Não conte nada a ninguém

Não conte nada a ninguém Paulo Fernandes




Resenhas - Não conte nada a ninguém


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Barbara 20/07/2014

O livro Não conte nada a ninguém de Paulo Fernandes trata, de forma sensível, de uma série de acontecimentos da vida da protagonista Helena. Em primeira pessoa é narrada sua difícil subida por vários degraus até alcançar o sucesso no ramo imobiliário através do leilão.
Nos momentos mais difíceis da vida pregressa da protagonista, o amor incondicional, a fé e o sonho formam o tripé que funciona como uma alavanca, impulsionando-a na árdua tarefa de sobreviver a despeito de todas as adversidades.
Baseada em fatos reais e ambientada em contextos histórico-sociais e político que marcaram o planeta em determinadas épocas a história oferece ao leitor uma espécie de “gerenciamento próprio financeiro” pautado na concepção de controle dos gastos e da economia de parte da própria renda.
Enquanto relata acontecimentos emocionantes de sua vida pessoal, Helena propõe-se a suscitar a curiosidade do leitor, abarcando diferentes públicos por meio de estratégias específicas de comoção e de convencimento. As diversas tentativas de empreendedorismo conduzem a protagonista à busca por um segredo guardado a sete chaves até a sua consolidação e, por fim, a sua revelação.
Ao analisar a capa da obra, observa-se uma imagem impactante sobre um jogo de luz e de sombra que atrai a atenção tanto daqueles que buscam uma leitura específica quanto os que buscam somente o deleite. A foto em preto e branco de uma mão masculina cobrindo os lábios de uma jovem com um olhar apavorado compõe um cenário de medo e, ao mesmo tempo, repressor.
A partir dos ensinamentos de Louis Althusser (Aparelhos Ideológicos do Estado), crê-se que a mão forte e repressora tenta calar o segredo a ser revelado, simbolizado pelos lábios frágeis, reprimidos e vedados; contrastando o poder opressor sobre o oprimido.
Os olhos arregalados e penetrantes da menina, além de transparecer um pedido de ajuda ao leitor, parecem exibir um sinal de que há realmente um segredo a ser revelado e, também, um convite para mergulhar no seu universo desconhecido.
Após observar algumas mensagens subliminares nas letras e até mesmo nos olhos de Helena, é possível perceber que o título traz a cor azul para marcar as palavras: “conte” e “ninguém” que denota a intenção do autor de desnudar um segredo através da forma imperativa do verbo, em que “ninguém” representa a voz do opressor (simbolizado pela mão masculina) a fim de que o segredo seja revelado àqueles considerados “oprimidos” pelo Estado, pela mídia e pela cultura (que oferece uma visão tubular da realidade) do consumismo e do superendividamento.
No subtítulo há uma recorrência à estrutura intertextual de que um segredo deve ser guardado a sete chaves, atuando no universo ideológico do leitor, compactuando com a imagem e com o título. Desse modo, o segredo ganha um status maior, já que a sua revelação pode trazer graves consequências.
Se a leitura for guiada à contracapa, há uma belíssima citação do teórico sociointeracionista Lev Vygotsky sobre a relação palavra-ideia, coerente com o ambiente da capa. Na sinopse, o autor prenuncia que a protagonista, uma menina pobre do subúrbio carioca, guarda um segredo capaz de mudar o futuro dos que se aventurarem a mergulhar nessa aventura. A história a ser contada, livre de qualquer pudor, parte do pressuposto da curiosidade humana que parece incitar o leitor através do roteiro.
Ao que tudo indica o público cria uma expectativa de leitura focada em um romance ou drama configurada pela sinopse, porém para aqueles que lerem a orelha da capa, propaga-se a curiosidade acerca de uma visão sistematizada dos processos e dos recursos a serem apresentados pelo autor, passo a passo, sobre como alcançar o sucesso no ramo imobiliário. A meu ver, essa última é ofuscada pela perspectiva da primeira.
O autor corre dois riscos: pode frustrar aqueles que buscam um romance ou aqueles que procuram o “gerenciamento próprio financeiro”. Talvez o seu objetivo seja o de trazer os “oprimidos” e “desinformados” à luz dos seus ensinamentos, uma alternativa de administração e de multiplicação do próprio patrimônio.
Os fatos são narrados com otimismo numa linguagem clara e didática, baseados em contextos políticos e sociais com sucessivos empreendimentos de sucesso. Para os incrédulos pode parecer ficção, mas para os audaciosos pode parecer uma injeção de ânimo para se aventurarem num negócio desconhecido pela massa.
O autor, percebendo a tendência que poderia se inclinar para a ficção, desloca o foco de Helena, recorrendo a exemplos de pessoas comuns que atingiram mais do que acreditavam almejar através do ramo imobiliário. O segredo revelado aparentemente se desenvolve em uma cartilha com um passo a passo aos que desejam se aventurar nessa área.
Retomando a dicotomia “opressor” x “oprimido”, pode-se entender que o medo de se arriscar em um negócio é o principal elemento repressor, aliado a uma ideologia de que há apenas uma maneira de se ganhar dinheiro: por meio do salário ou de que certas classes sociais permanecerão escravas dele, o que as tornam acomodadas ao que lhes é oferecido por um poder maior. O oprimido também é o medo, fundamentado no conformismo, principalmente daqueles que não ousam, sim porque o livro destina-se aos leigos, iniciantes no ramo; e não àqueles que já o dominam.
Tem-se, portanto, uma boa leitura, incentivadora e motivadora, ou pelo menos ousada, já que narra detalhes de um negócio tão secreto de acesso restrito e pouquíssimo divulgado: o leilão imobiliário. Esse é o “pulo do gato”. O autor tece, de forma coerente e coesa, um panorama cronológico de acontecimentos da vida de Helena até chegar ao seu objetivo final, alcançar o sucesso no ramo imobiliário, ou não.



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