que ela sobreviveu, como mostra uma cena logo no início do livro. No entanto, ela se prepara para ser julgada, então deduzimos que algo ruim aconteceu neste tempo em que ela esteve no bote. A premissa não é nova - pessoas presas levadas a situações limite - mas acho esse tema fantástico de ser trabalhado. Para quem também se interessa por um gênero similar, recomendo Sob a Redoma (Stephen King) e O Senhor das Moscas (William Golding).

Pra que o advogado possa entender melhor o que aconteceu e preparar a defesa de Grace, ele pede que ela escreva uma espécie de diário, relatando tudo o que aconteceu desde o momento em que o navio naufragou. Logo no começo do relato, percebemos que o clima fica tenso quando os sobreviventes ignoram um pedido de socorro de uma criança na água a fim de garantir a própria segurança do grupo, cujo bote estava no limite de peso (não se preocupem, isso não é um spoiler, acontece bem no início). Rapidamente também, vimos que algumas pessoas são tachadas como "boas" e outras como "más", e um clima de rivalidade pelo poder se instala nesse microcosmo.

Grace é uma personagem que geralmente fica em cima do muro, procurando não se envolver nos conflitos. Essa posição neutra dela acaba por deixar a visão dos acontecimentos um pouco fria e distante. Consequentemente o leitor não consegue se envolver muito, por isso o livro fica parecendo meio raso. A questão do relato ser em forma do diário de Grace é uma faca de dois gumes. Por um lado vemos aí uma ambiguidade em relação à personagem, afinal de contas, seu relato não é imparcial. Então não podemos afirmar com certeza se ela era boa ou má, se foi tendenciosa ou não quando falava das atitudes de terceiros. Será, por exemplo, que esse distanciamento do relato não foi proposital para omitir uma natureza mais negativa (ela passa essa impressão em alguns momentos)? Mas por outro lado, a narrativa perdeu muito do que poderia ser uma estória carregada de emoção. Muitos acontecimentos polêmicos que poderiam gerar muitos debates e questionamentos sobre a ética e a moral passam meio batidos (como o caso da criança, citado acima).

Por fim, vários dias nem sequer aparecem no relato, com a justificativa de que Grace não se lembrava deles, pois já estava com saúde debilitada. Um argumento crível (olhando para a personagem ela poderia inclusive estar mentindo sobre isso), mas também uma saída fácil para a escritora, que não se aprofundou no enredo, e o resultado é uma leitura extremamente rápida (quem já tem o hábito de ler com frequência acaba em 1 ou 2 dias, no máximo) e superficial.
Sabe-se que já vai sair um filme baseado no livro. Aguardo, então, com ansiedade. Acredito que o filme pode suprir a carga de drama que faltou no livro de Charlotte Rogan.

site: http://coolt.blog.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=2627:no-coracao-do-mar-critica&catid=3:literatura&Itemid=4
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