Fausto

Fausto Goethe




Resenhas - Fausto


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Regis 11/09/2022

Fausto é uma lenda alemã, difundida oralmente ao longo do tempo, foi publicada a primeira vez em forma de livreto em 1587, o poema dramático e de Johann Wolfgang Von Goethe foi publicado em duas partes, a primeira em 1808 e a segunda postumamente em 1832.
Henrique Fausto, é um estudioso muito inteligente, ambicioso e insatisfeito, que faz um pacto com Mefistófeles em troca de ter todos seus desejos realizados.

A lenda original na qual se baseia o livro foi inspirada em Johann Georg Faust (1480 ? 1540), mago e astrólogo do Renascimento alemão, apontado como alquimista e acusado de bruxaria e de ter feito um pacto com o diabo.

Saber das referências da obra deixa a leitura mais acessível, tornando mais fácil entrar no poema que tem uma escrita rebuscada e as vezes (principalmente no começo) de difícil compreensão.
Reli as primeiras 25 páginas duas vezes e assim consegui compreender melhor a escrita, fiz muito uso do dicionário, mas nada disso tornou a leitura menos prazerosa e curiosa para mim.
As referências de Fausto na cultura pop são vastas e isso desperta a curiosidade e desejo de mergulhar nessa leitura.

Mefistófeles é um personagem misterioso, e queria entender o que ele fazia ao lado de Deus no início do livro, queria descobrir o que eles conversaram antes da aposta.
As falas dele quando se isenta da responsabilidade da insatisfação de Henrique são ótimas, demonstra a manipulação e astúcia de seus atos.
Gostei muito da segunda metade do poema onde Margarida já aparece desgraçada... ela é um exemplo amplo de derrocada e redenção.
Também adoro a perspicácia dela diante de Mefistófeles, conseguindo interpretá-lo com mestria, como se pudesse ver através de sua fachada.

"Deus me livrara
de conviver com semelhante escória!
Quando entra, encara sempre nas pessoas
como quem zombeteia ou vem zangado;
não toma nada a sério; está-se lendo
naquela testa que ninguém lhe agrada.
Sinto-me tão contente a sós contigo!
tão senhora de mim! tanto à vontade
no calor que a tua alma infunde à minha!
vem ele... e eis-me tolhida inteiramente."

As festas, as viagens, os Reis e figuras proeminentes que Fausto encontra ao longo de sua existência (sempre em presença de Mefistófeles), demonstram bem sua ambição e desmedida busca por saber, fazendo por vezes paralelo com o fruto do conhecimento e o grande pecado que é desejá-lo para si.

Adorei que nesse contrato selado com sangue, quem tira vantagem das letras miúdas não é quem esperamos que seja. Vemos muito isso na literatura, eu mesma vi recentemente em "A Vida Invisível de Addie LaRue", isso foi uma quebra bem vinda das convensões.

A leitura da peça foi de altos e baixos, mas maravilhosa a medida que o inesperado se descortinava a cada ato. O poema possui partes lindíssimas, que me causaram grande emoção.
Acho que a única parte que não gostei foi da apresentação dos personagens no início, é confusa e imagino que isso possa fazer com que alguns abandonem a leitura, mas aviso que logo tudo se ajeita e fica cada vez melhor a medida que os personagens centrais se fixam no enredo.
Tirei meia estrela por esse início truncado.
Ademais recomendo muitíssimo essa leitura.
AnonymousCow 11/09/2022minha estante
Você nem avisou que ia ler e, isso sem surpresa, terminou muito rápido! Estou me segurando para não terminar de ler sua resenha, até pq mal terminei um quarto do livro..


DANILÃO1505 11/09/2022minha estante
Parabéns, ótimo livro

Livro de Artista

Resenha de Artista!


Regis 12/09/2022minha estante
Obrigada Danilo! ?


Regis 12/09/2022minha estante
AnonymousCow, peguei o livro no sábado à tarde, e li até dormir, no domingo peguei logo que acordei e a curiosidade não me deixou parar de ler. Agora poderemos discutir a leitura enquanto você vai lendo. ??


AnonymousCow 12/09/2022minha estante
Te entendo, o livro cativa demais. Vamos conversando sobre sim ?


J. Silva 13/09/2022minha estante
??????????


HenryClerval 05/10/2022minha estante
Conversar com você sobre esse livro foi muito bom.


