Juh Lira 09/10/2016Shada: A Aventura que nunca deveria ter sido perdidaEstava tudo pronto para a gravação dos episódios nos estúdios da BBC entre 1979 e 1980 - os figurinos, as locações, tudo. Mas uma greve interrompeu a produção deixando o elenco de Doctor Who na época desapontado, um Douglas Adams anos mais tarde, aliviado e uma história magnífica perdida nas poeiras do tempo.
Em meados de 2011 o roteirista Gareth Roberts mergulhou nos arquivos perdidos de Doctor Who para finalmente apresentar novelizado o arco Shada, que seria nada mais do que a season finale da 17ª temporada da série com o 4th Doctor (Tom Baker) a companion Romana (Lalla Ward) e o simpatico cachorro robô K-9, escrito por ninguém menos que o autor de O Guia do Mocheleiro das Galáxias.
Boa parte da trama de Shada se passa no campus da universidade de Cambridge, na Inglaterra com a chegada do Doctor e Romana após receberem um pedido de ajuda de um velho amigo do Senhor do Tempo, o Professor Chronotis. Ele está correndo grande perigo quando o misterioso Skagra aparece na cidade atrás dele com desígnios desconhecidos, mas malignos. Cabe ao Doctor e Romana - com a ajuda inusitada dos alunos Clare Knightley e Chris Parsons - descobrirem o que Skagra está tramando contra o professor por causa de Shada - seja lá o que isso signifique.
Para quem nunca assistiu a série clássica ou até mesmo a série atual, o enredo não é de grande dificuldade para compreender, pelo contrário: Roberts conseguiu manter a essência do próprio Douglas Adams no texto, seja o humor, as explicações simples e geniais, as piadas, a narração própria do autor, tudo está presente no livro. Eu tive pouco contato com a obra dele, mas foi o suficiente para entender o estilo único que possui, sendo este o grande mérito de Shada.
Doctor Who não segue um padrão de histórias certinho em todos os episódios e é visível o quanto Adams inovou com os twists na trama - não foram poucas as vezes que eu achei que a história iria para um lado A mas foi para o B e o amei por isso. Você consegue se surpreender com as surpresas que o enredo carrega para o final, que é impossível de largar. Mas o começo do livro é um pouco lento para apresentar os personagens novos, e eu demorei um pouquinho para passar essa parte, no entanto adianto que vale a pena, pois algumas pistas sobre o mistério da história estão presentes ali sem percebermos.
O que eu mais gostei em Shada é como o 4th Doctor foi retratado de forma tão engraçada e irreverente, com tiradas sensacionais dignas de aplausos - em alguns momentos me lembrou o prório 11th Doctor. Clare e Chris não deixam a desejar se tornando aqueles personagens secundários de Doctor Who que você ama e deseja vê-los novamente em outras aventuras. Romana no começo eu não ia muito com a cara dela, mas a companion me ganhou pela dedicação e carinho pelo Doctor, fazendo de tudo para ajudá-lo. O Professor Chronotis também tem seus momentos sensacionais assim como o vilão Skagra - Adams fez a proeza de eu odiar um vilão mais do que qualquer outro da série haha.
A tradução da Suma de Letras foi muito bem feita, sem erros grotescos do cânone que pode acontecer pela série possuir uma universo muito vasto - nisso percebe-se que a editora tomou um cuidado extra. A edição também não tenho reclamações, pois possui letras grandes - muito bom para mim que sou míope - e papel de boa qualidade. A capa é bonita, mas gostaria que a editora tivesse deixado um pouco dos elementos da arte original publicada pela BBC.
Aventura, mistério, humor e criatividade compõe Shada, ingredientes certos para qualquer fã e não fã da série - quase que obrigatório para quem gosta do gênero.
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