Jéssica R. 09/12/2014Sabe aquele livro que começa chato? Diga Aos Lobos Que Estou Em Casa é exatamente assim, pelo menos para mim. Por volta da página 50 já estava pensando em abandonar a leitura, mas mudei de ideia. Na página 195 o livro começa a ganhar vida, tive que me esforçar muito no começo, mas depois valeu muito a pena.
Com personagens profundos e bem trabalhados, Diga Aos Lobos Que Estou Em Casa consegue ser aquele tipo de livro que nos faz pensar muito depois de termina-lo. Começa com a morte do tio Fin, um artista renomado que passou seus últimos meses lutando contra a AIDS e pintando um quadro de suas sobrinhas June, de 14 anos, e Greta, de 16. No funeral June avista um homem do qual ela não pode se aproximar, segundo sua família. Ela sente profundamente a perda do tio/padrinho, uma vez que acredita que não terá mais a pessoa que a endente, acreditando ser também a única capaz de entendê-lo. Os pais de June acham que a filha ainda não é madura suficiente para entender o que está acontecendo, que a morte, o homossexualismo e a AIDS são demais para a cabeça dela - lembrando que a história passa no ano de 1987, naquela época as pessoas não sabiam nada sobre a doença e acreditavam que podiam pegar AIDS em um simples aperto de mãos. Toby, um homem que diz ser amigo de seu tio e quer encontra-la, e ela como amava muito o tio acaba aceitando, o principal intuito dela é conseguir informações sobre seu tio.
O livro trabalha a relação familiar como um fino fio que pode se partir a qualquer momento. June acredita que sua irmã Greta a odeia e isso acaba afastando a ambas, e também proporciona a nós leitores uma experiência única ao acompanhar a relação dessas irmãs, que vivem entre o ciúme e o amor. Pais que apesar de trabalharem muito conseguem dar atenção às filhas, exceto na época dos impostos. Aproveitando a ausência dos pais June começa a se encontrar frequentemente com Toby, unidos pela dor da perda, ambos começam uma relação de companheirismo e cuidado. O que mais me surpreendeu foi à profundidade dos personagens, June é tão complexa em seus pensamentos e sentimentos.
"[...] Esse é o segredo. Se você garantir que é exatamente a pessoa que esperava ser, se sempre garantir que conhece apenas as melhores pessoas, então não vai se importar de morrer amanhã."
É um livro sensível, que fala de amizade, dor, magoa perdão, amadurecimento e recomeço, não apenas para June, mas para todos, e tudo é narrado de forma pura e delicada. É como se aos olhos de June não existisse maldade, não que ela fosse ingênua, mas ela enxerga um mundo diferente, muito mais simples do realmente é. Agora tenho mais um personagem favorito, June, me identifiquei muito com ela em alguns trechos. Está sendo difícil resenhar sem spoillers, espero sinceramente ter conseguido passar o quanto esse livro se tornou especial para mim, e de como consegui sentir cada personagem, suas angustias e incertezas, seus medos e suas alegrias. Livro perfeito e rico em detalhes. Sem esquecer essa capa que é tão linda, confusa e simples, assim como toda a história.
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