HenryClerval 05/10/2022minha estante
É incrível como ler suas resenhas e te ouvir falar sobre os livros desperta um entusiasmo crescente de conhecer as histórias.




Erika Daniela 15/01/2017

Você faria um acordo com o Diabo na busca de uma felicidade suprema? Quando se fala de Fausto, logo se pensa nesse acordo. Mas a história não é só isso.
É conhecer o estudioso, sempre insatisfeito, que quer compreender o Universo. É acompanhar o amor juvenil de um homem já adulto. É torcer pelo desenrolar dos fatos e para que ele fuja das armadilhas de Mefistófeles. É um passeio pelo Império Romano, pela mitologia Grega, do Clássico ao Romantismo. É se deparar com a eterna insatisfação humana e essa busca desenfreada para satisfazê-la.
Um livro de muitas leituras e releituras.
Marta Skoober 15/01/2017minha estante
É outro encalhado?


Marta Skoober 15/01/2017minha estante
Nunca antes me senti entusiasmada com o Fausto. Mas confesso que seu comentário despertou a minha curiosidade.


Erika Daniela 15/01/2017minha estante
Pra falar a verdade esse livro tem minha idade. Ganhei uma coleção de clássicos quando nasci. Esse é um dos últimos a serem lidos. Acho que agora só falta O Vermelho e o Negro, de Stendhal


Marta Skoober 15/01/2017minha estante
Então o Desafio está ajudando a movimentar a estante.


Erika Daniela 15/01/2017minha estante
Sim :)




Bu 30/06/2020

Um grande clássico.
Muito bom, excelente, uma das melhores leituras que fiz de todos os tempos, edição de uma pompa... A única coisa que tenho de reclamar são as notas no fim do livro, que não são poucas e trava um pouco a leitura principalmente da segunda parte, pelo fato de ir e vim pra o fim do livro sempre, mas deve também esse desconforto meu ter o costume de ler livros com notas de rodapé, e tem notas desnecessárias e repetidas também. Mas tanto tradução como diagramação gramatura e tipo de página, corte prateado fitilho, coisa linda. Indico principalmente pra quem gosta de poemas e epopéias.
Henrique Oliveira 30/06/2020minha estante
A tradução é direta do alemão?


Bu 01/07/2020minha estante
Sim, por Agostinho D'ornellas.


Henrique Oliveira 02/07/2020minha estante
Valeu




Gláucia 04/12/2016

Fausto - J. W. Goethe
O tema é universal e seus personagens se tornaram simbólicos. Sem ter lido muita gente conhece a história do doutor Fausto que vendeu a alma ao demo Mefistófeles em troca de todo o conhecimento do mundo e juventude, ferrando de quebra a vida da jovem Margarida.
Li por essa edição da Martin Claret, numa famosa tradução de Agostinho D'Ornellas do século 19 e a primeira para a língua portuguesa.
O poema se divide em duas partes, a primera achei bem mais interessante e é onde temos praticamente toda a trama envolvendo os personagens. Na segunda parte há um encontro com várias figuras épicas da mitologia grega.
Tudo é muito interessante e icônico mas tenho grande problema em ler poesia (e aqui temos poesia pura, não texto poético). Quando percebo não estou mais centrada no texto e tenho que reler às vezes mais de duas vezes cada trecho. Sem falar que depois li um resumo da obra pra ver se tinha perdido muita coisa e fiquei surpresa em averiguar que sim, perdi e coisas importantíssimas na história, por exemplo um infanticídio e uma morte acidental causadas por Margarida. Isso me fez perceber minha grande incapacidade de assimilar e compreender poesia. Reli essas partes pois fiquei frustrada ao descobrir que passaram batidas. Teriam sido mesmo traduzidas por Ornellas?
Geórgea 05/12/2016minha estante
Também não me considero uma boa leitora de poesia. :( E acabo não insistindo muito no gênero por esse motivo. Logo, acabo não praticando também. A prosa é tão melhor, né?


Gláucia 05/12/2016minha estante
Muito melhor! Pra mim é como ver filmes musicais, por que não falam de uma forma normal ao invés de sair cantando do nada e por qualquer coisa?


