Wal - Ig Amor pela Literatura 01/02/2019Uma poesia...Terminei essa leitura com uma sensação de completo encantamento. Poucas vezes um livro mexeu tanto com minhas emoções, mas ao mesmo tempo nunca me senti tão atada para falar de uma história. Faltam-me palavras para descrever toda beleza e sensibilidade que couberam dentro dessas páginas. Queria eu, como o personagem Badini, falar tudo sem muito dizer, mas me falta a sabedoria do mudo – sim!, pois já desconfiava, mas saí daqui com a certeza que o silêncio, às vezes, diz muito mais que todas as palavras.
Para onde vão os guarda-chuvas? Quem nunca se perguntou isso? Todos perdemos um, em algum momento da vida, mas nunca deparamos com alguém que os tenha encontrado. E por que esse título? O livro do Afonso Cruz fala, acima de tudo, sobre nossas perdas e de como o nosso mundo desaba por conta da morte de alguém querido, mas é também uma história sobre todas as dores – o amor que se vai, as ausências que preenchem todas as lacunas, as memórias que permanecem entranhadas em cada espaço.
São muitos personagens, pessoas extremamente fortes, mas cada um levando, à sua maneira, alguma fragilidade. A tolerância, o respeito às diferenças e a crença que podemos viver juntos apesar de tudo que nos diferencia é algo que grita em todas as linhas do texto. Existe, sim, muito revolta com todas as injustiças, mas ao mesmo tempo, existe uma fé inabalável na bondade humana – sobretudo naqueles que carregam a doce poesia da simplicidade em seus corações.
“Ninguém encontra guarda-chuvas, mas toda a gente os perde. Para onde vão as nossas memórias, a nossa infância, os nossos guarda-chuvas?"
Compreendemos o que Afonso se propôs a dizer e perguntamos: para onde vão as crianças mortas pela violência urbana ou pelas guerras provocadas pela intolerância religiosa?; para onde vão os filhos que partem, antes dos pais, deixando um vazio impossível de ser preenchido?; para onde vão as vidas e a alegria dos soterrados pela lama das mineradoras? – ficam somente as respostas filhas da ganância e do descaso pela vida alheia.
Afonso não escreveu um livro, escreveu uma imensidão de poesia que nos salva, um pouco, das enxurradas de maldade que nos tentam calar a voz...todos os dias.
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