mejohncito 19/05/2016
GRAPHIC NOVEL: Seconds - Bryan Lee O'Malley
Bryan sempre consegue me surpreender com seus trabalhos. Me apaixonei por seus traços e sacadas geniais em Scott Pilgrim vs. the World, e se por acaso você não gosta de Scott Pilgrim dê uma segunda chance para o Bryan porque é exatamente disso que Seconds fala: segundas chances.
Nessa graphic novel, O’Malley explora os problemas e incertezas da vida adulta, e como as consequências de nossas escolhas afetam a nós mesmos e as pessoas ao nosso redor. Eu me identifiquei bastante com os personagens dessa história e o traço dele é muito bacana. Eu moraria de boa nessa graphic novel. :P
Katie é a personagem principal. Ela fundou, junto com seus amigos, o restaurante que leva o mesmo nome da história: Seconds. Além disso ela é uma chef de sucesso e todas as pessoas amam a sua comida. Mas quando os seus amigos se mudam, e ela se vê trabalhando com várias pessoas jovens ela se sente meio velha, por isso ela resolver abrir um novo restaurante, em outra região da cidade em um prédio velho e histórico que precisa ser reformado.
A principio as coisas não estão indo como ela planeja, mas estão indo. A merda toda acontece quando ela vê o seu ex-namorado (Max) com outra e fica meio bagunçada por dentro. E para se sentir desejada, ela tenta fazer sexo com o seu protegido (meio que um estagiário na arte da cozinha) que trabalha no restaurante, e isso acaba com uma das atendentes (Hazel) com uma terrível queimadura.
Quando a Katie vai pra casa, ela encontra, literalmente, um cogumelo mágico capaz de desfazer o seu erro, e aí começa a história de fato.
O'Malley quis mostrar como a vida adulta realmente é e como ela seria caso pudêssemos mudar as coisas que fazemos. Katie retrata bem como um jovem adulto é impaciente. Em Seconds percebemos como ela lida com a falta de progresso em seus planos quando ela se frusta com a reforma do seu restaurante está indo de mal a pior. Ela se sente cada vez mais velha e impotente diante das dificuldades de viver, ela se sente presa ao passado, afinal ela não pode sair do Seconds até seu novo restaurante ficar pronto e enquanto isso ela fica nesse limbo, que também é um limbo emocional.
Ela ainda não superou o seu ex-namorado e o seu relacionamento com o seu protegido (o estagiário haha), Andrew, só serve pra mostrar pra ela mesmo que ela ainda é uma mulher desejada. Fora esses conflitos internos da personagem, nós aprendemos um pouco sobre os House Spirits (espíritos domésticos - aquelas entidades místicas que segundo as lendas, habitam nos lares) com a Hazel, uma personagem muito cativante.
Quem permite que a Katie altere os seus erros é o house spirit da casa, ou melhor "a". Lis, fala pra Katie que ela só pode usar um cogumelo por vez, mas assim que Katie começa a usar os cogumelos para corrigir os seus erros ela se vicia ao poder. E isso provavelmente é o que eu e você faríamos.
Embora o recurso de mudar o próprio passado não seja exatamente novo ou original, nada disso importa diante a forma como O’Malley nos apresenta as ações de Katie. Rapidamente nos afeiçoamos a ela, aos seus medos, anseios, dramas, motivações e nos identificamos com a sua incapacidade de fazer tudo como deveria ser, ou como nós gostaríamos que fossem.
O’Malley também aborda três pontos que eu acho interessantíssimos. Primeiro — a vida é imprevisível. Mesmo que a a personagem principal mude seus erros ela não sabe como o dia será quando acordar. Segundo — o quadrinista canadense coloca a mente de Katie imune as mudanças, ou seja, mesmo que ela consiga mudar os seus erros, ela se lembra de como as coisas eram antes, porém ela não sabe o que acontece entre uma mudança e outra e isso a deixa louca aos poucos. E terceiro — o universo inteiro começa a ruir com as mudanças que a Katie faz.
No fim de tudo, percebemos que somos nosso pior inimigo. Ainda assim, a graphic é uma viagem interessante, pelo fato de nos identificarmos com a personagem. E admito que dá uma vontade ENORME de comer cogumelos mágicos só para poder ter uma segunda chance. A arte, a cor e a finalização de cada página é muito bonita e bem elaborada, e como disse, dá vontade de morar nesse quadrinho.
Gostei bastante do fato da graphic continuar com o mesmo traço de Scott Pilgrim, de ter um narrador, e de O'Malley provar para o mundo (não que ele precise), que ele não é um quadrinista de um só trabalho e que ele continua fazendo quadrinhos de uma maneira excelente! Por favor, Bryan continue nos entregando personagens incríveis e materiais tão ricos como este. Palmas também para a equipe que o ajudou a desenhar (Jason Fischer), a colorir (Nathan Fairbairn) e o cara que cuidou das letras (Dustin Harbin).
Infelizmente, a graphic novel não foi lançada no Brasil, porém o próprio autor confirmou por meio de redes sociais que Seconds será lançada no Brasil em outubro deste ano (2016). Então se você não quiser ler em inglês, como eu fiz, terá que esperar a Companhia das Letras, lançar a graphic novel por aqui em outubro.
site: http://www.gavetaalternativa.com.br/graphic-novel-seconds-bryan-lee-omalley/