spoiler visualizarLais.Black 09/01/2022
Não é uma história de amor, e sim uma história sobre os EUA.
Acredito que o filme tenha sido vendido como um romance pelo fato da protagonista, a Scarlet, ser uma mulher e por esse fato, a sua história só seria cabível se fosse "uma história de amor". Esse livro é muito mais sobre amor ou romance, é sobre a cultura em diferentes regiões, não somente sul ou norte, mas que abrange as mais pequenas cidades e campos sulistas, e como cada um possui sua singularidade. É sobre a ideia tipicamente o "american dream" que aqui se fala sobre como o trabalho conquista os irlandeses, italianos, franceses e os demais que saem de suas terras onde o trabalho e o crescimento social e econômico é difícil, e a "América" surge como um refúgio para essas pessoas e também, devo dizer, para fugitivos da lei. Achei muita graça quando os sulistas diziam que os ianques tinha medo deles e por isso a guerra não começava. Achava ridículo como os garotos sulista sonhavam com a guerra. Entretanto fiquei revoltada com o cenário da escravatura e como os sulistas(não a autora),personagens centrais, o romantizavam. Acho que as pessoas leem esse livro esperanto uma coisa e acabam conhecendo outra, o que foi meu caso.
O único personagem que gostei ou pelo menos achei interessante foi o tão admiravelmente não hipócrita Rhett Butler. Na verdade acompanhar sua trajetória foi incrível porque ele percebeu no final que queria uma vida tranquila. Ele percebeu que queria ser respeitado, queria ser uma pessoa melhor. E assim não ser mais aquela pessoa amargurada, boêmio, que não se importava com nada nem ninguém, cujo deboche e desdém era para retrair sua revolta interna tanto pela sua família como por toda sua vida adulta. O momento mais feliz desse livro, para mim, foi quando ele se libertou do seu relacionamento tóxico(ambos os lados)com a Scarlet e finalmente decidiu mudar sua vida. O mais importante de E o vento levou é que não tem continuação e sendo assim, o leitor pode pensar em qual destino aquele personagem pode ter, e o meu pensamento é que ele nunca mais se apaixonou pela Scarlet, e viveu sua vida melhor depois dos 45 anos(ok, a sua idade é muito confusa no livro).
A Scarlet foi a personagem que se tornou tragavel para mim porque eu sabia que não iria gostar dela, só que esse livro conseguiu potencializar o meu desprezo por ela, entretanto o mais incrível é que relacionar sua persona com o meio em que esta vive me ajudou a interpretar e entender suas ações. Como por exemplo, ela não gostar dos 3 filhos, porque ela nunca pôde decidir se queria ser mãe, e sim o matrimônio e a maternidade lhe foram impostas. A sua obsessão pelo Ashley era tão infantil e patético, que não lia muito seus parágrafos porque parecia que autora se esforçou para escrever algo tão ridículo em uma personagem. Eu consegui sacar o Ashley fácil desde o começo, ele era uma pessoa fraca que não nasceu para conflitos, e era hipócrita, principalmente quando defendeu que os detentos não deveriam trabalhar, porque ele não queria usar pessoas, sendo que sua família era dona de escravos e ele lutou pela escravatura na guerra. A Scarlet desejar a morte da própria filha, uma criança de menos de 10 anos foi ápice do quanto essa personagem era irascível para mim.
De qualquer forma, esse livro não foi prazeroso de se ler, há tantas coisas erradas aqui sendo defendidas ou situações sutis que ao vivermos no século 21 sabemos serem cruéis. Porém a existência desse livro é uma marco porque aqui existe algo que provavelmente nunca mais será escrito, um livro romantizando o racismo, a submissão da mulher(ops, isso sim é romantizado hoje em dia pelas autoras "feministas" ou não de romance meloso), uma protagonista mulher desprezível.