1983

1983 David Peace




Resenhas - 1983


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Carlos.Santos 11/09/2017

MARCO DO NOIR EUROPEU
A literatura hard boiled - que depois ganhou o apelido de roman noir pelos franceses - nasceu nos Estados Unidos no final dos anos 30. Depois de viverem a Lei Seca, a Era dos Gangsters e a Grande Depressão, muitos autores, na maioria nascidos nas revistas pulp, contemplaram os leitores com histórias muitas vezes pessimistas, subjetivas e do ponto de vista do criminoso. Outros, tinham em seus heróis detetives particulares desiludidos.

Ao longo dos anos a influência da literatura noir estadunidense chegou em outras paragens. Aqui na America Latina, por exemplo, temos vários exemplos bem sucedidos de escritores que experimentaram essa vertente e se deram bem. Só no Brasil posso citar: Rubem Fonseca, Marçal Aquino, Marcos Rey e Patricia Melo. E esses são os mais conhecidos. No entanto, na Europa, não consigo me recordar de nenhum autor que tenha, de fato, abraçado o hard boiled. Os europeus sempre foram mais chegados num policial dedutivo, onde o protagonista é um sujeito culto, cheio de manias e que dificilmente levanta o traseiro da cadeira para fazer uma investigação in loco. Longe de mim desdenhar de Sherlock Holmes e Poirot pois gosto muito dos dois, porém sou muito mais um Phillip Marlowe ou Sam Spade.

O Quarteto Red Riding do inglês David Peace veio para mudar isso. Em suas mais de duas mil páginas, vemos os mais diversos tipos de corrupção e perversões. De fato, não o tipo de literatura para os mais sensíveis. Assassinatos e estupros são a ordem do dia no norte da Inglaterra de meados dos anos 70 até 1983, título do derradeiro livro da tetralogia. Aqui Peace utiliza suas últimas 500 páginas para completar o quebra cabeças iniciado em 1974, resgatando passagens de todos os livros anteriores pelos olhos de dois personagens chave: o policial Maurice Jobson, conhecido como Coruja e BJ (Blow Job), michê que desde o primeiro romance se vê envolvido no turbilhão de crimes que envolve o departamento de polícia de Yorkshire. Também temos o advogado John Piggot que no ano de 1983 começa a juntar as peças para resolver diversos mistérios deixados em aberto ao longo dos livros, principalmente ao que se refere aos assassinatos de três garotinhas.

Peace continua aqui com sua escrita ágil, incômoda e ácida. Os personagens mostram-se extremamente complexos, cheio de devaneios e longe de serem heróis. Muito pelo contrário. Aliás, o único personagem de toda a tetralogia que chega perto do heroísmo é o bem intencionado Peter Hunter, de 1980. De resto, é um pior do que outro. Peace enxerga o ser humano como falho e atormentado. A redenção em seus livros, quando vem, vem de forma grotesca, quase absurda. A morte e a desolação permeiam todas as páginas. O único momento aparentemente alegre em toda a obra é a passagem do casamento de Bob Fraser - um dos protagonistas de 1974 - , todavia essas páginas se passam através dos olhos do Coruja que logo começa seu devaneio sobre como odeia a esposa e como seus filhos o odeiam. Ou seja, Peace não nos dá trégua.

Mesmo com alguns defeitos, como por exemplo: excesso de experimentalismo e certa falta de foco em alguns momentos - além da tradução que eu não achei lá grande coisa -, Red Riding é um marco do noir e David Peace, acredito eu, logo terá seu nome alçado ao de grandes mestres do gênero como Ellroy, Chandler, Fonseca e Hammett.
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Gildo 19/06/2014

A tortura do fim
Como viver sem a série Red Riding? Num ápice de tensão e loucura, acompanhamos os passos finais do estripador de Yorkshire. O verdadeiro criminoso não está no assassino, mas na rede de corrupção e mentira envolvendo poder e polícia.

A insanidade dos personagens toma conta do texto, do ritmo e das ruas de Yorkshire, num cenário pintado com a conturbada política dos anos 1980s. São três as consciências que seguimos, três visões de um mundo deturpado e insano.

Talvez o mais interessante da narrativa seja os momentos de aparente normalidade, reuniões sociais, famílias comemorando. Nesses instantes, a loucura torna-se ainda mais presente, pelo extremo em que os personagens se encontram.

1983 é um final instigante de uma série soberba.
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