Julia Agnes | @pontoparagrafoo 04/10/2022Um livro que divide opiniões, mas que me causou uma boa impressãoEm torno de suas 300 páginas, Ligações, de Rainbow Rowell nos mostra a evolução de Georgie McCool e de seu marido Neal, revelando ao longo da trama todas as dificuldades enfrentadas na vida a dois, bem como, as mudanças inevitáveis que ocorrem quando amadurecemos. Conforme acompanhamos toda a transformação das personagens desde o começo de um namoro à distância à um casamento feliz e satisfatório que acaba em desastre por falta de diálogo e concessões, Georgie se vê com medo do que pode acontecer.
Confesso que apesar de ficar um pouco incomodada com a falta de maturidade das personagens para dialogar e resolver seus problemas - especialmente Georgie -, muito do que o casal entregava nas mãos do tempo sem qualquer iminência de solução, foi o que chamou minha atenção de uma forma pessoal e um tanto quanto inquisitiva para meus próprios problemas. Como li em um momento de mudanças inesperadamente dolorosas, me senti reconfortada pelo compartilhamento da situação e a todo momento era como se pudesse conversar com a personagem principal, estando ainda, aprendendo com seus erros.
Neal apesar de um bom marido e principalmente ótimo pai, deixou a desejar como um personagem de quase 40 anos de idade também. É nítido que os problemas começaram a surgir quando sua masculinidade sentiu-se ferida ao ver que quem sustentava a casa era sua esposa, com um bom emprego, bom salário, enquanto ficava em casa a tomar conta das filhas com mais atenção e tentava descobrir seu próprio caminho profissional. Em muitos momentos vemos sua brilhante capacidade em ser pai, mas culpar a esposa por não ter se encontrado ainda, sem sombra de dúvidas foi um pouco fora dos limites. É compreensível ainda que os problemas surgissem com a irritabilidade em consequência de não conseguir se comunicar com a própria esposa sobre coisas triviais, mas que são essenciais à vida a dois, como o crescimento das filhas, ou até mesmo uma companhia para um filme no fim do dia, sem serem interrompidos com problemas no trabalho.
Não costumo ler romances, mas os que de alguma forma trazem problemas e elementos de relacionamentos semelhantes à realidade me cativam de uma forma especial. Problemas que muitas vezes estão dentro de nossa própria realidade, mas que de alguma forma não conseguimos olhar com sinceridade e sem pedras na mão, prontos para nos defendermos. A falta de uma conversa franca no fim do dia, partilhando de profundo interesse e sem interferências, fazem diferença. Não trata-se apenas de não deixar cair na rotina, mas de estar presente verdadeiramente o quanto podemos para quem amamos.
Além de toda a realidade disposta na construção para a trama, as referências musicais, trazendo nomes como Stevie Nicks e Metallica, foram o que me prenderam e me deram uma sensação extremamente nostálgica. Adicionadas à um toque de sentimentalismo ao colocar um telefone antigo como máquina do tempo, tenho certeza de que Rainbow Rowell ganhou meu coração com este livro. Afinal, quem nunca perdeu alguém que amava e desejava nem que fosse uma última vez, pelo menos, ouvir a voz dessa pessoa, para poder conversar e esquecer a dor da saudade por alguns minutos?
Apesar de ser um dos títulos da autora que menos indicam, é um dos livros que recomendo à quem nunca leu nada dela, ou ainda, caso deseja embarcar em uma história de amor trágica, mas capaz de causar sérios riscos de se emocionar através da nostalgia e por encher seu coração iludido de esperança. Tenho certeza de que vai querer um telefone desses, capaz de voltar à melhor época de sua vida, até agora.
Obrigada por ler esta resenha!
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