Geórgea 06/12/2016minha estante
Hahaha! Concordo! Gosto de poucos musicais, em alguns a minha atenção vai para o espaço enquanto estão cantando! Gosto dos filmes que conseguem mesclar falas e músicas sem exagero nas músicas, assim facilita a compreensão.




Mateus com h 28/03/2020

Mais um clássico pra conta
Tive o auxílio de leituras complementares. A versão da Martin Claret acaba sendo densa para leitores comuns como eu.

Goethe consegue sintetizar de maneira muito honesta e poética a natureza humana. Principalmente na segunda parte.

Pretendo reler esse ano, porém a versão da editora 34.

Magnífico. Um clássico que me encheu de abstratos e infinitos.
Kim 29/03/2020minha estante
Mas que bonito o que cê disse!, deu vontade de ler.


Mateus com h 29/03/2020minha estante
Recomendo forte




Elane48 11/09/2021

ATÉ OS CANALHAS ENVELHECEM
Gente, que leitura difícil, mas cada verso valeu a pena! Essa obra é mais uma leitura concluída do meu projeto "Ler todos os clássicos que puder". Como já revelei em outra ocasião, por ter gostado muito de "Os sofrimentos do jovem Werther" era imprescindível a leitura desse mega clássico "Fausto". Terminei agorinha mesmo e, de novo, Margarida me comoveu. Quem me conhece sabe a predileção que tenho pelos vilões/vilãs e Mefistófeles não me desapontou. Que personagem!!!! Ele me fez rir, eu realmente curti essa figura. Por outro lado, que cara chato, mimado o protagonista Fausto! "Oh, qual o sentido da vida?..." E façam-lhe todas as vontades! Fez um pacto com o demo e ele lhe deu tudo o que quis... E no final ainda se deu bem! Sim, ele tem um "final feliz". Margarida, a quem tanto mal ele fez, estava lá para garantir que sua alminha medíocre fosse bem recebida no Paraíso.
Quem pretende ler "Fausto" já previno: Dois terços da segunda parte (o que alguns chamam de "Fausto II") é bem difícil! Se quiser entender o texto, esteja com disposição, procure ler em voz alta (a mim isso ajuda muito) e sem nenhuma distração, porque é um lance psicodélico!
Não me espanta Goethe ter dedicado tanto tempo para escrever esse magnânimo livro. Eu me sinto um vitoriosa, porque foi um grande desafio.
carolmds 05/04/2022minha estante
Eu tbm tô nesse projeto!!


Elane48 06/04/2022minha estante
Espero que vc goste, pq eu curti muito esse livro!




Eliane406 23/01/2024

O mito do homem moderno
Drama filosófico que, ao mostrar a procura como fonte pulsante da vida, transfigura-se em odisséia do homem moderno

Eloá Heise

A tragédia Fausto é, sem dúvida alguma, um dos textos que empresta a Goethe repercussão universal. Nela, pode-se dizer, o poeta expressa a experiência de toda sua existência. O próprio autor afirma em Poesia e verdade, que essa obra representa o ?suma sumaruim? de sua vida. Não se pode esquecer que Goethe trabalhou durante 60 anos com esse tema : de 1772 (com seus trabalhos sobre o Urfaust ? Fausto zero como ficou conhecido pela tradução encenada no Brasil) até 1832, ou seja, pouco antes de sua morte, ano em que postumamente é publicado o Fausto II. Em seu longo processo de elaboração, esse texto congrega as várias transformações pelas quais passou o poeta em sua longa vida: os vários períodos literários da época ? Ilustração, Sturm und Drang, Classicismo, Romantismo -; as diversas atividades do poeta junto ao estado, no meio teatral, seus interesses científicos ? botânica, mineralogia, estudo das cores -; seus estudos filosóficos ? teologia, teosofia, escritos mágico-místicos -, além dos conhecimentos da mitologia antiga.

