Sâmella Raissa 10/01/2016Resenha exclusiva para o blog SammySacional
Em seu livro de estreia, Dayse Dantas nos apresenta Camilla, uma jovem aparentemente como outra qualquer, com uma família estável, bons amigos e as notas sempre tão impecáveis no Colégio Coliseu. Em pleno terceiro ano do Ensino Médio, no entanto, a pressão do vestibular aumenta, e à medida que alguns novos conflitos, familiares, escolares e amorosos surgem em sua pacata rotina, sua única chance de distrair-se um pouco mais é através do alter ego ficcional "Agente C", devidamente publicados em um blog de conhecimento entre os seus amigos, narrando o cotidiano nada pacato de uma agente secreta não muito convencional, mas não menos habilidosa e sarcástica.
É com muita descontração que avançamos por entre a narrativa fluida e leve de Dayse e conhecemos os seus personagens de personalidades distintas, mas não menos cativantes, em um enredo que, por mais clichê que pareça por sua sinopse, se mostra um young adult contemporâneo nada bobinho mas muito interessante, envolvente e por vezes divertido. Com o passar da leitura, alternamos entre a história propriamente dita e alguns pequenos contos da Agente C, que apesar de parecerem uma interrupção na leitura, são momentos de descontração realmente divertidos e que, na verdade, complementam a trama principal de uma forma bem singular.
“Sempre foi meio que nossa marca registrada, os não dramas românticos da adolescência.”
Os personagens, em um pano de fundo geral, são muito carismáticos e mesmo cativantes. Muitos deles, logo em suas primeiras aparições já foram capazes de me arrancar sorrisos, como o João, o Thiago, a Carol, a Fran, a Marcela e mesmo a Jorges, que está presente apenas nos e-mails trocados com a Camila durante o livro; cada um se apresenta a seu modo, mas o que todos eles tem em comum, felizmente, é a presença forte na história. Não importa se são personagens secundários, à todo momento em cena eles se fazem notar e interagem com a protagonista de uma forma muito natural e não menos sinceras e envolventes.
“— Não, Marcela, olha. Juro. Você não está perdendo nada. Sério, sua ignorância com dramas é um dom e você deveria se aproveitar dele enquanto durar, porque não acho que você vai conseguir evitar dramas pelo resto da vida.
Marcela observa Fran na varanda, conversando ao telefone. Parece cansada.
— Eu só não quero ser insensível com os sentimentos de ninguém.
— Você não é, eu juro. Só um pouco ignorante. Mas acho que todo mundo é ignorante em relação aos sentimentos dos outros. Às vezes a gente é ignorante até com nossos próprios sentimentos.
— Tipo você e essa negação ridícula com João.
Eu rio.
— É. Tipo isso.”
A Camilla, da mesma forma, é uma protagonista com uma presença tão natural, mas não menos firme, que a narrativa se seguiu tão convincente para mim a ponto de, em outras circunstâncias, poder ser quase real. Mas, na verdade, ela tem sim muitos toques de realidade. A naturalidade com que tudo transcorre, em meio aos conflitos do dia-a-dia e os consigo mesmos, são tão bem apresentados que cheguei a me identificar com a personagem e o enredo como um todo em vários momentos. Outra coisa de que particularmente gostei muito na protagonista foi a ausência dos típicos 'mimimi's adolescentes. Sim, conflitos inesperados na família, entre os amigos, na escola e com a pressão do vestibular são devidamente retratados na história, mas em nenhum momento eles são apresentados de forma exagerada ou maçante. A própria Camilla, por si própria, não é adepta de grandes dramas - por mais filosofa que ela possa soar em alguns e-mails, rs - e é muito prática e sincera em suas opiniões e interações. Nada forçada, apenas uma personagem com uma atitude um tanto quanto despojada com quem me identifiquei em muitos momentos.
Em um contexto geral, Nada Dramática é o que o próprio título sugere - uma história sem maiores dramatizações, apenas uma boa dose de realidade de um ponto de vista mais jovem e descontraído, mas não menos natural. Um enredo com o qual muitos vão se identificar, e personagens que estão longe da perfeição, sendo, então, simplesmente humanos, vivendo suas vidas da forma mais tranquila possíveis, com doses alternadas de fortes emoções ou surpresas naturais da fase que certamente me envolveram e conquistaram! Leitura recomendadíssima!
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