As cidades invisíveis

As cidades invisíveis Italo Calvino




Resenhas - As Cidades Invisíveis


179 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 |


Arsenio Meira 18/05/2014

"a surpresa daquilo que você deixou de ser ou deixou de possuir revela-se nos lugares estranhos, não nos conhecidos."

O viajante de Calvino surge como a possibilidade que a ele se apresenta: guiado pelo desejo de conhecer o outro, o diverso, o imperscrutável. Marco Polo, deste excepcional "As Cidades Invisíveis" é um viajante incansável que percorre sendas fantásticas nas quais é possível transitar pelos mais diversos percursos. Uma coisa é o mapa que serve de referência ao viajante, que ele consulta ao longo do percurso, ou que estuda antes de empreender a viagem.Outra coisa é o mapa que o viajante desenha enquanto viaja.

Na verdade, o viajante experimenta outras direções, outras velocidades e outros repousos, funda outras escalas, isto é, constrói um mapa diferente daquele outro que lhe serve de guia, Compondo um delicado mapa delimitado pela memória de Marco Polo e pelos sonhos de seu imperador Kublai Khan, as cidades de Calvino (é interessante ressaltar que elas trazem inscritas as marcas do feminino, tendo todas nomes de mulheres: Berenice,Teodora, Cecília, Olívia, Isaura...) são mais que lugares fantásticos ou oníricos.

Elas podem ser lidas como verdadeiros espaços de conhecimento, de desejo, de humanidade, de busca.Viajar por essas cidades invisíveis é percorrer um mapa em filigrana, um labirinto-espelho assimétrico e hipertextual, no qual é possível adentrar por diferentes portos e percorrer rotas diversas, alcançando lugares que são sempre vários e sempre os mesmos, espaços mutantes e híbridos que somente se concretizam com o olhar e a presença dos que os percorrem.

Há, pois, o mapa de viagem e o mapa-viajante. É possível que existam diferentes espécies de viajantes. Encontra-se os que planificam a viagem a partir de um mapa pré-existente e “esvoaçam” até à exaustão na esperança de tornarem o seu mapa-viajante o mais semelhante possível com o mapa de viagem que escolheram previamente. Mas existem também os que consultando certamente mapas de viagem se abandonam aos fluxos da viagem, aos imponderáveis do percurso, aos seus acidentes próprios desenhados em sincronia com as contingências da viagem.

O mapa-viajante tem a sua sede no caminho do viajante, não na estrada mas no corpo, nas esquinas dos sorrisos, nos cansaços, nas horas das sedes, na poeira alegre ou triste, nas tibiezas de quem ao certo não sabe, nas luzes das conversas que ficam, no do centro da praça pensante, no caminhar irrefutável. A viagem? De todos. De todos os dias. Um incessante renovar-se ou descobrir-se. Aprimorar o seu itinerário com o outro. Carlos Drummond de Andrade não fugiu ao tema (e qual tema Drummond não adornou?), e em seu poema "O HOMEM; AS VIAGENS', nos forneceu a senha para a portão de embarque às Cidades invisíveis, posto que o mapa inexplorado não pode triunfar:

"[...]
Restam outros sistemas fora
do solar a col-onizar.
Ao acabarem todos
só resta ao homem
(estará equipado?)
a dificílima dangerosíssima viagem
de si a si mesmo:
pôr o pé no chão
do seu coração
experimentar
colonizar
civilizar
humanizar
o homem
descobrindo em suas próprias inexploradas entranhas
a perene, insuspeitada alegria
de con-viver. "
Luis 11/04/2015minha estante
Arsenio, brilhante a sua resenha relacionando Drummond a Calvino. Estou lendo no momento e o seu texto acerta em cheio ao descobrir e apontar toda a poesia nas cidades femininas, como você bem salientou. Guia perfeito para a viagem de sonho de Marco Polo. Como diz um amigo meu, ouro puro. Abração e parabéns.


