Resenhas - Livro perdido

Soube que a Rocco lançaria a Wintercraft no começo do ano e desde então todo mês recebia ansiosa a lista de lançamentos da editora esperando pela história criada pela britânica Jenna Burtenshaw. Por isso fiquei imensamente feliz quando em agosto o livro surgiu na lista de lançamentos. Todos aqui já sabem que tenho uma coisa sincera por histórias criadas por autores britânicos. Tudo, desde as influências até os costumes, refletem na escrita e nas histórias. Com Jenna Burtenshaw não foi diferente. Um primeiro livro fascinante e envolvente, mais denso do que aparenta que vai conquistar os leitores.

A história começa nos apresentando Kate Winter e seu tio, Artemis Winter. Os dois vivem em Morvane na pequena livraria da família. Albion estava em guerra há tanto tempo que a população já não se lembrava do motivo. Todos viviam sobre a sombra constante do Conselho Superior, com medo de serem os próximos levados para lutar na guerra. Em Morvane fazia tanto tempo que os Guardas não apareciam que as pessoas começaram a ficar relaxadas, crentes que estava distante demais e a salvo. Mas não Artemis. Ele vivia tenso, com medo de que eles voltassem. Há dez anos os pais de Kate foram levados. Os Guardas não estavam apenas procurando soldados, a ordem do Conselho Superior era encontrar principalmente os Dotados. Pessoas com poder de enxergar através do véu que separa a vida e a morte, essas pessoas podiam curar, algumas prever o futuro, enxergar através dos olhos dos outros, reviver lembranças e o poder mais tenebroso de todos, reviver os mortos. A família Winters sempre foi uma das linhagens mais poderosas, e com os Dotados diminuindo a cada geração o Conselho quer pôr as mãos em Kate e em sua poderosa linhagem. A última Winter com o dom. Silas Dane é que a captura depois de destruir a livraria e levar seu tio. Silas é o homem mais temido de Albion, executa as ordens do Conselho, mas quer Kate pelos seus próprios interesses. Quer o livro que remonta a gerações da família, o Wintercraft, e não medirá esforços para consegui-lo. Contudo as intenções de Sila não são as piores que Kate terá de enfrentar em Fume, a tenebrosa e luxuosa capital de Albion...

A história de Kate se desenvolve a partir dessa premissa e um dos maiores méritos da autora é a ambientação da história, um cenário fascinante, rico em detalhes e elementos que transformam a história, que apesar de remeter a fantasia possui fortes elementos vitorianos que remetem ao steampunk. O ritmo narrativo fluido e pontuados por descrições precisas, que enriquecem o tom da história, tudo aliado a uma trama interessante e criativa, que instiga o leitor capítulo a capítulo atrás de respostas. Junto com Kate descobrimos novas perguntas e respostas em uma trama imersiva e sombria. A premissa desenvolvida pela autora é cheia de surpresas, e os elementos da mitologia são muito criativos me lembrando em alguns momentos da trilogia Abhorsen do autor Garth Nix, que está entre minhas favoritas.

Burtenshaw é extremamente cuidadosa com a composição do mundo, detalhes como o trem Noturno, a cidade de Fume e suas características não ajudam apenas a compor o cenário, como a história de Albion, enriquecendo a história e revelando partes do passado que ajudam a entender a história de Kate, sua família e todos os outros. Os personagens é outro ponto que merece nota, Kate é inteligente e crível, fugindo do estereótipo que vemos muito em livros juvenis. Perdeu tudo o que lhe era caro e segue em frente para salvar o que restou. Já Silas é surpresa do começo ao fim, mesmo com tudo indicando uma coisa ainda é possível ver nas entrelinhas uma sutil ambiguidade. Sendo muito bem construído assim como os secundários. A medida que a história evolui a trama ganha em ritmo levando a um desfecho tenso, cheio de ação que vai surpreender o leitor.

Leitura rápida e instigante que entra para as favoritas. O mundo apresentado por Jenna Burtenshaw nesse primeiro volume do que deve ser uma trilogia é rico e marcante, cheio de boas surpresas e um ambiente imersivo, rico que utiliza elementos interessantes mesclados a personagens que vão conquistar e surpreender o leitor. A mitologia criada pela autora é criativa, mais densa e complexa do que pode parecer. A edição da (...)

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