Enquanto agonizo

Enquanto agonizo William Faulkner




Resenhas - Enquanto Agonizo


96 encontrados | exibindo 46 a 61
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7


mari 29/12/2020

Um fenômeno, mas...
É inegável a genialidade de Faulkner ao apresentar em "Enquanto Agonizo" uma técnica de fluxo de consciência muito bem detalhada e construída. Confesso que é justamente essa técnica, que transforma a obra em algo tão singular, a responsável pela dificuldade que me acompanhou durante o período de leitura.
O fluxo de personagens é intenso e os acontecimentos, assim como na vida real, não param de ocorrer. Acompanhar os Bundren em sua jornada para enterrar a matriarca, Addie, em sua cidade natal é extremamente cansativa. E é dela um dos capítulos mais incríveis do livro, cuja frase mais famosa é replicada até hoje: "Eu só me lembrava, então, de como meu pai costumava dizer que a verdadeira razão de se viver era preparar-se para ficar morto durante muito tempo".
Acompanhar as agonias particulares de cada um dos personagens foi uma aventura, e, embora minhas expectativas estivessem muito altas acerca desse livro, fica registrado aqui o meu primeiro contato com o autor.
comentários(0)comente



Luigi.Schinzari 07/10/2020

Sobre Enquanto Agonizo de Faulkner
A escrita de Faulkner é um trabalho exigente. Um dos maiores expoentes do método do fluxo de consciência, William Faulkner (1897-1962) foi refinando ao longo de sua carreira sua linguagem que migrava entre narradores ao longo de um único livro. Em O Som e a Fúria (1929), sua obra-prima, encontramo-nos sendo guiados por longos capítulos narrados por algum irmão da família do sul dos Estados Unidos, os Compson (com exceção do último capítulo em que o autor utiliza uma narrativa em terceira pessoa mais tradicional). Um dos mais belos e desafiadores livros da literatura norte-americana, a obra-prima de Faulkner pode não ser um bom livro de entrada ao estilo narrativo do autor laureado com um Prêmio Nobel em 1947 por conta do esforço dispendido em pegar as sutilezas e concatenar os pensamentos desconexos, inicialmente, apresentados pelos problemáticos irmãos Compson. Enquanto Agonizo (1930), obra não menos brilhante de William Faulkner, com capítulos muito mais curtos e uma gama maior de narradores, mostra-se uma perfeita escolha ao leitor exigente mas ainda com receio de encarar O Som e a Fúria.

Sua história concentra-se na tragédia da família Bundren, em que a mãe, Addie, falece logo no começo do livro e incumbe a família desde os tempos de sua doença de lhe enterrar em sua afastada terra natal. Este pano de fundo acoberta intrigas e problemas familiares que sutilmente e com muita maestria vão sendo explorados pela narrativa curta -- os capítulos têm em média quatro páginas -- e pelos pensamentos confusos, como qualquer raciocínio humano caso fosse transcrito ipsis literis, dos vários narradores que nos contam o que se passa do seu ponto de vista; e esta é a principal qualidade de Faulkner: forma-se um quebra-cabeça em que devemos ir juntando, com pequenas informações que nos são dadas, o complexo caso contado desde o início da obra.

Diferentemente de O Som e a Fúria, em Enquanto Agonizo temos uma linha temporal sendo seguida com poucas intervenções em sua estrutura além dos pensamentos desconexos e, por vezes, confusos das personagens -- principalmente daquelas com algum claro quadro psiquiátrico ou com algum tema delicado a tratar: traições, gravidez indesejada, remorso e luto são o recheio da história da família Bundren.

A maestria de Faulkner em dar uma voz própria a cada personagem -- e consequentemente narrador -- imerge o leitor, incialmente confuso por se encontrar no meio de uma situação e de um núcleo desconhecido para ele, rapidamente na vida e nos conflitos ali existentes. Os trejeitos e maneirismos são tão nítidos que o nome de cada um estampado no começo de suas narrações torna-se apenas um apetrecho ao longo da leitura. Basta lermos as primeiras linhas que já identificamos de pronto: este, concentrado e aparentemente o único verdadeiramente lúcido, é o Cash!; aqui, com seu modo impetuoso e distinto, é o Jewel!; este, com seu jeito lúdico e limitado, é Vardaman, e por aí vai.