Arsenio Meira 11/04/2015minha estante
Grande Luis
Valeu, camarada! Os seus comentários, o seu entendimento são sempre lúcidos, mesmo quando porventura dissonantes do meu. Logo, ele são muito mais valiosos do que esses "gostei" que existem nas resenhas. A você, de quem já li todas as resenhas com entusiasmo e contentamento, pois que escritas com legitimidade e ao sabor de um bate papo esclarecedor, nítido, objetivo, leve e profundo,; resenhas que você escreveu com a graça de uma escrita que não descura, e que permitem o diálogo, em função do brilhante conteúdo, o meu abraço fraterno de apreço e admiração.
Arsenio


Ulisses 18/04/2015minha estante
arsenio meu caro vc por aqui!? vou começar a ler hoje,


Arsenio Meira 24/04/2015minha estante
Opa Ulisses,
Espero que tenhas ou que estejas gostando.
Abraços




Will 09/09/2022

Escrita linda, belas descrições, mas não consegui captar a obra como um todo como outras pessoas relatam. Talvez o livro exija mais calma ou um método de leitura diferente. Teve bons diálogos filosóficos entre os personagens, mas alguns capítulos de descrições eu implorava pelo fim.
Algaier 09/09/2022minha estante
Adorei a sinceridade haha


Will 09/09/2022minha estante
Imagina meu estado mental pra chegar num desabafo desses. Isso em dois dias de leitura...




Leo 14/09/2009

"As cidades invisíveis" tem presença garantida nas listas de melhores romances do século XX, mas talvez não mereça o título. Não por sua qualidade literária, que é indiscutível, mas sim porque a classificação “romance” talvez não seja suficiente para descrever esta obra ou abranger a sua imensidão temática.

Isso porque “As cidades invisíveis” é prosa, mas é também poesia: suas páginas são repletas de lirismo. Não há um fio narrativo claro. Marco Polo descreve a Kublai Khan uma série de cidades imaginárias em capítulos curtos, organizados por temas. Às vezes, um ou outro diálogo mais extenso entremeia os relatos. Mas, para Calvino, famoso por sua inventividade, isso basta.

O próprio autor uma vez afirmou que “As cidades invisíveis” é o livro em que conseguiu dizer mais coisas, uma vez que encontrou na cidade um grande símbolo para todas as suas reflexões. Há divagações sobre semiótica e metafísica, sobre a linguagem e a morte, enfim, sobre a própria essência humana. As metáforas espalhadas pelo livro são inúmeras e abertas, obrigando o leitor a empreender sua própria viagem pelo universo fantástico narrado por Marco Polo.

Já foi dito que o ideal, aqui, não é fazer como o turista que para, bate uma foto e já parte para a próxima atração, mas sim saborear cada cidade vagarosamente de forma a aproveitar o que ela tem para oferecer. Mantenha “As cidades invisíveis” ao lado de sua cama, abra suas páginas aleatoriamente e deixe-se surpreender. Se ler é uma viagem, este livro é um daqueles destinos obrigatórios.
Juliana 01/10/2012minha estante
Nossa só de ler sua resenha fiquei doida pelo livro... será minha próxima leitura com certeza....


Samara 19/10/2012minha estante
Se já estava com vontade de ler, a coisa ficou pior depois dessa resenha! Amei!




Layzxx 15/04/2024

Um dos meus livros favoritos até hoje. O que mais me impressionou, foi a forma com que o livro foi escrito---> Você consegue fazer a leitura de várias formas diferentes. Calvino sabe como usar as palavras e como prender o leitor a um enredo riquíssimo e muito gostoso de acompanhar. Recomendo muito!
comentários(0)comente



Camila Borges 01/08/2020

Lindo, lembra um sonho
Marco Polo descreve para o imperador Kublai Khan as cidades que visitou. Uma delas é diferente pra quem olha de cima e para quem está dentro, na outra todo dia os objetos são jogados fora e substituídos por novos, em outra as pessoas se olham mas não se reconhecem. Esses são só exemplos das descrições do viajante: possuem elementos fantásticos, lembram sonhos mas ao mesmo tempo é muito palpável, fala sobre a humanidade e suas questões. Em dado momento Marco afirma:
"o império está doente, e o que é pior, procura habituar-se às suas doenças".(pág 57)

