Heidi Gisele Borges 10/09/2010Gordon Comstock, 29 anos e bastante deteriorado. Trabalhava numa livraria/sebo. Durante toda a sua vida literária conseguira escrever apenas um livro de poesia que por destino encalhara na prateleira.
Há anos estava diante de sua nova obra, inacabada, “Prazeres de Londres”. E há anos declarara guerra ao dinheiro, além de todos que restavam de sua falida família. Gordon era o único que tivera chance de prosperar, mas se recusava a vender sua alma ao capitalismo.
Tivera um bom emprego numa agência de publicidade, mas a questão de ter um “bom” emprego feria os seus princípios, o que o levou a abandoná-lo.
“Os consumidores são como porcos confinados, a publicidade é o equivalente a agitar uma vara dentro do balde de lavagem”, acreditava.
Agora trabalhava na livraria/sebo – praticamente falida – e o que ganhava semanalmente mal dava para sobreviver, mas este era exatamente seu ideal de emprego, já que sua alma não estava à venda para o deus-dinheiro.
A vida de Gordon se resumia em ir para o miserável emprego, voltar para o quarto – decadente – em que morava e brigar com todos pela questão dinheiro, declarando guerra especialmente a uma planta: a aspidistra, que simbolizava a decadência da classe média inglesa, visto que esta era uma planta bastante comum nos lares da época.
As pessoas se preocupam com coisas pequenas. Com os detalhes errados, mas que se tornam grandes à medida que se dá o valor indevido, mas as únicas coisas que importam em uma semi-vida mesquinha.
“Será que eu ri bem alto quando o chefe fez aquela piada ontem? E a próxima prestação do aspirador de pó?”
Esses pensamentos atormentavam Gordon, que às vezes saia da ilusão de que alguém leria seus poemas e que “Prazeres de Londres” jamais ficaria pronto.
A bem da verdade o que mais o angustiava era a falta de dinheiro. Praticamente só pensava nisso. A maldita falta de dinheiro!
E por isso, talvez a insistente vontade de matar sua aspidistra seria, na verdade, uma forma de demonstrar que precisava que sua condição financeira mudasse.
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