Fausto, além de ser a obra simbólica da vida de Goethe, adquire também significado universal por materializar o mito do homem moderno, o homem que busca dar significado a sua vida, que precisa tocar o eterno e compreender o misterioso. Sob este aspecto, o mito faústico transforma-se em um ?mito vivo?, um relato que confere modelo para a conduta humana.
Lucas2071 29/01/2024minha estante
Melhor leitura que fiz na vida, é o livro que dá pra ler ao longo de toda sua existência e sempre vai aparecer algo de novo




Don Thiago 13/05/2010

Apesar de sombrio um tema para reflexão
Eu sou Mephistópheles. Mephistópheles, é o diabo. E todos vocês são Faustos. Faustos, os que vendem a alma ao diabo.
Tudo é vaidade neste mundo vão, tudo é tristeza, é pop, é nada. Quem acredita em sonhos é porque já tem a alma morta. O mal da vida cabe entre nossos braços e abraços.
Mas eu não sou o que vocês pensam. Eu não sou exatamente o que as Igrejas pensam. As Igrejas abominam-me. Deus me criou para que eu o imitasse de noite. Ele é o Sol, eu sou a Lua. A minha luz paira sobre tudo que é fútil: margens de rios, pântanos, sombras.
Quantas vezes vocês viram passar uma figura velada, rápida, figura que lhe darei toda felicidade. Figura que te beijaria indefinidamente. Era eu. Sou eu.
Eu sou aquele que sempre procuraste e nunca poderá achar. Os problemas que atormentam os Deuses.
Senhores, venham até mim, venham até mim, venham. Eu os deixarei em rodopios fascinantes, vivos nos castelos e nas trevas, e nas trevas vocês verão todo o esplendor.
De que adianta vocês viverem em casa como vocês vivem? De que adianta pagar as contas no fim do mês religiosamente, as contas de luz, gás, telefone, condomínio, IPTU?Todos vocês são Faustos. Venham, eu os arrastarei por uma vida bem selvagem através de uma rasa e vã mediocridade, que é o que vocês merecem.
As suas bem humanas insaciabilidade, terão lábios, manjares, bebidas.É difícil encontrar quem não queira vender sua alma ao diabo.
Joyce 31/01/2011minha estante
Venham, eu os arrastarei por uma vida bem selvagem através de uma rasa e vã mediocridade, que é o que vocês merecem. HAHAHAHAHAHA
Amei o final!!!!




Capitu 26/05/2021

Época
Estudo numa escola Waldorf, então sempre contemplamos Goethe e sua obra; essa leitura foi para época (aula) de literatura, da qual lemos o textos e debruçamos sobre o autor.
Usei o livro e li a parte, embora alguns diálogos vi também em aula.
A escrita de Goethe é cheia de referências e auto bibliografias, e também pelo fato do livro ser escrito em versos a leitura ficou fluida e continua.
E a obra em si é maravilhosa, mas gostaria de um final diferente pra Fausto.
Isabela 06/06/2021minha estante
Essa edição é a versão completa ou só a primeira parte?




Coruja 15/03/2011

“Talvez a graça permita que algo de bom nos venha daquilo que foi criado pelo mal.”
De todos os trabalhos que fiz na faculdade de direito, aquele com que mais me diverti foi um trabalho de teoria dos contratos, e que tínhamos de analisar a questão dos contratos de adesão e cláusulas abusivas à luz do Fausto de Goethe.

Bem, a coisa começou mais ou menos assim: a professora passou uma lista de livros para a turma se dividir em grupos e trabalhar um daqueles. Inicialmente, iria haver sorteio dos livros, mas ninguém - absolutamente ninguém - queria pegar Goethe (que era o único livro de literatura da lista)...

Minto. Havia duas pessoas na sala que adorariam pegar Goethe, mesmo porque, ambas já tinham lido o livro. E as duas pessoas estavam no mesmo grupo. Entre eu e Davi, Guilherme e Carol não tiveram muita escolha.

E todos ficaram felizes da vida que Fausto não estaria no sorteio.

Fizemos a divisão do trabalho de forma que, a cada tema que começássemos, também se aresentasse um trecho da obra. De alguma forma que não sei explicar muito bem, misturamos Goethe com Confúncio, Shakespeare e Al Pacino em O Advogado do Diabo. Fizemos o contrato assinado e selado com "sangue" (e, ao final da apresentação, demos o pergaminho de presente para a professora).

Modéstia à parte, foi o melhor trabalho dos apresentados no ciclo de seminários. Até porque, em nenhuma outra das apresentações, estavam presentes Deus e o Diabo.

Quando dividimos a questão da pesquisa, eu fiquei com a introdução, para falar justamente da parte literária do trabalho. E, qual não foi minha surpresa ao descobrir que Fausto não era exatamente um personagem exclusivo de Goethe...

