Mikaela 08/10/2019
Humor ácido, empoderamento e reflexões
Você pode não conhecer Tina Fey, mas com certeza conhece o que ela escreveu. A mulher é uma das roteiristas de Meninas Malvadas! Esse humor ácido e nonsense de Fey também pode ser visto na série 30 Rock e nas temporadas antigas de Saturday Night Live.
Quem não conhece essas referências, pode até se perguntar se vale a pena ler esse livro. Eu comecei A Poderosa Chefona porque queria ler autobiografias de mulheres de sucesso. Mas, pra ser sincera, o motivo real é que eu li as primeiras palavras e de repente NÃO CONSEGUIA PARAR DE LER e aproveitava todo momento livre pra dar mais uma lidinha!
Parafraseando Meninas Malvadas, eu gastava 80% do meu tempo falando de Tina e nos outros 20% estava torcendo para alguém mencioná-la, para que eu pudesse falar mais. Ok, brincadeiras à parte, o livro é realmente muito fluido, daqueles que dá para terminar em um dia.
Não é o que você espera do livro de uma mulher de sucesso, né? Normalmente esse tipo de livro vai se demorar mais em alguns conceitos como o empoderamento feminino, citar dados, esse tipo de coisa (eu posso recomendar também Faça Acontecer, da Sheryl Sandberg, que, apesar de mais sério, é muito bom de ler. Não, eu não virei a doida à procura de ferramentas de coaching).
Mas Tina Fey engata na história da infância (que foi marcada por uma tentativa de assassinato -!!!!- que ela não aprofunda por justamente não querer ser conhecida por isso), passa pela adolescência nerd, os primeiros passos na comédia do improviso, os fracassos, o sucesso…. E você apenas a acompanha, como se estivesse ouvindo uma amiga muito engraçada falar.
No meio de todas essas piadas, existem lições valiosas sobre aceitar o próprio corpo. Afinal, Tina Fey é uma mulher poderosa em Hollywood e esse tipo de pressão costuma acontecer.
Parece bobo ler livros desse tipo. Afinal, que homens leem sobre “como ser um chefe homem”? Para eles é natural porque passaram a vida inteira aprendendo que o mundo é deles. A minha geração, pelo menos, só veio naturalizar que, ei, o mundo também é das mulheres e nós merecemos o topo, de uns anos pra cá.
Antes disso, as mulheres independentes eram representadas como megeras ou coitadas nos filmes. Com o exemplo de Sheryl Sandberg, do Facebook (vale ressaltar que eu não concordo com as políticas dela e do Zuckerberg que ameaçam a privacidade dos nossos dados, mas o livro dela é bem interessante para incentivar a carreira das mulheres), a showrunner Shonda Rhimes e a própria Tina Fey falando sobre suas carreiras, é possível vislumbrar que esse caminho também pode ser o de qualquer mulher.
Além da clara dificuldade de aceitação das mulheres na comédia (As Tinas Feys e Tatás Wernecks ainda não são muitas) por fugirem dessa perfeição imposta ao gênero, não é fácil também a pressão para que conciliem família e trabalho.
Ela também fala sobre a falta de respeito que as mulheres mais maduras sofrem no show business. Se elas não são mais “atraentes”, são chamadas de loucas. Para Fey, a solução é a seguinte:
"Me parece que o remédio mais rápido para essa situação de “mulheres loucas” é que mais mulheres se tornem produtoras e contratem diversas mulheres de várias idades."
Eu recomendo A Poderosa Chefona se você tem uma pequena noção de quem é Tina Fey (porque pode ser chato ver referências de programas que você nunca ouviu falar) e é de boas com o humor ácido e autodepreciativo da autora. Mas ela é realmente engraçada e os capítulos são construídos de forma leve, com inserção de alguns scripts, sem que a leitura se torne arrastada em nenhum momento.
E, claro, se você quer ler mais sobre empoderamento feminino no show business. Você não vai se deparar com um tratado sobre feminismo e nem com uma análise profunda das mulheres na comédia, mas é bom unir uma boa leitura com um excelente tema.
site: https://perolasepipocas.wordpress.com/2019/04/26/resenha-a-poderosa-chefona-tina-fey/