Tão longo amor tão curta a vida

Tão longo amor tão curta a vida Helder Macedo




Resenhas - Tão Longo Amor Tão Curta a Vida


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RôPeyres 03/12/2013

A sinopse de um livro pode revelar muito sobre o seu enredo, e constantemente o faz muito mais do que deveria. Outras vezes, revelatao apenas o mínimo para que a curiosidade seja o gancho que fisgará o leitor. Nestes casos, mostra-se a cada palavra, página a página. E foi assim em Tão Longo Amor Tão Curta A Vida.

Uma premissa simples: tarde da noite o narrador, um escritor português radicado em Londres, recebe uma ligação de um velho amigo, Victor Marques da Costa. Dizendo estar em uma situação complicada, o diplomata português pergunta se pode visitá-lo em sua casa. Assim, passam a madrugada revisitando o passado de Victor. Infância. Carreira. Amores.

Cada conversa, cada história compartilhada, é uma peça do quebra-cabeça que se encaixa. O passado juntando-se para entendermos como se forma o presente. É deste modo, como é conhecer alguém, que desenrola-se este lançamento da editora Rocco.
Porém, o que seria apenas um atípico encontro entre amigos que anteriormente se limitavam a ocasiões sociais esporádicas, o relato de um sequestro que acabara de ocorrer com o diplomata redefine a fronteira entre ficção e realidade.

A versão de Victor sobre o sequestro é inconsistente, ocultando muito mais do que revela. A partir daí o fluxo narrativo se altera. Sempre buscando por personagens que lhe interessem, o escritor português, de quem não sabemos o nome, transforma seu amigo em um de seus personagens. Seu objetivo é um só: preencher as lacunas do que não foi dito, compreendendo, então, a sequência de fatos que levaram até aquela noite ao montar uma fictícia reconstituição do que poderia ter acontecido.

O cenário se alterna entre Londres, Lisboa, Berlim, Brasil e Israel, passando por vários momentos históricos, desde a Guerra Fria até a contemporânea guerra contra o terrorismo, ao longo dos cerca de 20 anos pelos quais se reconstrói a trama.

Assim, em Tão Longo Amor Tão Curta A Vida, Helder Macedo, poeta e romancista lusitano, tece um thriller psicológico no qual há ficção sendo desenvolvida dentro da ficção. Predominando um sentimento de angústia. Uma inquietação que cresce através da busca da verdade.

Quais seriam as intenções de Victor ao procurá-lo a não ser para desafiá-lo a escrever sobre aquele personagem que se tornou? Estaria envolvida Lenia Nachtigal, antigo amor do diplomata e pretensa cantora de ópera, há muito desaparecida? Teria havido um assassinato, como sugere uma mancha de sangue presente em sua camisa? Os vestígios são utilizados para criar uma realidade paralela repleta de dualidades.
O fluxo de consciência e divagações é constante – prendendo a atenção e confundindo ao mesmo tempo com tanta informação. Felizmente, o narrador nos socorre, reforçando e esclarecendo alguns pontos importante. A metalinguagem torna a narrativa mais interessante; frequentemente o narrador conversa com o leitor sobre a construção da trama e todas as possibilidades ali presentes.

A sensação de desconforto em Tão Longo Amor Tão Curta A Vida se prolonga até que o narrador/escritor português confronte seu amigo/personagem Victor, mostrando a ele sua reconstituição ficcional. Mais uma vez o fluxo narrativo muda. Quão perto estaria da real sequência de fatos? Seria ele o álibi de um crime? Trazendo um desfecho surpreendente.

Uma trama de paradoxos. Dialética. Ficção e realidade. Verdade e mentira. Fato e versão. Quanta verdade há na literatura? E quanta ficção há na realidade? Afinal, nas palavras do narrador, “uma história contada é sempre uma falsificação”. O real é constituído por versões. Porém, qual seria a percepção absoluta de um fato?!

Até breve! ♥

site: www.mudandodeassunto.com
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