Por volta de 1540, morreu na Alemanha um mágico errante largamente conhecido à época chamado Jorge Faust, ou, simplesmente, Doutor Faust.

Fausto foi contemporâneo de outros magos conhecidos – tal como Paracelso e Agrippa, numa época em que o estudo da magia interessava aos acadêmicos, que se viam habitantes de um mundo governado por forças invisíveis. Sorte dele, pois, tivesse vivido um pouco mais, teria certamente sido alvo da perseguição empreendida pelos partidários de Lutero e pela própria Inquisição.

Foi Lutero, aliás, juntamente com seus seguidores, que acabou por demonizar a figura do mago, ligando-o a Satã e culpando o mestre infernal por sua morte. A idéia do contrato com data marcada, entretanto, só se tornaria conhecida em 1587, com a publicação do Faustbuch, em Frankfurt.

Essa primeira obra apresenta Mefistófeles (do grego Mefotófiles ou Me to fós files – “a luz não é amiga”, em clara contraposição a “Lúcifer”), um espírito demoníaco, que se compromete a servir a Fausto, obedecendo-o e conseguindo para ele tudo que este desejasse, respondendo todas as suas perguntas sem nunca faltar-lhe à verdade. Em troca, Fausto assinaria um documento dizendo que, após 24 anos de serviço, se todos os seus desejos tivessem sido satisfeitos, o diabo “poderá fazer de mim o que quiser, à sua maneira e conforme à sua vontade, apossar-se do meu corpo, alma, carne, sangue e bens”.

O Faustbuch constitui-se, entretanto, mais em uma comédia farsesca, explorando as situações pelas quais passa Fausto, envolvido pelas artes de Mefistófeles.

Foi depois de ter caído nas mãos do teatrólogo Cristopher Marlowe (contemporâneo de Shakespeare), que a obra ganhou, em 1592, a dimensão trágica que conhecemos hoje. Marlowe conseguiu desenvolver em sua peça os três pilares do mito: a excitação pelo conhecimento, o entusiasmo pela beleza terrena e a danação espiritual. Dois séculos depois, Goethe daria a história um significado ainda mais amplo.

À primeira cena de Marlowe, vamos encontrar Fausto debatendo-se sozinho em seu gabinete de estudo, avaliando todos os ramos do conhecimento com desalento. Começando pela lógica, ele logo se decide que tal ciência tem como finalidade apenas permitir “que se discorra bem” e ele não tem necessidade mais de estudá-la, pois já aprendeu a usá-la e, de qualquer maneira, ele crê que seu “gênio... requer algo maior”.

Avalia então a medicina e, como médico, vê que já alcançou a fama. Apesar disso, “és apenas um homem, Fausto”. De que lhe adianta a medicina, se não pode ressuscitar mortos ou ter a vida eterna? É então que ele se volta para a magia e, a partir daí, liga-se a Mefistófeles.

O Fausto de Goethe é diferente nesse aspecto. Vamos encontrá-lo primeiro passeando por entre as pessoas do povoado onde mora – estamos no meio de um festival e ele se compraz em ver as pessoas se divertindo; mas ele mesmo não se diverte. É um personagem respeitado e admirado por todos, mas permanece isolado em seu próprio mundo – é individualista ao extremo.

Quando Mefistófeles aparece para lhe propor o acordo (acordo esse que começou com uma aposta entre Deus e o Diabo, numa cena que muito lembra o livro de Jó, no Antigo Testamento), não é propriamente ao conhecimento que ele tenta em Fausto, mas à necessidade que este sente em se ver como um homem comum entre os outros:


> Não te é marcado nenhum limite, nenhuma finalidade. Se te agradar experimentar um pouco de tudo, apanhar em vôo o que vier, faz como entenderes. Vamos, liga-te a mim, não tenhas medo!

> Sabes bem que não se trata de divertimentos. Eu consagro-me ao tumulto, aos prazeres mais dolorosos, ao amor que sabe a ódio, à paz que sabe a desespero. O meu coração, curado do ardor da ciência, não ficará daqui em diante, fechado a qualquer dor. E o que é quinhão de toda a humanidade quero-o concentrar no mais fundo do meu ser; quero, pelo meu espírito, alcançar o que ela tem de mais elevado e mais secreto; quero acumular no meu coração todo o bem e todo o mal que ela contém, e inclinando-me como ela, quebrar-me da mesma forma.


