João 17/07/2022
Autodescritivo
A estreia de Caio Fernando Abreu na literatura tinha que ser no gênero que o consagrou, o conto. Li na edição Contos Completos (2018) da Companhia das Letras, que apresenta uma versão revisitada deste Inventário, e este, ainda que com uma alguns retoques, continua irremediável.
O próprio título já anuncia do que ele se trata: um inventário de contos. Ao contrário de livros da sua fase mais madura, os contos daqui não possuem uma atmosfera que confere certa coesão à obra. O que temos é um agrupamento de contos que parecem versar o mesmo tema em inventários específicos (da morte, da solidão, do amor, do espanto?).
De modo geral, os contos são bons. Já tinha lido alguns deles separadamente e considerava-os empolgantes. O ponto negativo é que dá pra sentir ao longo da leitura o esforço do escritor virginiano em conciliar a espontaneidade do conteúdo (pois sua aspiração máxima era o discurso livre de Lispector) com a rigidez da forma, e pra esse tipo de conto menos pode ser mais.
Vários temas que percorrerão o inventário da obra completa do autor já nos são apresentados aqui: a loucura, a tristeza, a morte, a ansiedade e as formas contemporâneas ? à época ? de experimentar o amor. Pelo contexto em que foi publicado não dá pra se esperar nada muito explícito, mas conhecendo o inventariante já iniciamos a leitura dos contos inclinados a uma certa direção.
CFA é um dos meus autores preferidos, então pra mim quando ele errou, foi tentando acertar. Vivo no eterno paradoxo de ler seus textos a conta-gotas pra não esgotar e devorar impulsivamente tudo que ele escreveu.
Destaques: Fotografia, Itinerário, Amor e desamor.