A Ostra e o Vento

A Ostra e o Vento Moacir C. Lopes




Resenhas - A Ostra e o Vento


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Martony.Demes 10/06/2022

A pérola quer sentir o vento
Voltando a escrever as resenhas, apresento-lhes, agora, a Ostra e o Vento, de Moacir Lopes.

A história se passa em uma ilha isolada que tem um farol que é mantido por José, o faroleiro e Daniel, seu assistente! José tem uma filha - Marcela - que mora nessa ilha há alguns anos e faz bastante tempo que ela não vai ao continente.

Por conta desse tempo todo sozinha, com contato apenas com raros marinheiros e os moradores, Marcela cria uma fantasia de um amor com um ser inventado - Saulo - o vento. E esse mesmo Saulo é o narrador da história! E como isso pode ser? E ele de fato é fantasia? 

E assim é a história dessa jovem no surgimento de sua adolescência, no desabrochar de seus desejos e no âmago de sua inocência! Por meio da narrativa, onisciente,  que ora assume os personagens e seus fluxos de pensamentos, podemos extrair diversos significados sobre o tempo, a convivência, o presente e o passado.

Creio, inclusive, que a ideia de Moacir Lopes ao pôr o nome do título seria: a ostra é fechada e isolada em si seria Marcela e o vento é a libertação, autonomia e vontade própria. O próprio nome Marcela sugere algo: MAR - CELA!

É um belo clássico da literatura brasileira, curto e bem interessante! Recomendo sim a leitura! 
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Roberta 03/02/2022

Que livro é esse??
Apesar deste livro já ter uma adaptação para o cinema brasileiro (estrelado por Leandra Leal e Lima Duarte, inclusive), eu não conhecia a história e nunca tinha ouvido falar. Como não assisti ao filme ainda, não posso opinar sobre ele. Mas o livro... que livro fenomenal... provavelmente um dos melhores que vou ler na vida. Sim, falo que dificilmente vou ler um livro igual de forma muito consciente porque ele é realmente genial.

Bom, já adjetivei bastante o livro, mas por que gostei tanto?
Bem, este livro foi publicado em 1997 e conta a história de Marcela e seu pai, José, que foram viver na Ilha de Afogados quando ela tinha apenas 9 anos, depois de uma traição da mãe de Marcela. A menina cresce nesta ilha e completamente alheia ao continente e socialização com outras pessoas a não ser seu pai, Daniel e Roberto (esses dois, ajudantes de José em tempos diferentes). Como é de se imaginar, há um grande conflito neste livro, na verdade, mais de um. Mas não é só isso que nos prende à leitura. Neste livro, Moacir C. Lopes mistura passado e presente, além de diferentes narradores de uma forma tão fluida, que quando você percebe, já aconteceu. É um livro que me deixou tão presa a ele, que só sosseguei quando li a última página.
Infelizmente, não é mais encontrado em livrarias, apenas em sebos. Mas se encontrarem, comprem, vale à pena! É uma joia da literatura brasileira.
Roberta 03/02/2022minha estante
Uma correção: foi publicado em 1964




Alexandre.Tardin 18/02/2019

A Ostra e o Vento” (Moacir C. Lopes)
A história se passa na Ilha dos Afogados, lugar onde o faroleiro José vai morar com sua filha Marcela, juntamente com Daniel que é seu ajudante. José resolveu ir morar nessa ilha após ter descoberto a traição de sua mulher com um pescador, e se isola do mundo levando sua filha junto. Marcela cresce nessa ilha e seus conhecimentos adquiridos foram transmitidos por Daniel, que se torna uma espécie de professor. Mas com o passar dos anos ela não se contenta somente com isso, e cria um personagem imaginário mantendo com ele uma forte interação. O nome dele é Saulo, que aos poucos vai dominando-a até ao ponto de dominar a ilha inteira.

O título desse livro é inspirado em Marcela e Saulo, pois ela é a ostra, fechada e isolada em si mesmo, e ele é o vento, que representa a necessidade de libertação de Marcela da situação opressora. O nome de Marcela também não foi escolhido por acaso pelo autor, pois encontram-se dois vocábulos “mar” e “cela”, significando a imensidão do mar que acaba sendo a própria cela da personagem.

Algo muito presente nessa obra é o panteísmo, ou seja, a integração de Marcela com a natureza, que está personificada na figura de Saulo. O vento será o elemento catalisador da personalidade de Saulo, e a magia permeia esse cenário, misturando o real e o imaginário em visões oníricas.

Também podemos enfatizar o sentimento de solidão que envolve toda a obra, pois seus personagens estão isolados do mundo nessa ilha, e também vivem solitários individualmente nesse ambiente em virtude das circunstâncias. A ênfase dessa solidão gira em torno de Marcela, que acaba até mesmo criando Saulo para atenuar seus anseios.

Outro ponto interessante é a utilização da vírgula pelo autor, primeiro para iniciar o romance: “, manhã manhã de mais uma era que finda e reinicia no roldão das horas e do vento, ...”; e depois ao terminar a obra: “Manhã manhã de mais uma era que finda e reinicia no roldão das horas e do vento,”, fazendo isso com o mesmo enunciado, passando ao leitor o efeito de sentido de um eterno recomeçar. O tempo é gerado por Saulo sem demarcações rígidas como o eterno movimento das ondas.