Livro lindo e que possibilita várias interpretações. Também é daqueles que precisa de releitura (e será um prazer) !!
comentários(0)comente



Transporte_se 26/05/2020

As cidades invisíveis
A narração desse livro é feita pelo famoso viajante veneziano Marco Polo, e o ouvinte é Kublai Khan imperador dos tártaros. Marco polo descreve cidades que supostamente visitou, que são incríveis e fabulosas aos ouvidos.

site: https://www.instagram.com/p/CAOQmIYDHfw/
comentários(0)comente



Anthony 08/06/2022

Viagens
Calvino nos convida olhar para lugares distantes e nos mostrar o que está perto, muitas vezes, dentro de nós.
comentários(0)comente



Marcio 07/06/2022

Imaginação é muito bonita
Parabéns a Ítalo Calvino, ao descrever, de forma poética, as cidades ao Khan, leitura muito válida. Diferente.
comentários(0)comente



Brenda 08/09/2022

Que livro, que viagem, que experiência.
Calvino desnuda cidades, pessoas e almas nessa narrativa de Marco Polo. É lindo, poético, onírico, tudo narrado com a sensibilidade de um poeta, e não como o mercador/embaixador do nosso imaginário sobre essa figura histórica. As cidades são, de fato, invisíveis; existem não no estado de coisas, mas na complexidade vivida em cada comunidade: o caos dos grandes centros urbanos, a impessoalidade dos populosos ajuntamentos, entre outras questões que refletem tantas e tantas vivências da vida em sociedade. Ansiosa para ler mais coisas desse autor.
comentários(0)comente



Sue 25/12/2021

Uma viagem pela sua consciência
Imagine um mundo onde em cada cidade que você visitar você vai se deparar com cada conflito seu, desejos, medos, sonhos. Tudo muito incoerente e que faz todo o sentido. A cada cidade que a história vai pousar você vai ter a rica oportunidade de refletir, se espantar e talvez como eu, a todo momento pensar "esse cara é um gênio". É um livro diferente de tudo o que eu já li e que certamente você já tenha lido também. Me lembrou um pouco A Divina Comédia ou livros do Saramago como Ensaio sobre a cegueira ou as Intermitencias da Morte por te mergulhar num mundo, numa vida muito diferente da nossa, onde tempo, vida, morte, interesses, relações são diferentes do nosso mundo. Vale muito a pena o mergulho no "E se" a vida fosse assim? Como seria para mim?
comentários(0)comente



Dani Ramos 08/04/2020

Uma história interessante...
Foi um livro interessante do começo ao fim. Acompanhamos as viagens de Marco Polo, suas descrições ricas e sábias, os melhores diálogos entre ele e o imperador Klan. Enfim, adorei.
comentários(0)comente



Eric Silva - Blog Conhecer Tudo 13/06/2020

Fabulosas, oníricas e metafísicas
Eric Silva para o blog Conhecer Tudo

Fabulosas, oníricas e metafísicas As Cidades Invisíveis de Ítalo Calvino compõem um livro único e difícil de descrever pela sua singularidade, originalidade e poética.
Confira a resenha de As Cidades Invisíveis o primeiro livro da IV Campanha Anual de Literatura do Conhecer Tudo que neste ano homenageia a literatura italiana.

Sinopse do enredo
Século XIII. Após muitos anos de viagem pelas longínquas terras do oriente, o mercador e explorador veneziano Marco Polo chega ao império de Kublai Khan, o quinto soberano do Império Mongol . Ali Marco Polo viveria por 17 anos como diplomata na corte de Khan e viajaria pelos extensos domínios do imperador dos tártaros, contando depois em seus escritos as aventuras e as belezas que encontrou por aquelas paragens.

Influenciado pelo realismo mágico que ganhava força na literatura sul-americana e inspirado pelas aventuras do aventureiro veneziano, Ítalo Calvino imagina um diálogo fantástico entre Kublai Khan e Marco Polo, no qual este descreve ao imperador mais de cinquenta cidades extraordinárias que mais parecem existir nos sonhos e na imaginação do navegador italiano.