O Fausto de Goethe vive em estado de mórbida insatisfação, no tédio de nunca encontrar o que quer que mitigue sua existência, na desesperança de sua vida como acadêmico. Nada jamais correspondeu às suas expectativas, suas esperanças em compreender o mundo se desvaneceram e tampouco chegou ele a conhecer alguma das alegrias normais da existência.

Destarte, diante da oferta de Mefistófeles, Fausto nada vê a perder. A aposta, então, está lançada.


> Não haja dó, não haja mora! E, se um dia eu disser ao momento que passa: “pára, és tão formoso!”, então me faz morrer ao teu contento, pois decerto morrerei bem venturoso. Que toques então o sino derradeiro; que tua obrigação comigo tenha fim; que a hora pare, que caia o ponteiro e que o Tempo termine para mim!


Ou seja... No dia em que alcançasse afinal algum gozo, sua alma estava entregue ao demônio. Goethe transformou o contrato com data certa de expiração, que aparecia em Faustbuch e A trágica história da Vida e da Morte do Doutor Fausto num prazo aparentemente infinito. Tanto é que, se nessas primeiras obras, Fausto não sobrevivia aos 24 anos acertados (e que, à época, era a idade canônica da maioridade, e não os nossos atuais 21 anos), enquanto o de Goethe chega até quase os cem.

Fausto assim, dispõe de sua vida mortal e de sua alma – que pagaria pela eternidade pelo contrato feito. E, com sangue, assina o contrato.

Outra obra que trabalha com essa temática é O Mercador de Veneza, de Shakespeare (um dos meus textos favoritos do bardo). Nessa peça, Antonio, mercador, amigo de Bassanio, um jovem nobre que muito já despendeu suas heranças, faz um contrato com Shylock, judeu e usurário. Para que Bassanio possa cortejar uma rica e formosa senhora, Antonio empresta dinheiro com Shylock, afirmando que, não pagando a dívida até a data aprazada, dará “uma libra de carne” ao seu credor.

Bassanio ainda reflete por algum instante se aquilo seria certo, mas Antonio garante que, muito antes do prazo se vencer, os navios mercantes que a ele pertenciam teriam voltado, e ele teria sua fortuna de volta. O que seriam, então, três mil ducados?

Por ironias do destino, enquanto Bassanio consegue conquistar a bela Pórcia, Antonio descobre que seus navios soçobraram em alto mar. Resta a ele então pedir clemência a Shylock, o mesmo que era chamado de cão e vilipendiado pelos amigos e pelo próprio Antonio por sua condição de judeu e usurário.

Shylock é irascível em sua vingança – sim, porque o contrato que firmara com Antonio nada mais era que uma forma velada de vingar-se. E, embora todos os amigos de Antonio, incluindo aí o próprio duque da cidade, tentem demover Shylock de cumprir o contrato, nenhum deles, por nem um único momento, pensa ser possível ir contra um compromisso tão formal quanto um contrato. E, com pesar, teriam entregado Antonio nas mãos de Shylock, não fosse a intervenção de Pórcia.

Aliás, toda essa idéia foi revisitada or Ariano Suassuna em O Auto da Compadecida.

Eis portanto a grande questão que nos coloca todas estas histórias (e qual a lógica de trabalhar tal tema numa cadeira de teoria dos contratos): seria justo permitir a execução de um contrato a tal ponto imoral?

A verdade é que não estamos tão longe da libra de carne prometida por Antonio a Shylock como garantia, ou da cessão de toda a sua pessoa e alma que Fausto faz a Mefistófeles. Tal ficção tem perfeita validade em nossa História: enquanto predominaram os princípios clássicos do contrato, um acordo para trabalhar em uma fábrica têxtil na Inglaterra do século XIX era como pactuar com o diabo.

Clara fica a malícia de Mefistófeles em Marlowe, quando da morte de Fausto:


> Oh, demônio feiticeiro, a tua tentação foi o que me privou da felicidade eterna.

> De bom grado eu o confesso, Fausto, e me congratulo. Quando tu estavas no caminho do Céu, fui eu quem te barrou a passagem; quando lias as escrituras, fui eu quem virou as páginas do livro e te desviou o olhar. O quê? Choras? É tarde! Desespera! Adeus! Tolo que ri na Terra há de chorar no Inferno.


