Andressa 15/01/2022
A primeira decepção de 2022 chegou cedo
Blackmoore é o segundo livro que eu leio da Julianne Donaldson, depois de Edenbrooke, mas ao contrário dele, Blackmoore falha em vários aspectos, se não na história toda. A começar por uma protagonista chata e imatura, um mocinho com tanta profundidade quanto uma colher de chá e um conflito sem pé nem cabeça.
Kate ou Kitty, como costumava ser chamada, tem o sonho de viajar pra Índia com a tia e fugir das pretensões ardilosas da mãe. Ela também sonha há muitos anos em conhecer Blackmoore, a propriedade da família Delafield, onde os seus amigos, Sylvia e Henry, passam todos os verões.
Ela se sente aprisionada numa família sem amor, uma vez que os pais se ignoram, a mãe não tem pudores, a irmã mais velha se envolveu num escândalo e não há ninguém em casa que a enxergue como uma pessoa com vontades que excluem o casamento. Só Oliver, seu irmão de sete anos, puro demais pra se ver negligenciado e, Henry, quase o escape em pessoa.
O livro começa bom, embora seja carregado de questões desde já. O desejo desenfreado de Kate de ir a Blackmoore é injustificado. Ela conhece a casa por uma maquete, mas tem o lugar como se a pertencesse. Suas motivações pra Índia também se mostram frágeis, o Henry é o apoio dela e só aparece pra cumprir esse papel. O amor deles beira a conveniência visto por essa ótica, inclusive.
A sensação que tive foi que a autora jogou uma porção de personagens, situações e conflitos que, no final, ao invés de resolver e esclarecer, só confundiu.
Ah! De uma hora pra outra, também acontecem vários flashbacks que tornam a narrativa ainda mais cansativa. A Kate não cresce, não evolui no decorrer da história, só permanece a mesma mocinha fraca, chorona e sem o mínimo de respeito por si mesma ao se colocar em situações humilhantes por causa do acordo desmedido que fez com a mãe pra ir a Índia. É uma jornada que fica mais e mais desinteressante. E dá raiva ver o ciclo da sua autopiedade se repetir e se repetir e nada mudar.
Achei muito drama pra um conflito tão pequeno. Quis, a certa altura, que alguém chacoalhasse a mãe dela pra ver se, assim, ela caía em si. Mas, pelo visto, isso seria mais indecoroso que todos os constrangimentos causados por ela no século XIX.
Certas questões ficaram no ar pra mim. Por exemplo, por que a mãe da Kate agia assim? O que a levou a se casar com o pai dela? O comportamento indiferente dele, embora possa ser em reação a falta de escrúpulos da esposa, não tem outra raiz? Por que ele escolheu se calar e deixar os filhos a mercê dos caprichos dela? O que aconteceu com a Eleanor depois que casou? O jovem Sr. Brandon ficou esquecido no churrasco com o avô Delafield, a Sra. Delafield, Sylvia e a Srta. St. Claire?
No mais, a Srta. St. Claire pareceu mais do que a dama perfeita e bondosa apreciada por todos. Tinha um 'quê' de arrogância e superioridade debaixo da gentileza demonstrada a Kate. E quanto a Sylvia, ela é tão inútil como amiga quanto como personagem necessária pra narrativa. Têm problemas na sua construção como acontece com os outros também.
A autora se ocupou com a protagonista e só. Achei que Blackmoore seria bom, um favorito como Edenbrooke, mas os dois são bem distintos. Esse exagera no drama e deixa umas pontas soltas. O que é sempre decepcionante.