Misturando sonho, fantasia, um pouco de poesia e diálogos filosóficos, Calvino vai narrando nesse pequeno livro cada uma daquelas cidades tão fantásticas quanto impossíveis, mas que são retratos figurativos e alegóricos da própria existência humana.

Resenha
Durante meados do século XII até o início do século XIV viveu na Europa e em tantos outros lugares, o mercador, embaixador e explorador veneziano Marco Polo.

Marco começou suas viagens como explorador pelo Oriente quando ainda tinha 17 anos e embarcou em uma viagem para a Ásia com seu pai e tio, Niccolò e Maffeo Polo, só retornando a Veneza, sua cidade natal, em 1295, 24 anos após partir . Durante a longa viagem pelas terras asiáticas o veneziano conheceria o maior império em área contígua da história , o Império Mogol.

Posteriormente e já de volta a Europa, Marco relataria suas aventuras e os anos durante os quais serviu como embaixador de Kublai Khan, em seu livro, Il Milione (O milhão) mais conhecido como As viagens de Marco Polo . Inspirado nesse livro de relatos de viagem, o escritor italiano Ítalo Calvino imagina em As Cidades Invisíveis (Le città invisibili) como seriam os diálogos entre Marco e o Khan enquanto este relatava as maravilhas de dezenas de cidades que o explorador conhecera ao longo das suas muitas viagens pelo Oriente.

As Cidades Invisíveis é um livro de beleza muito peculiar e rara. Não é uma obra que chama a atenção por sua trama, porque quase não há história. O que domina a peça são as descrições das dezenas de cidades fabulosas que tão só poderiam existir na mente fértil de um excelente escritor como Ítalo Calvino.

As cidades narradas por Marco Polo ao Khan são singulares, extravagantes e oníricas e por isso parecem invisíveis, pertencendo ao campo dos sonhos e da imaginação. Cada uma recebe o nome de uma mulher e são cidades que desafiam as leis da natureza, da lógica e da razão. Nelas Calvino traz uma atmosfera ilógica, trabalhando a questão do inverossímil, e ao mesmo tempo através delas transfigura alegoricamente muitos dos sentimentos, contradições e desejos humanos.

Ao fazer as descrições das cidades, Marco fala sobre seus aspectos físicos, culturais, comportamentais, metafóricas e também metafísicos, como bem observa Carmem Lúcia, do blog O que Vi do Mundo, mas, ao mesmo tempo, tece nas entre linhas reflexões do mundo em forma de metáforas e alegorias. Algumas das cidades são surrealistas e parecem saídas de uma pintura de Salvador Dalí ou de René Magritte. O resultado são textos preciosos de alto valor descritivo que tornam o livro complexo e ao mesmo tempo belo e intraduzível.
Cada cidade contém sua própria singularidade e magia, mas em alguns momentos ela se parecem, porque são divididas em categorias que se repetem como “as cidades e a memória” e “as cidades e o desejo”.

Zora, por exemplo, me parece um palácio mental, uma técnica de memória no qual você associa tarefas e outras coisas que deseja lembrar a objeto dispostos nos cômodos imaginários de uma casa ou de outro espaço. Já Sofrônia me surpreendeu porque é formada de duas metades, uma delas é uma grande cidade (de concreto, fixa), enquanto a outra é descrita como se toda ela fosse um grande parque de diversões (provisória, removível). No entanto, todos os anos uma dessas meias cidades é desmontada e remontada, mas a meia Sofrônia que é desmontada e levada embora não é a meia cidade que parece um parque, mas aquela feita de concreto com sua falsa fixes.

Ainda quero citar as cidades delgadas, que são, por sua vez, as mais improváveis e impossíveis como as pinturas surrealistas de que falei. É o caso de Otávia, cidade construída acima de um desfiladeiro entre duas montanhas sustentadas por fios que as que servem de sustentáculo e passagem.