O Mefistófeles de Goethe, entretanto, é quase humano. Muitas vezes, ao longo do texto, esquecemos de com quem estamos lidando, não à toa, visto ser ele, de acordo com Fausto, “o espírito que nega”.

Talvez seja por isso que, de todas as grandes obras que trataram do mito do pacto faustiano, apenas na de Goethe o fim termina em redenção para o triste doutor. Isso não acontece no Faustbuch, onde os membros de Fausto são encontrados no dia seguinte à sua noite derradeira; em Marlowe, onde os estudantes discípulos dele, escutam as horas de agonia do mestre, ou ainda, em Thomas Mann, que fez um Fausto músico, representando o pacto numa mulher de bordel, que avisa ao seu hóspede que tem uma doença venérea e, mesmo assim, ele deseja possuí-la e, em virtude do contágio, vem a morrer.

A verdade é que a redenção de Fausto não vem apenas do fato de ser Mefistófeles quase humano, mas de outras situações nas quais as duas partes do pacto se vêem envolvidas, em especial na parte primeira da peça, quando conhecemos Margarida.

Embora tenha começado com um desejo despertado pela luxúria, Fausto realmente se apaixona por Margarida. E é Margarida que há de salvar Fausto na cena final.

“Salvar nos é permitido a quem sozinho lutou”, respondem os anjos, que acompanham a moça, quando Mefistófeles tenta impor seu direito a alma de Fausto mostrando o contrato. E aqui se põe a verdade da posição de final do doutor – a aposta que Mefistófeles fez com Deus é que ele deveria levar Fausto ao seu caminho e, apesar do pacto, o demônio não consegue subverter a alma de seu devedor.

(resenha originalmente publicada em www.owlsroof.blogspot.com)
Kazeruta 28/12/2011minha estante
E um livro inspirador depois de ler varios livros obcecado pelo conhecimento(ou pelo menos mostrar que sabia mais do que os outros) como objetivo de vida, comecei a ler Goethe, foi um choque eu tambem não tinha tido nenhuma namorada até então,e o vi com Margarida é incrível ele sabia de tudo mais não sabia viver não conhecia o basico da vida era um ignorante.Depois disso passei a entender que o conhecimento não é uma motivo mas uma ferramenta para a vida.
é obvio que devemos levar em conta que é uma obra de ficção mas as reflexoes de Mefistófeles dão discussões que viram noites.Muito bom




osaif 01/06/2023

Clássico romântico
**a versão que eu li não tem no skoob
O começo é inegavelmente bom e te engaja na leitura, a parte paia é realmente quando começa a tragédia de margarida, é compreensivel como um romancista, ter essa parte, mas é meio desanimador né, tá lendo sobre o cara que fez pacto com diabo e metade do livro é sobre ele correndo atras de mulher.
Isso não torna o livro ruim !!!
mas saiba que no meio pro final vai virar um romancezinho.
De qualquer forma é uma leitura fluída, boa e vale a pena, no final sobra a duvida, vc venderia a alma pro diabo por todo o conhecimento do mundo?
terecoteco 25/07/2023minha estante
Qual versão pegou?




Ich heiÃe Valéria 29/07/2013

frustrante...
Sinceramente, muita gente idolatra esse livro e eu achei que iria gostar, até assisti a versão de Murnau, mas achei bem cansativa... e olha que eu gosto de filmes mudos, mas a versão não me cativou... pensei que ao ler o livro, a minha opinião mudaria, mas foi ainda pior. Goethe foi um dos maiores autores da literatura alemã e eu era louca pra ter a chance de ler as obras dele. Escolhi Fausto e Os sofrimentos do jovem Werther. A oportunidade de ler Fausto surgiu numa eletiva que paguei na faculdade, sobre História da literatura gótica e de horror do século XIX. Ganhei a versão da Martin Claret de um amigo meu, e tínhamos que ler pra resenhar e entregar a professora na semana seguinte... Não sei se a pressão de ter que ler em pouco tempo, resenhar e tentar entender obra tão complexa contribuiu pra aumentar minha frustração, mas a verdade é que pensei, pela 1ª vez na vida, em desistir no caminho. A história em verso me pareceu bastante confusa, cansativa e extenuante. Se fosse em prosa, talvez eu tivesse gostado, não sei... eu não tenho hábito de leitura em verso, e com Goethe, minha experiência foi bem insatisfatória.
Vanuza.Dias 19/11/2018minha estante
Também tive uma leitura frustrante da obra...




