Carla.Parreira 01/05/2024
Por que Repetimos os Mesmos Erros (J. D. Nasio). Melhores trechos: "...Não concordo com a afirmação segundo a qual o analista deve escutar seus pacientes desprovido de qualquer ideia a priori. Não! É desejável que, durante a entrevista, o terapeuta se desdobre mentalmente: enquanto escuta o que o paciente diz, ele pondera interrogações, hipóteses e suposições, em suma, um conjunto de preconcepções úteis oriundas de sua formação e sua prática, preconcepções que eu qualifico como 'fecundas'... Toda neurose de adulto repete uma neurose infantil... Em primeiro lugar, conhecer o momento e o contexto nos quais surgiu a primeira crise na idade adulta e, mais que isso, a manifestação inaugural de tristeza mais remota em sua infância. Há sempre uma primeira vez em que o sintoma aparece, e essa aparição inicial é decisiva para compreender a causa do sofrimento. Tudo se joga no primeiro minuto porque é então que o impacto de um sintoma é mais intrusivo e indelével. Como se a eclosão do sintoma fosse mais reveladora de sua causa do que suas reincidências posteriores... Freud acrescenta que a ausência de interpretação dá livre curso à repetição: 'o que permaneceu incompreendido retorna sempre, feito alma penada, até que sejam encontradas solução e liberação.' Por que não conseguimos esquecer definitivamente o acontecimento traumático? Por que ele insiste em retornar obstinadamente durante nosso sono e nos angustiar? Eis a resposta de Freud: o trauma reaparece nos pesadelos para nos permitir sentir a angústia que esteve ausente por ocasião do incidente traumático. Se houve trauma, é efetivamente porque o sujeito, em vez de angustiado, ficou paralisado de pavor, atônito. Querer reviver o trauma, portanto, é procurar substituir o pavor paralisante de ontem pela angústia de hoje, a atitude passiva da vítima de ontem pela atitude ativa do angustiado de hoje. Como se o traumatizado reproduzisse incansavelmente a cena traumática para completá-la, retificá-la e controlá-la. A repetição da cena traumática é uma tentativa do eu de controlar ativamente o que foi vivido passivamente. Distinguimos duas modalidades de funcionamento da repetição patológica: uma repetição temporal e uma repetição tópica. Na repetição temporal, o sintoma repete-se diversas vezes na linha do tempo; na repetição tópica, o sintoma repete e exterioriza a fantasia inconsciente... O inconsciente é estruturado como um automatismo de repetição... Por trás de um sintoma que se repete, há uma fantasia que se atualiza; e, enquistado na fantasia, fervilha o gozo traumático, núcleo do real. No começo, era o real do gozo traumático..."