spoiler visualizarSoín_maneiro 04/03/2024
Você vê o quão infinito é?
Não pensei o quanto esta obra impactaria na minha vida. quando a comecei com 15 anos, achava apenas que era mais um mangá sobre uma personagem que matava os outros, hoje com 18 percebo que é isso mesmo hehe. Amo a história num geral, personagens bem construídos, principalmente o personagem principal, toda sua ambientação, e principalmente a percepção ao estoicismo que a obra me proporcionou, mesmo sendo uma pauta implícita na obra.
Quando começamos a história com o pequeno Shinmen Takezo, percebemos toda sua natureza selvagem e destrutiva, algo herdado de seu pai, que o considerava como potencial inimigo, o retratando como um pai negligente e violento. Após ser pendurado numa árvore como forma de punição, vejo que esse foi o primeiro "tapa" que o personagem leva na obra, ele se vê pela primeira vez sendo obrigado a pensar, se questionando o porquê um jovem forte, que matou dezenas de pessoas, estava fadado a morrer de uma forma tão desonrosa como aquela, porém retrucado por um monge que o explicava que aquele era o fim que merecia, uma vez que o jovem Takezo também não deu sequer a oportunidade para seus oponentes terem uma despedida digna. Discutindo por mais algum tempo com o jovem, o monge o liberta e o rebatiza de Musashi Miyamoto, dando um direcionamento melhor em suas ações. O monge com certeza é uma metáfora, sendo o próprio autor conversando com o personagem principal, também se tornando muito presente até certo ponto da história, onde Musashi consegue refletir por sí só.
Em determinada parte da história, Musashi já está muito mais forte e desenvolvido, viajando de dojô a dojô vencendo o mais forte deles em duelos de espada, uma arte muito presente na época. Vencendo mais um mestre espadachim, ele acaba se deparando com a revolta dos 70 discípulos desse mestre, e o jovem Musashi decide fugir, revelando ao monge sua aparente evolução, que mais tarde se mostraria erronia, já que seus desejos de sangue e morte ainda perduravam, o fazendo derrotar os 70 discípulos. A obra, diferente de outro shoounen, retrata com clareza o peso da vida humana, fazendo tanto o personagem quanto o leitor se questionar se a busca de se tornar o mais forte a qualquer custo valeria a pena.
Na prisão, Musashi questiona exatamente isso, ele descobre que o titulo que tanto buscava "O mais forte entre os céus", e reflete como ainda é refém de seus desejos, que são retratados como um demônio. fugindo da prisão e ferido, ele desiste. No meio da floresta, olhando para o céu estrelado, ele tem um momento de epifania, ele percebe que não é nada perante aos céus e as estrelas que nela residem, percebendo que não precisaria se martirizar pelas decisões do passado, toma a decisão que recomeçaria, sorrindo pela primeira vez. para mim este ponto poderia ser o final da obra, uma vez que ela não é finalizada, então o final em aberto seria muito bem substituída por esta "virada de chave" que o personagem teve. Porém, continuamos com a evolução do personagem.
Numa vila muito pobre, Musashi para ajudar, o autor começa a ter uma linha muito parecida com "karatê kid", fazendo um paralelo da natureza com o jeito que o personagem se comporta e maneja a espada, porém de forma muito mais profunda, fazendo o personagem perceber que, mesmo ele sendo um dos mais fortes espadachins de sua época, ele não tinha conhecimento para manejar uma enxada ou plantar sua própria comida, demonstrando como até o mais forte pode ser um completo inútil. Neste final o autor mostra como Musashi evoluía com o manejo da espada enquanto se "conectava" com a natureza e também nos apresenta a um novo personagem chamado Sasaki Kojiro, ao qual é retratado como um menino surdo.
A obra acaba com a expectativa do duelo entre esses dois personagens, porém o autor por algum motivo não continuou a obra. Vagabond com certeza é um dos meus mangás favoritos, e quanto ao estoicismo apresentada nela, se dá ao fato dos momentos de reflexão do personagem, existem capítulos inteiros apenas de suas ações, que aparentemente não significam nada, porém servem de "brecha" para o leitor tirar um momento para refletir também, tendo a proposta de admirarmos o mundo a nossa volta e apreciar as pequenas vitórias que são apresentadas. Recomendo muito esta obra, tudo que escrevi é apenas uma pequena parte da obra, que é viva em história e personagens, que são desenhados e escritos para impactar a cada página foleada pelo leitor.