Enquanto Agonizo -- no original As I Lay Dying --, título extraído de um trecho da Odisseia de Homero, onde Agamenon diz a Odisseu: Enquanto agonizo, a mulher com os olhos de cão não fecha meus olhos enquanto eu desço ao Hades, reflete, em uma percepção inicial, o sentimento do cadáver de Addie, a mãe da família Bundren: seu corpo, dentro do caixão construído pelo filho carpinteiro Cash a seu próprio pedido e com sua inspeção rígida pré-falecimento, não descansa nem mesmo após as penitências da morte lenta e sofrida; são diversas as adversidades encontradas pelos filhos e pelo marido ao transportar seu corpo, como castigos enviados diretamente por Deus: fogo, água, terra, o próprio homem e os maus sentimentos; há uma entidade que não a deixa descansar, e, consequentemente, atormenta, distante daquela realidade, a família Bundren inteira -- e por comiseração àquela família eternamente sofrida o leitor acaba sofrendo por igual, angustiado durante toda a leitura por conta da sucessão de tragédias que os acometem.

Um bom romance deve ser desafiador -- não é possível ter uma verdadeira experiência com um grande clássico sem o absorver tanto quanto ele absorve suas energias e sua compreensão -- e sem dúvidas Enquanto Agonizo é um dos grandes detentores deste título dentro da literatura norte-americana. Deve-se se atentar a cada palavra posta, pois nenhuma foi escrita por Faulkner de modo fortuito; mas isso nunca será um demérito. Muito pelo contrário! O esforço do leitor é traço fulcral para a boa literatura; enquanto o autor quebra sua cabeça para desenvolver um romance com camadas diversas e personagens, tramas e reflexões múltiplas, o mínimo que se exige é a atenção do leitor: e como este será recompensado com uma leitura tão prazerosa e enriquecedora como a de Enquanto Agonizo. Faulkner é completo em sua escrita e a complexidade para adentrar sua obra é um desafio ao leitor faminto e sem preguiça. Não à toa Enquanto Agonizo e tantos outros romances com seu grau de complexidade estão no cânone ocidental enquanto suas contrapartes mais facilmente absorvidas acabam sendo relegadas ao rápido sucesso comercial e logo migram para o ostracismo; ao passo que um clássico jamais deixará os debates e as prateleiras desguarnecidas.
comentários(0)comente



Trícia 20/09/2020

Todos em agonia
Que livro incrível! A mudança dos narradores entre os personagens mostra a as angústias e tormentos de cada um muito além do evento principal que os une. E a agonia também é do leitor em seguir todos em sofrimentos particulares.
comentários(0)comente



arthur966 23/08/2020

"eu só lembrava como meu pai costumava dizer que a razão para viver era se preparar para estar morto durante muito tempo."
cacete. não sei nem o que dizer desse livro. li o capítulo da addie duas vezes porque fiquei sem palavras pra ele. amo muito o vardaman e o darl e a dewey dell. e anse seu porco nojento morra.
comentários(0)comente



Ygor Gouvêa 20/06/2020

O Primor do Fluxo Polifônico
O livro é divido em pequenos capítulos, cada um narrado por um personagem, mas não de uma forma convencional. Por vezes eles parecem lembranças, uma historia sendo recontada, até que seu narrador se imiscui no presente de seu relato, pulsos de memórias, de pensamentos se atropelam e o fluxo se instala; em outras somos jogados inteiramente na intensidade do momento, das sensações, das relações conflituosas, à flor da pele da vivência daquele personagem. Tudo se desenvolve de uma forma linear, com alguns flashbacks e com algumas tentativas de reconstrução de uma história (Darl em momentos que não está presente). Seus personagens são complexos, não se prendem a uma classificação, cada um tem uma forma própria de se expressar, de se relacionar com os eventos, e por elas, por suas narrativas, nos é transmitida uma profusão de valores pessoais, de julgamentos morais, de perspectivas, que fazem a realidade do relato ser movediça, incerta, tornando limitante qualquer busca de sentido, daí seu rico caráter polifônico e a matéria viva que é o romance. A história oscila por esses pilares, perpassados por uma escrita que tem seus momentos de complexidade, mas que sem dúvidas é rica e frequentemente poética. Para além de qualquer símbolo ou alegoria sobre o que possivelmente é a história, de uma redução à uma árdua jornada do desastre, temos um rico retrato social, uma narrativa, uma forma servindo a história, que a eleva, sem sobras de dúvidas, ao melhor da literatura.
Tiago600 20/06/2020minha estante
Aula de literatura


Gustavo.Fortes 11/11/2021minha estante
Sua resenha é primorosa




Marina 21/05/2020

Provavelmente um dos livros mais profundos e marcantes que já li.
Reflexivo, melancólico, metafórico, confuso e descritivo são as palavras perfeitas para descrever a estória.
comentários(0)comente



anonimoBR 19/05/2020

Possui um texto denso e em certos momentos confuso, mas mais acessível do que outro livro do autor, "O som e a fúria", tendo certa similaridade no quesito de mudar o personagem-narrador de acordo com o capítulo. De um modo geral possui uma trama bastante cativante e interessante.
comentários(0)comente



