Hamurabi 22/10/2009
As cidades de Calvino
Ao olharmos para cidade a qual habitamos o que a nossa percepção consegue apreender? Conhecemos realmente o espaço geográfico no qual vivemos? E para além das nossas sensações o que enxergamos nas cidades? “As cidades invisíveis” de Ítalo Calvino não responde as essas questões, mas através de suas analogias estabelece um elo entre o universo de sua obra e as cidades construídas pelo homem. Em seu livro a cidade deixa de ser esse espaço geográfico no globo terrestre e é tratada como uma metáfora da complexidade da existência humana. Escrito em 1972, a obra é um retrato imagético das viagens do veneziano Marco Polo. Após voltar de suas missões no Império Mongol, o viajante se reunia com o imperador Kublai Khan para relatar-lhe sobre suas incursões, momento esse que é questionado no desenrolar do enredo do livro.
Ítalo Calvino nasceu em Cuba em 1923 e logo após seu nascimento foi para Itália, terra de seus pais. Formado em Letras, participou da resistência ao fascismo durante a Segunda Guerra Mundial, filiou-se no Partido Comunista em 1956. No ano seguinte desfiliou-se do partido. As cidades invisíveis é um dos mais conhecidos livros de Calvino e um dos últimos a serem escritos e publicados pelo autor que faleceu em 1985 em Siena, Itália. No Brasil a primeira edição da tradução dessa obra para o português é de 1990. Um dos mais importantes nomes da literatura italiana e mundial, Calvino de tradição modernista deixou 15 obras, muitas delas também traduzidas para o nosso idioma, como Os amores difíceis, O cavaleiro inexistente, Palomar entre outras.
O livro é construído através de diálogos entre Marco Polo e Kublai Khan. Divididas entre temas, as cinqüenta e cinco cidades formam arquétipos. Um modelo ideal que servem a todas e a uma única cidade, o que forma um paradoxo ao mesmo tempo em que cada cidade se torna singular. A divisão que Calvino estabelece em sua obra torna a leitura e a compreensão do enredo da obra mais interessante. Os onze temas tratados no livro se espalham entre os capítulos como se fosse recortes de uma cidade que encontram pontos de congruência uma na outra e também sua antítese ou complemento entre os tema.
É com essas dimensões da natureza humana que Calvino trabalha a sua obra. A dubiedade, a identidade, a percepção, as trocas, a perfeição, a harmonia, a desordem. Marco Polo descreve nas cidades-mulheres os espaços imagéticos traçados por ele. Se tais cidades existem a pista pode estar no livro As Viagens, em que Polo conta suas excursões no território do Oriente Médio e Ásia. Porém os nomes dados as cidades esses sim, podem nos remeter, como já dito antes a uma metáfora do ser humano. As cidades de Calvino podem não ser as mesmas de Marco Polo, mas assim como o veneziano que junto com sua família foi o primeiro ocidental a percorrer a Rota da Seda, Ítalo Calvino desbrava as cidades invisíveis que existem no interior de cada ser.