Antonio 07/09/2015
Mosaico
Sólida e, ao mesmo tempo, disforme, a história contada por um arquiteto desiludido em Lívia e o cemitério africano assemelha-se aos muros erguidos na Ponta da Praia, em Santos, com as pedras retiradas do interior da ilha, durante a edificação da orla, e empilhadas e acomodadas de forma aleatória, quina com quina, aresta com aresta, para proteger a cidade contra os golpes das ressacas e das marés, tão ilustrativamente descritos por quem a protagoniza.
Uma mãe senil, uma cunhada inesperada, um sobrinho arredio, um antepassado que sucumbiu ao horror da guerra: essas personagens envolvem o narrador de Lívia e o cemitério africano, a quem o leitor de Alberto Martins conhecera adolescente em seu anterior A história dos ossos (temos aqui um Antoine Doinel?) e o fazem chacoalhar, incutindo-lhe incertezas e oferecendo-lhe novas perspectivas.
Singelo, Lívia e o cemitério africano fala de muros a serem transpostos – mas fala também das relações, dos afetos. Um baita livro.
Trecho do livro:
“Nesse período minha mãe se acertou com um novo medicamento e voltou a ganhar agilidade. Contrariando a orientação do médico, que sugeria que eu evitasse deslocamentos para não agravar seu quadro de confusão mental, resolvi arriscar passeios mais prolongados.” (p. 61)
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