“Se quiserem acreditar, ótimo. Agora contarei como é feita Otávia, cidade-teia-de-aranha. Existe um precipício no meio de duas montanhas escarpadas: a cidade fica no vazio, ligada aos dois cumes por fios e correntes e passarelas. Caminha-se em trilhos de madeira, atentando para não enfiar o pé nos intervalos, ou agarra-se aos fios de cânhamo. Abaixo não há nada por centenas e centenas de metros: passam algumas nuvens; mais abaixo, entrevê-se o fundo do desfiladeiro.
“Essa é a base da cidade: uma rede que serve de passagem e sustentáculo. Todo o resto, em vez de se elevar, está pendurado para baixo: escadas de corda, redes, casas em forma de saco, varais, terraços com a forma de navetas, odres de água, bicos de gás, assadeiras, cestos pendurados com barbantes, monta-cargas, chuveiros, trapézios e anéis para jogos, teleféricos, lampadários, vasos com plantas de folhagem pendente.
“Suspensa sobre o abismo, a vida dos habitantes de Otávia é menos incerta que a de outras cidades. Sabem que a rede não resistirá mais que isso”.

Essa foi uma das cidades que mais me chamou a atenção. Como se vê o texto é puramente descritivo, como, porque assim como os escritos originais de Marco Polo As Cidades Invisíveis funciona como um relato de viagem cheia de descrições e com pouco enredo. Só nas últimas cidades Ítalo insere o diálogo, elemento que inexistia na dinâmica inicial dominada pela descrição, e o narrador também passa a se colocar mais no texto. Até então o diálogo só existia nas passagens onde o veneziano e o Khan conversavam.

Por ter um estilo de diário de viagem, As Cidades Invisíveis não segue a lógica e a estrutura da narração que normalmente é composto de problemática, clímax e desfecho, o que compõe o enredo. Ainda assim, é uma obra cuja divisão dos seus capítulos se torna uma característica única do próprio livro.

O livro é dividido em 9 capítulos que funcionam como blocos onde temos – intercalado a história de Marco Polo e Kublai Khan – a descrição das chamadas cidades invisíveis em subcapítulos pequenos e independentes. Esses subcapítulos falam cada um de uma nova cidade e cada título carrega algum aspecto que de alguma forma se relaciona as principais características dessa cidade mais um número de 1 a 5 que representa quantas vezes aquele aspecto já foi referido.

Os diálogos de Marco Polo e Kublai Khan também são sempre cheios de filosofia e aforismos. Impossibilitado de conhecer a vastidão de seus domínios, o imperador ouve Marco Polo com curiosidade e a través de seus relatos Kublai consegue conhecer as várias partes que compõem o caleidoscópio do seu império e “discernir, através das muralhas e das torres destinadas a desmoronar, a filigrana de um desenho tão fino a ponto de evitar as mordidas dos cupins”.

Por diversas vezes o imperador expões seus pensamentos e angústias, e também faz questionamentos sobre a veracidade do que lhe narra o embaixador estrangeiro, mas, ainda assim, se mantém interessado e envolvido pelos relatos fabulosos e oníricos de Marco. Apesar disso, os diálogos se dão por gestos e sem o uso da palavra, uma vez que Marco desconhece a linguagem dos tártaros. Só muito depois Marco Polo passa a verbalizar seus relatos, mas, ainda assim, a linguagem gestual e figurativa continua viva e predominante nos seus diálogos com o Khan.

A escrita de Ítalo é um pouco desafiante para aqueles que leem pouco. Por vezes, metafórica ela é também cheia de palavras singulares e distantes do nosso cotidiano. Poética, é uma escrita cheia de construções imaginativas complexas e até mesmo surrealistas o que me fez alguns momentos ficar um pouco perdido na leitura, mas ainda assim não usa uma linguagem demasiadamente erudita.

O livro não parece ter pontos fracos, porque é extremamente singular e único, mas nem por isso agrada a todos. O que mais gostei foi a escrita poética de Calvino e de sua imaginação surpreendente e liberta, que tornou o livro original, instigante e criativo.