bobbie 30/09/2021

Grandioso.
Fausto, um homem bem sucedido em sua profissão, que acredita já ter conquistado tudo o que a vida e a ciência têm a oferecer, desiludido com a falta de desafios e conquistas. Mefistófoles, o diabo que convence Deus a lhe dar permissão de tentar a alma deste homem em busca de mais realizações pessoais. Com a permissão Divina, Mefistófoles propõe um pacto de sangue a Fausto, que o aceita, mesmo sabendo que está trocando sua alma pelos novos desafios e sensações que lhe são ofertados. Este é o mote deste poema épico de mais de 13000 versos, dividido em duas partes. A primeira, de mais fácil deglutição, leva Fausto a corromper a moral de Margarida, uma moça de "boa família", temente a Deus, que Mefistófoles "ajuda" Fausto a conquistar porque atende aos seus caprichos. Caída em desgraça, grávida mesmo solteira, a moça tem sua honra maculada, o bom nome de sua família destruído, e é levada a cometer uma atrocidade, o que a leva à prisão. Sua redenção vem apenas quando Fausto e Mefistófoles apresentam-na a uma fuga fácil, mas ela se recusa a aceitá-la. A segunda parte já é de mais complexa digestão. Um belo poema épico, aos moldes d'A Odisseia de Homero (a quem abertamente presta homenagem), com seus personagens greco-romanos mitológicos, segue Fausto e Mefistófoles em mais uma "aventura" onde o primeiro desenvolve uma ojeriza ao diabo e o segundo luta para não perder a alma que lhe foi concedida por meio do pacto de sangue na primeira parte. Conseguirá Fausto salvar sua alma do fogo eterno? Fausto, a tragédia, flui rapidamente mas não facilmente. Trata-se de uma obra magnífica que certamente requer mais de uma leitura. E esta minha resenha está sendo escrita apenas ao final da primeira delas.
Ester ;) 16/02/2022minha estante
Obrigada! Me ajudou muito no meu trabalho da escola




Johannzito 22/10/2016

Análise Combo - Fausto I e II de Goethe
Um poema dramático semiautobiográfico sobre um ancião culto desiludido com os padrões sociais(ciência e religião principalmente) que recorre ao pacto com o demônio Mefistófeles.
A lenda do Doutor Fausto é aproximadamente da idade da Dercy Gonçalves, porém a releitura Goethiana transforma em uma visão única da trama.
O leitor já começa encantado por um prólogo bem metalinguístico em um teatro, mas o vislumbre real do que acontecerá é o do céu. A forma que JWVG descreve o cenário é forte, estimula o imaginário do leitor, assim como seus diálogos poéticos que se forem ditos de forma rápida podem parecer uma herança da poética clássica(tá, ele não tem o mesmo virtuoso de um Virgílo da vida - e nem a sonoridade de Homero) com uma musicalidade estranhíssima mas confortável ao mesmo tempo.
Falando em Homero, a obra analisada faz um tour pelo mundo clássico, começando com o Genesis Bíblico, passando pela Ilíada e referenciando até John Milton e As Mil e Uma Noites.
Conforme o texto avança, Fausto passa por uma metamorfose mental, você sabe que o destino dele(o próprio subgênero teatral comprova) mas o final na realidade é gratificante.
O amor é o tema principal, o amor artístico, o filosófico... a narrativa gradativa remete ao Paraíso de Dante em que o poeta encontra diversas figuras lendárias(da filosofia e religião), o atemporalismo do universo de Goethe é impressionantemente explosivo.

Recomendo para todos que adoram uma leitura pessoal e universal simultaneamente, aos estudantes de filosofia e quem adora boa literatura.

*Nota 11.

detalhes sobre a edição
•Título: Fausto, Uma Tragédia(divido em dois livros, mas comprem de uma vez e leiam em sequência) ---> versão lida: bolso
•Autor: Johann Wolfgang Von Goethe
•Editora: 34;
•Tradução: Jenny Klabin Segall;
•Notas e comentários: Marcus Vinicius Mazzari.
Gustavo Kaspary 23/10/2016minha estante
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val silva 05/09/2016minha estante
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