Enfim, é um livro repleto de poesia, magia, beleza e lirismo, que foi escrito por Moacir C. Lopes em 1964; e em 1997 foi adaptado para o cinema em filme dirigido por Walter Lima Jr., que terminou sendo vencedor de diversos prêmios.
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Eduardo 10/08/2017

Tão singelo quanto o desabrochar da personagem
Se há livros escritos como A Ostra e o Vento, provavelmente são muito raros. Para discutir a imensidão contida nesse livro seria talvez necessária a mesma quantidade de páginas da obra, mesmo que a história contada no livro talvez não precisasse de tantas páginas como tem. Esse é um dos pontos a se discutir no final, porque soaria vago se começasse por ele.
Esse livro conta a história de Marcela, filha de José, que foi levada pelo pai, ainda criança, para viver em uma ilha. Nessa ilha ela conta também com a companhia do velho Daniel, responsável por grande parte do conhecimento que ela absorve durante sua infância. Com o passar dos anos, presa naquele local, Marcela torna-se parte dele e, como o autor mesmo enfatiza, torna-se a ilha. Tudo é Marcela. A força que a menina exerce sobre a natureza da ilha e sobre seus outros dois habitantes é expressa na maneira como eles a veem e como tudo ao redor se interage com ela: as flores, as árvores, os pássaros, os peixes, a areia, o mar e principalmente o vento. Por mais que tudo possa soar como fantasia, não o é; talvez seja resultado de uma poesia em forma de prosa, ou mesmo o efeito sinestésico afiado com extrema delicadeza que dá à obra essa singularidade. O fato é que tentar entender a vastidão de Marcela é se perder nela, já que o ponto principal do enredo, que se encontra tão dentro dela, se manifesta justamente fora: no vento.
Marcela torna-se uma adolescente e então encaminha-se para se ver como mulher. A Marcela menina sabe interagir e se localizar; a Marcela mulher ainda não. Ela vê seu corpo se transformando e seu desabrochar sexual tomando forma. Sobre tomar forma, há dois significados que se intercalam: a descoberta de seu novo corpo e a descoberta de sua solidão. Criada ali por tanto tempo, não conheceu muitas pessoas, muito menos de sua faixa etária, e esse fator isolador aos poucos a tornou isolante. É quando o vento toma a forma aconchegante de namorado no seu pensamento e no seu coração. E ao vento ela dá um nome: Saulo.
Seus desejos de mulher, seu despertar sexual e sua abertura à essa fase são preenchidos por Saulo, homem que ninguém vê, mas que desperta a ira de seu pai e que existe no seu peito. O autor mostra como, mesmo diante de um isolamento, a menina-mulher sente necessidade de criar seu porto seguro, como qualquer pessoa cria, criou ou criará o seu, independentemente de sexo ou idade. Tudo o que Marcela tem é a ilha, e o que é capaz de preencher toda a ilha, assim como ela também o faz aos olhos do narrador, é o vento. Ele é seu amante e confidente.
Quanto à narração, há muito o que dizer. O narrador é onisciente, mas ao mesmo tempo é Saulo, fruto da imaginação de Marcela. Só é possível identificar a troca de narradores quando ela já está consumada há algumas linhas. A forma que o tempo assume no romance também é uma característica bastante singular: há uma transição entre passado e presente quase imperceptível que também só é possível identificar depois de já transcorridas algumas linhas. Por mais que isso possa parecer confuso à primeira vista, na realidade é parte da essência do livro, que é naturalmente narrado em tempos diferentes.
Talvez o único ponto negativo da história, dentre as dezenas de positivos, seja a repetição exagerada do ambiente e dos detalhes que o compõem. Não que seja necessariamente maçante a repetição do canto dos pássaros, das ondas do mar, do barulho do galho da goiabeira e do cheiro do manjericão, mas a história poderia ter menos dessas repetições sem prejuízo algum ao entendimento, à delicadeza e à emoção, com preservação total da essência poética da obra. Não enxergo tais repetições necessariamente como prolixidade, mas como fator que pode deixar o texto levemente enfadonho em alguns trechos.
Em resumo, A Ostra e o Vento é uma história belíssima, com uma temática incrível, que mostra também o drama de relações conflituosas, do ciúme, do apego às tragédias do passado e ainda tem um leve toque de mistério. A singeleza do desabrochar de Marcela é fielmente representada pela singeleza de sua narração.
Não nos esqueçamos de Roberto, que também é personagem importante na descoberta de Marcela, e nem da ostra, em cujo interior nem o vento consegue entrar, a não ser que se abra para ele. E, como essa é uma obra que abre um leque para inúmeras interpretações e sentimentos, nada é mais alusivo à ela que terminar sua resenha com uma vírgula,
Thallys.Nunes 10/08/2017minha estante
Excelente resenha, Edu! Muito feliz que tenha acatado a indicação e que tenha apreciado a leitura. Gosto muito dos seus comentários sobre os livros. São sinceros e demonstram uma sendibilidade que poucos têm em relação à literatura. Obrigado por compartilhar conosco suas impressões e opiniões. ;)


Eduardo 10/08/2017minha estante
Muito obrigado, Thallys! Fico lisonjeado haha
Valeu :)


Henrique_ 10/08/2017minha estante
Isso sim é resenha!


Eduardo 10/08/2017minha estante
Valeu, Henrique! Muito obrigado :D


Lu @adreamyromantic 30/08/2017minha estante
Bela resenha!


Eduardo 30/08/2017minha estante
Muito obrigado, Luísa :D




Hellene 02/02/2012

Também tive o meu
Que adolescente não teve um Saulo no coração? Não necessariamente igual o Saulo do livro, o homem vento em todos os lugares, e em lugar algum, apenas no pensamento, no coração. Esse romance trata de maneira poética e delicada essa frágil etapa na vida de uma adolescente, ainda menina mas com desejos de mulher. Gosto da escrita, sinestésica do Moacir Lopes, gosto da temática sobre o mar e o vento, e principalmente, gosto do ar de mistério em torno da trama. Um dos meus favoritos do topo.
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