jota 11/08/2016Literatura e jogo...O leitor dificilmente fica indiferente às histórias de Julio Cortázar (1914-1984): elas próprias ou seus personagens são quase sempre insólitos, estranhos, fora da curva. Então frente a um texto desse talentoso argentino (nascido na Bélgica e que morreu em Paris) bem se pode colocar a questão de gostar ou não de sua obra com intensidade. De querer ou não participar de seu jogo literário, conforme alerta um de seus grandes admiradores, o também grande Mario Vargas Llosa.
De todo modo, iniciei a leitura desses contos há algum tempo e ela foi intercalada com a de outros livros: não conseguiria ler todas as histórias em sequência. Uma overdose de Cortázar não me faria muito bem: poderia me fazer desistir do livro logo no início e eu não queria isso. Não queria sair do jogo perdendo.
A coletânea da L&PM Pocket foi organizada por Sérgio Karam (também é dele o prefácio Cortázar: o mago do conto) com o propósito de oferecer uma visão diversificada do grande contista que Cortázar foi. Então temos algumas narrativas tradicionais e também histórias meio labirínticas ou ziguezagueantes, algo assim. Elas compreendem as diversas fases de sua vida e carreira.
Vamos a elas, que é o que interessa:
Casa Tomada: aos poucos forças estranhas invadem uma casa habitada apenas pelo narrador e sua irmã; exemplo de conto fantástico, uma das especialidades de Cortázar; três estrelas e meia.
O Perseguidor: mostra o relacionamento entre um biógrafo e seu biografado, um jazzista genial porém problemático (e por vezes medíocre), história inspirada na vida de Charlie Parker; é o conto mais longo da coletânea; quatro estrelas e meia.
A Porta Condenada: um hóspede de hotel toda madrugada é acordado pelo choro de uma criança no quarto vizinho, mas do outro lado habita apenas uma velha senhora; três estrelas e meia.
Comportamento nos Velórios: velórios podem ser patéticos e este conto bastante curto é classificado como humorístico pelos especialistas; quatro estrelas.
A Autoestrada do Sul: é sobre um imenso e inexplicável congestionamento que faz os motoristas e passageiros criarem uma sociedade paralela enquanto aguardam a hora (que se transforma em dias e noites) de acessarem Paris; quatro estrelas.
Manuscrito encontrado num bolso: este é um dos contos labirínticos de Cortázar, passado no metrô de Paris; nele foi baseado o filme brasileiro Jogo Subterrâneo (2005), passado no metrô de Sampa; três estrelas.
Tango de volta: história com toques policialescos, com crime e tudo, que pode ter acontecido de verdade ou apenas se desenrolado na cabeça de uma das personagens; quatro estrelas e meia.
A Escola à Noite: o conto mais impressionante da coletânea; começa com dois jovens tentando entrar numa escola à noite sem objetivo determinado e vai se tornando um pesadelo (ou uma alegoria) comparável ao das ditaduras, como a vivida pela própria Argentina; cinco estrelas.
Lido entre 20/07 e 10/08/2016.