wbyuniverse__ 31/12/2022
Desperdício
Faz tempo que eu perdi o ânimo de escrever resenhas, mas to cheia de sentimentos que queria colocar pra fora em relação à série como um todo.
Eu li o primeiro volume de Vampiratas quando tinha 11 anos, com a minha melhor amiga. Foi muito marcante pra gente e ainda acho que o primeiro guarda muito bem todo esse carinho e potencial. Com o decorrer dos livros, foi ficando pior e pior.
Os personagens começaram a ser esquecidos e apareciam convenientemente, as relações foram pouco desenvolvidas, a expansão de mundo foi extremamente mal aproveitada.
Eu vejo todo o potencial que a série poderia ter desenvolvido e me parte o coração infantil ver como se desenrolou de maneira tão horrível. O que me fez continuar seguindo foi a esperança de que podia entregar um final satisfatório e o meu apego com os personagens em não querer deixá-los ir. Teria sido melhor abandonar do que ler isso.
Fora esse último livro, que realmente quase nada me agradou, mudanças pequenas poderiam mudar todo o rumo dessa estória, mantendo os mesmos elementos. A Academia dos Piratas e o Santuário foram usados de maneira podre, enfiados ao mesmo tempo em um livro e meramente usados depois, sem qualquer exploração.
Eu sinto que os personagens incríveis que nasceram nesses livros foram desperdiçados. O Connor, na minha opinião, foi o maior desenvolvimento visto durante a série, ainda assim não foi satisfatório. Grace é uma estúpida que de um livro pro outro se tornou decente. Johnny e Stukeley tinham um desenvolvimento incrível para ser explorado, com coisas que já estavam nas páginas, mas foram deixados de lado e acomodados onde era mais fácil. Bart, Jacoby, Lorcan, Molucco, Sidório...
Eu não consigo entender porque tudo isso teve que se encaixar em um único ano. Eu queria saltos temporais, queria conexões profundas, tudo que consegui são protagonistas de 14 anos em relacionamentos bizarros e lapsos de maturidade incoerentes. Era tanta coisa, o autor não soube dar conta de todos os personagens que criou e resolveu distribuir morte nesses dois últimos livros de forma vazia.
Molucco foi particularmente uma decepção, no primeiro livro era um personagem fundamental, se mostrou desprezível, foi esquecido, teve um fim de qualquer jeito e de repente, não deu pra sentit tristeza por ele por causa da distância que tivemos dele durante tanto tempo, depois vem uma herança e uma carta que fala de sentimentos que deviam ter sido mostrados. Eu entendo que foi o jeito que o personagem soube lidar com a atitude do Connor: querer excluir ele. Contudo, o que a carta nos mostra é que ele tava tentando lidar com a perda do filho. Com tantos capítulos focando em personagens secundários, o que custava mostrar o Molucco com seus tripulantes? Com Madame Chaleira? Praguejando sozinho? Ele foi de um personagem essencial para nada.
E isso aconteceu tantas vezes, com tantos personagens. Não é só uma questão do foco estar em outro lugar, os personagens foram esquecidos, ficaram jogados até serem convenientes (e teve quem voltou pra morrer). O Lorcan foi de um dos personagens mais importantes pra alguém esquecível, sem personalidade e definido simplesmente pela beleza e os músculos novos.
Eu entendo que não dá pra desenvolver todo mundo, mas qual a necessidade de trazer tanto personagem pra foco e deixar todos sem qualquer profundidade?
Até mesmo a construção de Sidório foi mal feita, esse que o autor disse ser seu favorito por anos. O sanguinário que nos é apresentado nos dois/três primeiros livros se torna completamente outra pessoa a partir do quarto. Nem o relacionamento dele com a Lola não foi bem fundamentado. O crescimento absurdo do império foi apressado e ruim para o enredo em si. A rebelião do Stukeley foi deixada de lado e de repente todo o descontentamento e traições dele ficaram por isso mesmo, no fim ele ta consolando a Lola??? O final deles é o que mais me incomoda, coloca personagens rebeldes de novo de cabeça baixa. Não dá pra chamar isso de final, muito menos de satisfatório.
Se falarmos sobre relacionamento (principalmente romances), a tristeza só cresce. Johnny e Grace no sexto livro simplesmente nunca aconteceram, tinham um desenvolvimento melhor do que qualquer outro (e eu nem gostava do Johnny nessa época).
