Soares.Julio 28/03/2023
Batatas defeituosas podem até não crescer mesmo com esforço, mas tem seu próprio jeito de lutar
O sétimo volume de Silver Spoon é tenso, assim como divertido, mas tenso. Hiromu Arakawa preparou esse volume com capa divertida (embora discorde da aparência da Tamako aqui) para uma serie de confrontos. O final do volume anterior com o pai de Hachiken é apenas o começo.
Continuamos no período outonal, dando continuidade ao Festival da EzoAgro, agora sem Hachiken, que sucumbiu ao cansaço. O confronto com seu pai é inevitável, além de ter que voltar ao campus e encarar seus amigos e colegas. Mas as preocupações com o futuro não acabam aí e os jovens tem um mundo nas costas.
Arakawa como sempre no mesmo capitulo ela insere humor e drama. Nos primeiros capítulos do volume isso consegue ser balanceado por conta dela alternar entre núcleos. Aqui dá para perceber como ela se preocupou com andamento dos capítulos. Se no início temos pitadas de diversão e conflito, mais ou menos na metade temos algo mais cômico e leve para que no final os capítulos sejam mais tensos. Aqui eu desgostei de umas situações cômicas em momentos bem importunos, além da piada repetida (Thor Amor e Trovão?), mas os acontecimentos mais importantes estão aqui e elas são boas.
Minamikujo conseguiu ganhar espaço dentro da obra como alivio cômico, gerando pequenos momentos engraçados. O pai do Hachiken me lembrou Hohenheim, pai do Ed e do Al em FMA, no primeiro encontro com o Ed após a transmutação humana: Ele foi rígido, ele foi grosso, mas foi cirúrgico nos questionamentos ao filho. Hohenheim ao meu ver, estava exercendo o poder de pai e queria ensinar algo ao filho com sua rigidez ao abordar algo tão sensível. Aqui o pai do Hachiken me pareceu querer sim ensinar algo ao filho através de sua rigidez, mas eu vejo muito mais como uma obrigação, e sem levar tanto em conta o filho, não como uma sincera preocupação. Os momentos de diversão no Festival são bem legais. Os personagens em Silver Spoon são bem utilizados, sem cair no esquecimento ou simplesmente muleta. As amizades construídas nos volumes são muito boas de se ver florescendo. Mas claro que não posso deixar de falar dos ensinamentos da mestra Arakawa. O que mais me chamou a atenção foi o olhar do Hachiken às batatas defeituosas que não serviam para fritar. No momento Hachiken ainda não possui nenhum sonho em mente e ao lidar com o pai que é sinônimo de cobrança, ele tendeu a se ver nessas batatas. Mas ao ouvir as palavras do Nishikawa de que até mesmo as batatas defeituosas tinham seus métodos de lutar, talvez isso lhe tenha sido agregado.
O volume foi uma montanha russa de emoções. Ver o Hachiken lidando com o pai e como é a relação entre a família Hachiken foi algo bem esperado, até pelo plot do mangá. Vemos a convivência conturbada que fez Hachiken ir para uma escola por ser longe de casa e ter dormitórios, mas não só isso: temos a relação do Hachiken com a Mikagê ainda caminhando para algo a mais. O modo como eles se encaram não é mais o mesmo.
Foi um bom volume e mesmo a obra chegando próximo a sua metade, ela não perdeu o folego. Hachiken ao ver o pai foi um algo a mais para ele, pois seu pai representa aquilo que ele quer abdicar e saber que não poderá voltar atrás. É algo que chama atenção para quem lê Silver Spoon, essa veracidade da vida, essas lições, os tropeços que temos que lidar, mesmo que muitas vezes nós lutemos bastante para não cairmos. Rocky uma vez nos disse que o que dá valor ao homem não é não cair, mas cair e sempre se levantar, mas e quando a nossa queda representa o fim dos nossos planos? E quando a nossa queda pode nos fazer perder uma oportunidade única? Nós temos que lidar com situações reais de nossas vidas de que a coisas nem sempre são como queremos que seja e mesmo que lutemos, não podemos simplesmente nos levantar e encarar de novo. Temos contas as pagar e responsabilidades para lidar. Até podemos nos levantar de novo e encarar as coisas, mas isso varia de classes econômicas. As vezes temos que nos levantar para encarar outras lutas e as vezes temos a oportunidade de nos prepararmos para mais na frente encarar nossos sonhos de novo.