Alex 26/10/2022O velho Lúcifer do marO Lobo do mar é um livro interessantíssimo, carregado de episódios autobiográficos, em meio a uma ficção de tirar o fôlego.
A história te apresenta Humpfrey van Weiden, protagonista (com muito do próprio Jack London), ele é um escritor, rentista, que nunca precisou ?andar por suas próprias pernas?.
Após um acidente na Bahia de São Francisco, Humprey é resgatado do mar, a bordo de uma escuna de caça às focas, chamada Ghost.
Tal escuna é comandada pelo Lobo do Mar, Wolf Larsen, o próprio diabo para alguns. E é então que começa a história toda.
Humpfrey, passa a ser parte da tripulação do Ghost. Um ato de generosidade de Larsen que afirma ?quem sabe assim ganhe as próprias pernas em algum tempo, quem sabe consiga até andar sozinho?.
Durante a temporada de caça, acontecem inúmeros episódios de violência extrema, maldade visceral, mortes, motim e fugas. Sendo impossível não odiar o temperamento e sadismo do capitão Larsen.
Mas, por outro lado, também acontecem inúmeros embates intelectuais entre Humpfrey (agora chamado Hump) e Larsen. Os dois discutem no plano das ideias. O primeiro, idealista romântico (típico de quem não viveu muito no mundo real), o outro um materialista ferrenho, teimoso e amoral.
Os embates são diretos, sem meias palavras, Larsen apesar de ser um valentão que deseja espancar a todos, consegue manter a dialética, discordar e ainda assim manter o diálogo. E isso me marcou muito, primeiro, porque tais diálogos são riquíssimos, os dois pontos de vistas são instigantes e inteligentíssimos, no mínimo enriquecedor para o leitor; segundo, porque o respeito durante o diálogo, me é muito caro, só pessoas elevadas conseguem conversar, discordar respeitosamente, e seguir dialogando, e Larsen dialoga, admira o repertório de seu interlocutor e estimula, mesmo que as contradições.
Dito isso, este é um dos pontos de divergência no caráter de Larsen, um psicopata, sádico, mas inteligente e dialético. Outro ponto, de divergência é, seu paternalismo com Hump.
Ele não apenas o promove, sem qualquer conhecimento técnico naval, como lida com ele, para lhe dar autonomia, liberdade de ação, vencer seus medos, superar suas barreiras, ?andar com suas próprias pernas?. E quando consegue, sente orgulho de Humprfrey, como se fosse seu filho ou seu pupilo.
Esta jornada de auto descobrimento é de uma riqueza e humanidade tremenda. Mas não cabe em uma resenha. Portanto, recomendo a leitura.
Larsen, entrou no hall dos vilões que amamos odiar. London, reconhecido autor de clássicos e não é à toa, é um mestre em seu ofício.
Obs: os episódios da perseguição do bote fugitivo e do do tubarão, me impactaram tremendamente. Senti ódio de Larsen! Uma raiva sem tamanho, por perpetrar aquelas maldades.