Gabrieli 05/05/2020

Genial.
Faulkner quebra os paradigmas nesta obra, uma vez que descreve os fúnebres acontecimentos na perspectiva dos 15 personagens da família Bundren.
comentários(0)comente



Luciana.Pereira 04/05/2020

Melhor leitura
Um livro marcante que retrata a perspectiva de cada integrante da familia. Belíssima obra. Minha melhor leitura de 2020 até agora.
comentários(0)comente



Deborah Kufner 30/04/2020

Confuso
A obra de Faulkner traz a estória de uma família complicada e desprovida de afeto que vive no sul dos EUA em torno do ano de 1930. Cada capítulo é descrito por um dos 15 personagens que devo discordar das resenhas que já li: com poucas exceções, os personagens não se revelam, eles apenas narram eventos. Os quatro irmãos são todos quase iguais (menos o menino Vardaman, cuja narrativa se tornou a melhor de todas), teimosos, chulos e egoístas, assim como o pai e a mãe. Não vi grande distinção psicológica entre eles.
Inúmeras vezes fiquei confusa nos diálogos e não sabia entre quais personagens acontecia, pois só trazia o pronome "ele". Ele quem? Assim como os novos personagens que surgiam e que eu não tinha noção quem era aquela pessoa. Você só sabe o nome dela.
Alguns capítulos só serão explicados à frente, e os eventos parecem sem pé nem cabeça. Você não sabe onde eles estão e o que está acontecendo de fato.
É comum se perder no enredo ao longo da leitura. Na minha opinião a história não prende, embora a história melhore nos últimos capítulos, infelizmente.
comentários(0)comente



Teco3 06/04/2020

Enquanto agonizo
"Chuque. Chuque. Chuque. da enxó"

É essa a melodia fúnebre que perpassa por todo o livro, o barulho da madeira sendo lapidada para se tornar o leito eterno da matriarca da família Brundren. O sofrimento nessa jornada familiar ganha eco nesse som que parece materializar a agonia de todos os membros dessa família. Talvez, Addie, a falecida, seja a mais sortuda dessa história, a morte, que para ela nada mais é do que o próprio sentido da vida, a livrou de vivenciar as situações escabrosas que seus filhos passaram para tentar realizar o seu último desejo de ser enterrada na sua cidade de origem.
Cada capítulo é narrado pela consciência de um personagem diferente. Addie teve cinco filhos, cada um com suas tragédias pessoas, que vão ganhando forma com o decorrer da história. No livro, a loucura não é exceção, é a regra. A crueza da vida é explorada em seus detalhes mais íntimos. Não são só os personagens que agonizam, o leitor agoniza junto, afinal uma da particularidades do ser humano é reconhecer semelhanças na diferença.
A cada novo capítulo, uma cortina cai e o que era a peça central do livro, acaba se tornando algo secundário. O enterro em si perde o protagonismo para as narrativas indivíduos dos personagens dessa família que só está unida porque ainda não encontrou uma forma de se desunir. Não parece haver amor entre eles, só há uma espécie de conveniência temporária.
A míseria humana de uma América pouco conhecida é abordada minuciosamente pelo Faulkner, se trata de um romance social crítico, escrito na década de 30 e que ainda hoje parece ser tão atual em tantas partes diferentes de todo o globo terrestre. Bem, é o que chamam de romance universal.
comentários(0)comente



AleixoItalo 17/01/2020

A jornada da família Bundren, para cumprir sua promessa e enterrar sua matriarca em sua terra materna.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Vencedor do Nobel, e de dois Pulitzer, Faulkner não é famoso por ser um autor palatável, pelo contrário, sua narrativa muitas vezes afasta leitores menos acostumados ao seu estilo, criando uma aura mais de "ame ou odeie-o!". ⠀⠀
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Ao optar por contar sua história através dos sentimentos e pensamentos dos personagens, a obra de Faulkner é muitas vezes um quebra cabeças narrativo, aonde é preciso juntar as peças associando-as ao contexto para entender o que de fato está acontecendo.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Uma vez aceito o desafio, é impossível não ser tocado pela sua obra. "Enquanto Agonizo" é mais uma clássica viagem do autor no âmago dos seus personagens desafortunados, uma mistura de sentimentos, repleta de ardor e fúria (uma palavra muito associada a sua obra), como um verdadeiro negativo do sonho americano!
comentários(0)comente



spoiler visualizar
comentários(0)comente



96 encontrados | exibindo 46 a 61
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR