Retipatia 05/11/2018
Bem-vindxs ao Clube!
Considere-se bem-vindo à ala V.I.P onde carros de luxo, cartões de crédito sem limite e festas glamorosas lhe aguardam. Basta apresentar seu cartão dourado para entrar no Clube dos Herdeiros.
Ah, não tem o cartão? É uma pena, mas, não se preocupe, vou lhe contar os segredos escondidos nos limiares da alta sociedade carioca. Sente-se, e junte-se à fila de tijucanos para ouvir o melhor e o pior desse Clube seleto.
Pinte a imagem em sua cabeça: show da Rihanna. Rio de Janeiro. Área VIP. É na premissa do show que conhecemos nossos personagens principais e, também, a partir daí que a história de todos eles irá se fundir, até se embaralhar, para então, bem... você verá.
Manuela Garcia Leal, a jovem estudante de Jornalismo, apaixonada por moda (verdadeira it girl), praia, de uma inegável beleza estonteante e, uma pessoa um tanto quanto com dificuldades em não andar atrasada.
Logo em seguida, sua melhor amiga, Helena Piva de Albuquerque, estudante – muito estudiosa - de Direito, obstinada, bonita, com um incrível senso de justiça, e que namora há seis anos ninguém menos que Guilherme Lunardeli, um dos jovens mais cobiçados da high society carioca (é claro que todos dizem que isso só pode terminar no altar!).
As amigas inseparáveis seguem, após o absurdo “delay” de Guilherme, para o show. Com um espetáculo lindo acontecendo, é de se admirar que Manuela tivesse tempo de observar um rapaz sentado em um dos sofás da área VIP – acreditem ou não – lendo James Joyce. Sim, ela o viu. E, é claro, que, sendo Manuela, Manuela, nenhum rapaz seria tolo o suficiente para não olhar de volta. A conexão está formada e, mostrando maior confiança, do que, de fato, sentindo, nossa mocinha segue em direção ao rapaz que parece, ao mesmo tempo, interessante e completamente estranho.
Como nas cenas de filmes em que a multidão resolve se fazer presente exatamente no momento inoportuno, todos os presentes na área VIP começam a se movimentar para a saída, causando um verdadeiro mar de pessoas entre Manuela e o desconhecido. Ela é logo puxada por Helena em direção à saída, afinal Rihanna irá para o pós-festa no Londra e todos parecem ter recebido a informação juntos, sendo imprescindível que ambas (e, claro, Guilherme), também cheguem a tempo, antes do local lotar e ser impossível entrar.
Mesmo inconformada, Manu (sim, somos íntimos dela, você não?) segue sendo levada por Helena e pela multidão, com o sentimento de que está deixando algo importante para trás. Ou melhor, alguém. Logo antes de entrar no carro, sente alguém segurar seu braço, e o incômodo é transformado em contentamento quando ela percebe que é o seu desconhecido quem a encontrou. Mas, o mar de pessoas não contribui, Manu é pressionada por Helena a entrar no carro e sua pulseira, presente da amada avó, se desprende no braço.
Um pedido: ‘- Me devolve no Londra!’. O único problema é que o desconhecido nunca apareceu para contar história. Perdeu-se a pulseira e o possível affair.
Manu segue sua vida: praia, faculdade e a preparação para sua mega festa de aniversário. E, no meio de tudo isso: o incrível Felipe, engenheiro naval, que acaba de se mudar para o Rio de Janeiro e parece altamente interessado nela. Mas, mesmo depois de um encontro incrível, tudo que Manu consegue pensar é no tal ‘esquisito do show da Rihanna’, como afetuosamente Helena se referiu ao cara que não sai dos pensamentos da amiga.
Mas não vivemos só de Manu nessa história. Temos Helena, começando um estágio no TJ e tendo que virar duas para conseguir cumprir com todos os seus compromissos com a faculdade, novo estágio, namorado, família e amigos. Temos o irmão de Helena, Henrique, que, além de ser um dos solteiros mais cobiçados, está com prazos apertados na faculdade, sendo obrigado a fazer um trabalho como o CDF da turma, que não sabe nada do que realmente se passa com toda essa galera.
O dia da famigerada festa de Manu chegou. Helena está desesperada por um presente à altura da amiga e acaba de encontra-lo: o esquisito da festa da Rihanna. Não haveria melhor presente para apaziguar o espírito contrariado de Manuela Garcia Leal.
O reencontro do casal Manu e ‘Esquisito’, finalmente ocorre e, muitos diriam, ‘viveram felizes para sempre’. Porém, assim seria se se tratasse de outra história qualquer. Não é o caso. Estamos falando do Clube dos Herdeiros e, apesar das aparências, nada é simples quando esse é o assunto.
Teremos ainda brigas à lá Gossip Girl, provavelmente nos melhores estilos de golpes aplicados por Jenny Humphrey, traições, intrigas, rompimentos e problemas familiares. Não se preocupe, nem tudo é ruim. Haverá também um casamento, um pedido de casamento, novos amores, novas conquistas, novos destinos e uma amizade digna de Serena van der Woodsen e Blair Waldorf. E, para conhecer tudo isso e a reviravolta traçada na trama, você precisa pegar o seu cartão dourado e entrar no Clube dos Herdeiros.
Ainda precisam ser destacados dois pontos antes do seu acesso ao Clube, fique atento às regras, para não correr o risco de ser colocado para fora (isso se você realmente conseguir entrar, é claro!): 1. você pode se apaixonar por um personagem ou outro pelo caminho e 2. você corre o risco de ter várias surpresas (se tiver problemas cardíacos, fique atento!).
Alguns pontos me chamaram a atenção na leitura do livro. Este é o primeiro que leio com este tipo de narrativa. Claro que já li livros em que o narrador conversa com o leitor (no estilo que – tentei – dar à resenha), mas a impressão é de que estava sendo narrado um episódio de um seriado, já que as imagens dos personagens formavam em minha cabeça e tinha a voz do narrador falando sobre o que acontecia naquele momento... Não que isso seja, necessariamente, algo bom ou ruim. É diferente do habitual narrador que se delonga nas descrições e que se atém de modo detalhado e floreado das ações e sentimentos dos personagens. A escrita é mais rápida e pontual, numa conversa com o leitor que deixa tudo num tom leve e fluido. Os diálogos não são extensos e as passagens de tempo são bem demarcadas, ainda que aconteçam, em alguns momentos, em poucas linhas e parágrafos.
Os personagens são bem introduzidos na trama. O narrador, com a chegada de um novo integrante, faz às vezes de apresentador e dá alguns detalhes sobre aquela pessoa. Em alguns momentos achei que não precisávamos de tantos adjetivos, que algumas coisas poderiam ser reveladas pelas atitudes das pessoas, ao longo da história, já que, isso faz com que o narrador não seja muito imparcial no seu trabalho. Ele já nos faz esperar certas atitudes de cada personagem, em alguns pontos, já que, na sua apresentação, deixa fluir emoção junto à descrição.
Devo ressaltar que o motivo da escolha da obra para leitura foi exatamente a sinopse bem elaborada que, remete ao estilo Gossip Girl que a história traz (e descobri que a autora também é fã! Já repararam que eu termino minhas postagens com um ‘xoxo’? GG é a razão disso! Rsrs). E essa sinopse casa perfeitamente à narrativa e à história, que é levada de um modo muito gratificante pela autora. Percebi que alguns leitores do livro tiveram muitas surpresas durante a leitura e, vou assumir que eu sou do tipo que lê e gosta de pensar no que um ato pode desencadear na vida dos personagens. E, em um momento específico, parei a leitura e fiquei ‘uau! Por essa eu não esperava!'. Obrigada por isso Fabi (as que sonham que a autora lerá esse texto enorme... rs).
E, devo acrescentar que autora é muito boa para com nós, leitores. Mesmo a trama tendo uma reviravolta, que acaba por alterar a vida de todos os personagens (todos mesmo, tá?), não é aquele tipo de coisa desencaixada que faz você encarar o livro (ou a tela do Tablet, meu caso) e dizer, ‘jamais, impossível!’. Isso porque a autora dá dicas perspicazes ao longo da narrativa, como a trilha de pão que João e Maria deixam pela floresta. Se não for bastante atencioso, logo os bichos tomam conta e comem os farelos e, acabou-se a trilha. Ou, no caso, vem outro acontecimento, que te fazem não dar a devida atenção a tais detalhes.
Além de todo o romance claramente aparente, a história de Clube dos Herdeiros traz muito mais. Temos um consolidado relacionamento de seis anos que enfrenta alguns problemas; uma relação de amizade que passa por uma provação; e vários laços de família (me lembrei da novela agora...) que se entrelaçam, pendem e se partem durante a trama. E vários outros pontos específicos que não serão mencionados em apartado para não configurar o crime previsto no Código Penal: spoiler (opa! Spoiler ainda não virou crime? Ah, ok, me confundi... continuemos...).
Um dos pontos mais interessantes do livro é que, além de todo o tradicional romance que já estamos aguardando acontecer quando viramos às páginas, são os questionamentos que a autora trouxe para o livro. Há um conflito entre novo e antigo, entre rico e pobre, entre passado e futuro. Especialmente em relação à Helena e Manuela, nossas mocinhas protagonistas, que estão longe de qualquer estereótipo de ‘pobre garota rica’, é que são, antes de tudo, humanas. Cometem erros e deslizes. Tem muito sobre perdoar e ser perdoado na história. Sobre saber esperar. Sobre crescer na adversidade. Sobre confiança. Claro que temos bem representado aqueles questionamentos que já vem facilmente à cabeça quando se pensa na alta sociedade: o peso de um sobrenome, o peso do estudo, do local onde se vive, e, claro, do dinheiro. Mas, Fabiana Madruga trabalhou isso tão bem que expandiu para outros pontos tão relevantes, que nos faz achar, por um instante, que estamos no meio desse tal Clube de Herdeiros.
E, para fechar com chave de ouro, a cidade é, sem dúvidas, um dos personagens da história. Aparece aqui e ali e faz diferença, mostra presença. E, por isso, preciso ressaltar que os últimos parágrafos do livro, me fizeram sorrir.
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