Damien Willis 29/11/2016
Em geral é um livro interessante, principalmente por trazer informações relevantes da psicologia e da neurociência, além de dicas úteis aos leitores em geral. Por focar em empreendedorismo e produtividade, a leitura não apresenta muitos altos, já que não tenho grande paciência para a temática, mas posso dizer que não cai naquela monotonia irrealista de autoajuda. Além disso Garcia apresenta durante os capítulos alguns questionários relacionados ao tema, no qual o leitor é convidado a responder através de números e fazer algumas somas, preencher alguns quadros, quebrando uma possível monotonia.
Dei início à leitura por conta do meu envolvimento com o curso Aprendendo a Aprender, de Barbara Oakley, oferecido através da plataforma Coursera. Por conta disto nem tudo aqui me serviu imediatamente, até mesmo por não ser exatamente o que buscava, mas por parecer um livro bastante embasado em pesquisas científicas reais, incluindo as que envolvam as palavras-chave "aprendizagem" e "memória", pude absorver boas informações. Uma delas está no capítulo Visualização, sobre a criação do hábito, que reproduzo a seguir:
"A repetição de um movimento faz com que o corpo tenha memória sobre ele e comece a reagir imediatamente ao estímulo para o qual foi treinado. O nome desse conceito é psicocibernética, criado por Maxwell Maltz, nos anos 1960. Maltz comprovou que o hábito de fazer algo – seja estudar, correr, aprender a andar de bicicleta, ler etc. – é criado quando repetimos uma rotina por 21 dias consecutivos no mesmo horário e pelo mesmo intervalo de tempo. Ele conseguiu pensar nisso a partir da experiência como cirurgião plástico, ao perceber um padrão nas suas cirurgias e a atitude mental do paciente no pós-operatório. Maltz percebeu que a grande maioria dos recém-operados, apesar da mudança física drástica, mantinha por certo período as características e crenças de antes. Da mesma forma, os pacientes que haviam sofrido amputações ainda sentiam a presença dos membros amputados, fenômeno hoje conhecido como dor fantasma. O sistema neurológico do paciente levava três semanas para que acompanhasse as mudanças. As pesquisas neurológicas de Maltz demonstraram que a memória de longo prazo precisa das mesmas três semanas de repetições diárias para se estabelecer e ser incorporada."
Ou seja, o hábito, algo tão importante quando falamos em aprender algo, teve sua menção no livro. Além dele temos a protelação de tarefas (procrastinação), planejamento, estabelecer metas e prazos, criação de lista de atividades do dia, entre outras dicas também expostas no livro Aprendendo a Aprender: Como Ter Sucesso Em Matemática, Ciências e Qualquer Outra Matéria de Barbara Oakley.
Outra das muitas passagens úteis para o dia a dia:
"Como exercício diário, você precisa criar uma tabela com o que precisa ser feito naquele dia, e elencar uma ordem de prioridades. O segredo de sucesso desse método é nunca começar pelo que vem por último, pelo que seria mais fácil. Isso é gastar energia que poderia ser empreendida em coisas importantes, com possibilidades de atingir metas e obter resultados. Ao começar pelo mais difícil, você fica mais produtivo. Pegue seu check-list e ataque primeiro o item que dá vontade de sair correndo e mudar de emprego, aquele que você teria a tendência de protelar, aproveite que está com mais energia e faça primeiro isso. Dessa forma, as outras atividades que você conseguir realizar no restante do dia serão um bônus."
Apesar de nos guiar por esse trilho "sucesso pessoal/profissional/financeiro", Garcia consegue nos trazer para perto dele, talvez reflexo de seu lado psicólogo, e fazer com que haja um mínimo de empatia autor-leitor, leitor-autor, em especial quando revela algumas informações pessoais, familiares, profissionais e várias histórias de seus clientes.
Em um certo momento, no capítulo 2 (mas é revisto mais à frente) o autor diferencia as pessoas entre os extrovertidos e introvertidos, atribuindo a cada grupo características próprias no que se refere à realização de tarefas e manutenção do foco. Devo dizer que sempre me considerei introvertido, e sempre vi que muitos assim me consideram, mas não consigo me ver como alguém, nas palavras do próprio Luiz: "O introvertido tem mais facilidade de cuidar de uma coisa de cada vez e manter o foco, daí vem boa parte da necessidade dele de ficar só, encontrar brechas sem interação social". Devo ser um "ponto fora da vírgula".
Por fim, após duas semanas de hiato (algo do qual não me orgulho, já que havia me cobrado a manter leituras diárias), volto a ler o livro e percebo que já estou próximo do final. E gosto do final, pois Garcia trabalha com a possibilidade de errarmos, de fazermos escolhas ruins, mas que devemos sempre tirar proveito disso e nos levantar. Ou seja, mesmo com ótimos hábitos, organização e tudo mais, não estamos livres de erros e imprevistos, e isso é uma coisa essencial a ser abordada num livro como esse, e não apenas uma simples busca por um "sucesso" com uma receita de bolo de "como ser feliz". Ao final, o autor não deixa de nos apresentar as referências bibliográficas.