spoiler visualizarLucio 09/12/2013
Gume afilado
Os poemas de “O Suave Gume...” me levaram a um território que eu há muito não visitava, ponto em que se confundem o íntimo e o exterior, o medo de assumir os próprios sentimentos e a descoberta de que não se pode amar sozinho, a dependência do outro, e por isso o caminhar sobre o gume: a incerteza, o risco, o fazer valer a pena ( mesmo que com os pés cortados). O poema-título, que a princípio me sugeriu tanta transcendência, remeteu-me ao cenário mais comum e urbano das noites solitárias de meu início de maturidade, quando o roer de unhas da infância ainda era um refúgio garantido. E dada a certeza de que tudo acaba, como em “Sobre romances” ( se já não há então infinitude nesta vida ) fica a mais dura e verdadeira lição dos amantes que se entregam sem pudores, declamada num dos vários poemas sem título: “Porque o mais triste/ É deixar o amor acabar/ Sem nenhum sofrer.” Adorei, poesia que me cortou a carne.