Lorcan e Grace, desde a releitura, foi uma visão bizarra pra mim, o cara de não sei quantos séculos se apaixonar pela criança de 14 anos que ele viu nascer? Eu torci muito para que ela gostasse dele com essa visão infantil e ele a visse como uma irmã. Merda, eu torci até pra ele ser o pai dela, tudo que eu queria era que não disse um romance. E eles ficaram tão jogados no meio da história, eu não consegui comprar o mínimo afeto entre eles.
Connor e Jasmine é o casal mais péssimo que eu já li, não tem o mínimo tempero, não tem desenvolvimento. Eu não entendi?? Do nada isso aconteceu e permaneceu, pra no fim não fazer diferença na estória. Serviu pra ter uma briga, conflitos internos que não agregam e só? Parece apenas um surto coletivo ruim.
E sobre a Cheng Li? Poxa, eu torci muito pra ter uma relação entre o Lorcan e ela, porque faz muito sentido pra mim, eles tem um balanceamento interessante pra ser explorado. Quem me dizer que não houveram muitos indícios de uma química ali no meio, não leu o mesmo que e; mas foi completamente ignorado pelo enredo.
Sobre o Connor e a Grace... eles não parecem ter qualquer carinho ou relação. Se passaram 10 capítulos juntos, depois do segundo livro, foi muito. Eles não interagem, não se comunicam, eu não compro a irmandade deles. Em Maré de Terror teve um desenvolvimento legal desse sentimento protetor e os conflitos, mas depois eles se esquecem um do outro. Se os dois não fossem irmãos, não faria diferença no enredo, nenhuma mesmo. Se fossem desconhecidos legais que se perderam no mar e queriam se encontrar, daria no mesmo.
E sobre os próprios vampiros? Os dhampiros (ou devo chamar de magos?) Não tem o mínimo fundamento, eles sobrevivem a qualquer coisa só pra arrastar por mais livros. Desintegram, voltam, são paralisados e envenenados, voltam, sol funciona, fogo não, decapitação não é mais funcionam, prata funciona, mas não antes do último livro.
Por que uma mistura de vampiro e humano cria feiticeiros?? Isso não faz sentido. Em nenhum momento da série, explicaram a magnitude das habilidades dessas criaturas, o que abre margem pra essas coisas absurdas serem supostamente aceitáveis, mas não são boas.
Os livros abrem questões, desde superficiais até construção de mundo, que não são respondidas. Por que insistir do Lorcan contar da travessia se não pretende colocar isso nos livros? (E pelo que eu vi, não tem nenhum extra sobre, ainda não tenho certeza).
{ESSE PARÁGRAFO PODE CONTER SPOILERS}
O sexto livro é o mais deslocado entre todos. De repente vem uma profecia mal explicada e jogada, os cardeais que só serviram pra um capítulo, os gêmeos que não fizeram diferença, mortes sem valor algum...
Parece que não se conecta com o restante, não segue a mesma linha e nem o nível de qualidade (que nem era muito alto). Os outros livros podiam não ter o melhor desenvolvimento, mas o sexto conseguiu jogar todos os méritos da saga no lixo. Não teve valorização de nada construído antes.
Não parece que foram revisados... tem tantas discordâncias entre informações do próprio livro. Qual a idade do Aluar? Em um livro, ele é quase da idade do Connor, em outro faz anos que ele teve 15. Somper quis colocar coisas demais, coisas que ele não tinha o mínimo preparo. Que droga foi essa de profecia, livro mágico e os quatro cardeais? As coisas são jogadas, são convenientes e preguiçosas. Os diálogos foram anticlimáticos e forçados. A Grace teve umas 4 personalidades diferentes e é vista como perfeita só fazendo merda, ela é recompensada por tudo de errado que faz e não evolui durante a escrita. A conquista de informações não são explicadas, não tem coerência.
Cenas jogadas de um lado pro outro, falta de emoção nos momentos mais importantes do livro. Esse final aberto dando vários indícios de uma continuação, pra depois o autor dizer na entrevista que queria fechar pontas soltas?
Somper quis ir longe de mais e não conseguiu entregar o mínimo, que era sentido dentro do seu próprio mundo. Eu acredito que ele tinha potencial, sempre foi uma escrita muito agradável e conforto pra mim (tanto que eu leio super rápido), mas não planejou direito e fez tudo de mal jeito.
Eu to chorando, sinto como se parte da minha infância tivesse murchado por essa droga. Não é questão de ser ou não para minha idade, já li livros infantis e infantojuvenis esse ano, o problema é ter sido mal escrito do modo que foi.
Não sei o que me comove tanto nessa série, o que me motivou tanto, mas tudo que eu posso dizer agora é que foi uma grande decepção.
Enfim, desabafei.