O desfecho do livro, assim como todo ele, é cheio de aforismos e faz uma profunda reflexão sobre a vida. Ele não encerra de fato a narrativa, mas encerra o ciclo de narrações que poderemos acompanhar. Por isso, em vez de um final fechado, Ítalo nos dá uma reflexão encantadora e filosófica como final:

“O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. Existem duas maneiras de não sofrer. A primeira é fácil para a maioria das pessoas: aceitar o inferno e tornar-se parte deste até o ponto de deixar de percebê-lo. A segunda é arriscada e exige atenção e aprendizagem contínuas: tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preservá-lo, e abrir espaço”.
Enfim, As Cidades Invisíveis é um livro onírico, de sonhos, de construções imaginativas requintadas e delicadas. Uma obra inteligente e singular, única e até certo ponto indefinível e indescritível. Vale a pena ler.

A edição lida é da Editora Companhia das Letras, do ano de 1990 e possui 152 páginas.


site: https://conhecertudoemais.blogspot.com/2019/02/as-cidades-invisiveis-italo-calvino.html
comentários(0)comente



Debora 13/03/2021

Italo Calvino usa as palavras de uma forma linda
Que livro rico! Histórias de cidades, das partes que compõem um Império. Um Império que cresce? Ou que rui? Difícil saber. Jogar xadrez com a vida dos povos e seus lugares não é legal.
"O inferno dos vivos não é algo que será; se existe, é aquele que já está aqui, o inferno no qual vivemos todos os dias, que formamos estando juntos. A forma de não sofrer é tentar saber reconhecer quem e o que, no meio do inferno, não é inferno, e preserva-lo, e abrir espaço."
comentários(0)comente



Roberta.Chamberlain 08/03/2021

Os detalhes imperceptíveis que fazem a diferença?
?Precisei ler esse livro para a escola, e embora tenha estranhado e achado chato, acredito que seja um livro que traz muitas reflexões. Infelizmente, meu vocabulário não é tão grandioso quanto esperava, por isso foi muito difícil ler algumas partes. A disposição do livro também não foi do meu agrado, não gosto muito desse estilo de ?contos?, porém li da mesma forma. Não aproveitei o máximo que o livro poderia me proporcionar, talvez possa voltar a ler no futuro.? (08/03/2021)

Essa foi minha primeira resenha sobre esse livro. Realmente, após rele-lo consegui enxergar mais pontos que em uma primeira leitura sem tanto vocabulário. A forma como esse livro nos mostra a beleza das pequenas coisas, as coisas invisíveis, que geralmente ninguém presta atenção é linda e as frases são muito marcantes.
comentários(0)comente



Zé - #lerateondepuder 28/09/2020

As Cidades Invisíveis
Um livro para ler e reler muitas vezes, com reflexões profundas, mas de leitura leve e ligeira, não sem contar com um vocabulário um pouco mais rebuscado, necessitando das consultas ao dicionário.
São descritas na obra 55 cidades com nome de mulheres, subdivididas em 9 capítulos, sendo que o primeiro e último são bem diferentes, do segundo ao sétimo capítulos, estes com cinco cidades por capítulo. Cada cidade tem uma classificação específica em 11 títulos, que se relacionam a aspectos como sonhos, à morte, à memória, ao desejo e outros. Esses títulos e capítulos são combinados com base na análise combinatória, o que imprime um certo raciocínio lógico matemático ao enredo.
O livro tem toda a relevância porque as cidades são, na prática, o local onde a vida de todo mundo acontece. É nas cidades onde a deslocamento do trabalho para o lazer, da interação com os amigos, com os vizinhos, realmente, se dá no cotidiano de boa parte das pessoas do mundo todo. É em cada município, onde nós estudamos, onde acontecem as alegrias e as aflições, uma vez que lá se encontra nossa residência, nosso local de parada, onde moramos e vivemos, realmente.
Vale a dica.


site: https://linktr.ee/prof.josepascoal
comentários(0)comente



179 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 |


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR