Soares.Julio 04/04/2023
O ultimo leite do Rancho Komaba ordenhado essa manhã
Oitavo volume de Silver Spoon marca a metade da obra de Hiromu Arakawa. É um ponto de virada tanto na vida de Komaba quanto da jovem Aki Mikagê, do qual tanto me lembrava do anime. É o início do inverno em Hokkaido e é quando as grandes decisões devem ser tomadas.
Damos continuidade à desistência de Komaba e suas implicações, mas ainda é outono e Arakawa opta por relegar esse fato ao início do inverno que inicia no terceiro capitulo do volume. Arakawa desde FMA demonstra o quanto ela se aplica aos estudos para dar embasamento as suas obras e no início do volume 8 temos um capitulo destinado a fabricação de queijo. É um capitulo divertido assim como parte do próximo. Mas o inverno está chegando.
Ao terminar de ler o oitavo volume, tinha a impressão dele ter sido um volume mais tenso do que ele realmente foi em seu total. Temos aqui momentos decisivos, de deixar qualquer um que acompanha os personagens tensos com o que virá pela frente na vida desses jovens, mas os primeiros capítulos foram divertidos, assim como diversas situações entre momentos mais delicados. Mas o que marca no final é realmente o ponto de virada que acontece com os nossos protagonistas.
Hachiken já havia percebido algo estranho no comportamento de Aki e Komaba, mas não lhe ocorria que o destino de ambos estava entrelaçado e sustentado pelo esforço do jovem Komaba, que não dependia apenas dele. Se no final do volume anterior vimos Komaba sair e o narrador nos afirmar que ele não voltaria, no volume atual nós vemos ele se desligando da EzoAgro. A derrota é algo que permeia a maioria dos mangás de demografia shonen em algum momento. Sempre como uma lição a ser aprendida, mas geralmente o que nós temos é a queda e a subsequente ascensão. Mas quando se fala de uma obra que tende a falar mais da vida real como Silver Spoon, não vai ser apenas o treinamento que vai lhe salvar. Na verdade, a obra se trata do seu tempo (por volta de 2011) no Japão, onde muitos pequenos produtores se encontravam em situações não tão agradáveis (não posso dizer por hoje). A queda da família Komaba levanta a questão em diversos alunos sobre como anda as dívidas de suas famílias. Nem todos vieram de famílias ricas como os Inada que apostaram na automação e que podem cobrir os riscos. Mas Komaba nos dá uma centelha de esperança por conta de sua bravura, seu trabalho duro e seu sonho de se reerguer.
A queda de Komaba faz com que a Aki repense sobre seu sonho do qual parece guardar apenas para si. A perca do sonho do ser humano é algo de grande peso, mas e quando você não chega a lutar por ele? Vemos então os desafios de Aki Mikagê sobre suceder o rancho dos Mikagê em contrapartida de seus sonhos internos. Vemos Hachiken lutar por isso com ela. O Garoto Que Nunca Diz Não e que não tem sonhos decide apoiar Mikagê, até mesmo por conhecer a sensação de impotência de não poder ajudar Komaba como gostaria. A relação dos dois se entrelaça de uma maneira incrível.
Um dos melhores volumes até agora sem sombra de dúvida. Arakawa apostou na estética de dar ao inverno a incumbência de trazer a dureza da vida e isso foi bem legal. No final do último capítulo de outono nós temos péssimas notícias, como se a autora nos quisesse predizer que o inverno seria duro. Foi algo que deu um charme a mais, além de nos fazer lembrar que o inverno não acaba nesse oitavo volume e ficarmos apreensivo com o que o inverno ainda trará consigo.
A dura realidade do sistema econômico japonês aliado a diversos personagens em diversos cenários inserido dá a obra um escopo parrudo e bem estruturado. São pessoas vivendo suas vidas preocupadas com que o futuro os reservas assim como há pessoas em todas as partes do mundo vivendo desta forma. A luta pelo sonho é cheia de incertezas. Mas claro que o mangá, assim como a nossa vida, não nos diz para desistirmos, mas nos pega pelo colarinho e nos diz que vai ser difícil, mas que se nos esforçarmos e sabermos onde queremos ir, vamos conseguir. No final consegui sentir esperança pelo Komaba em sua nova jornada por se tratar de um personagem tão forte e firme. Torcerei pela Mikagê até que ela consiga realizar seu sonho e fico feliz pelo Hachiken que mesmo sem um sonho, lutar pelo que acredita; ele cai e se levanta. A partir do momento em que você expõe seu sonho ao mundo, você tem que lutar por ele pois você vai ser cobrado, mas isso também é bom, porque é quando as primeiras barreiras aparecem e você pode passar por elas.
Que incrível é estar acompanhando Silver Spoon. Hiromu Arakawa é incrível. Mesmo a JBC lançando o volume numa folha quase transparente, eu ainda fico feliz dessa obra estar sendo lançada no Brasil. Devo dizer também e ressaltar que essa obra me faz rir alto. Mesmo em obra engraçadas, é comum eu rir para dentro, mas Silver Spoon me faz rir alto as altas horas da noite e isso é incrível. E para fechar, num dos extras aparece uma ilustração da Arakawa com seu filho. Arakawa mãe é uma das coisas mais fofas que vi nessa semana. Ela também desenhou a mestre Rumiko Takahashi num dos extras. Conseguir imaginar as duas no mesmo evento é incrível para mim rs.