Victor Almeida 21/03/2014O AMOR É INUSITADOEleanor é a nova garota na escola. Ela mora em uma residência humilde, se veste com roupas de segunda mão que não combinam, está acima do peso e seu cabelo é como chamas de fogo. Basicamente, um alvo ambulante. Desde o minuto que ela pisa no ônibus escolar os “dardos” começam a voar em sua direção. Ela não consegue nem encontrar um assento no ônibus, até que o rapaz asiático silenciosamente se move para o banco do lado. Park é filho de um soldado americano e uma mulher coreana. Ele também um bom alvo, mas é amigável o suficiente com os adolescentes populares para não ser atingido. Ele sente pena da garota nova, mas instantaneamente se arrepende de ter cedido o seu lugar a ela. Eles, lentamente, se abrem um para o outro através dos quadrinhos que começam a ler juntos no ônibus.
Apesar de todas as referências de música e quadrinhos dos anos 80, e a premissa de um romance, Eleanor & Park não é uma história leve. Eleanor mora com sua mãe, irmãos e um padrasto abusivo que já chegou a expulsá-la da própria casa. Todos vivem da misericórdia de Richie. Park, por outro lado, tem a perfeita família unida. Seus pais ainda se amam como recém-casados e vivem logo ao lado de seus avós. O único problema que enfrenta é a relação com seu pai, que o acha um maricas que não sabe dirigir o carro no manual.
Rowell escreveu um ótimo romance, que começa com um arranjo de assentos relutante e se desenvolve a um casal interessante e singular. Mesmo as pequenas interações, e cada pequena palavra trocada, música ouvida ou quadrinhos lidos juntos, fazem com que Eleanor & Park brilhe ainda mais. É tudo muito doce e cheio de amor, que te faz sorrir durante grande parte do livro. Não deixo de mencionar que o senso de humor da autora é ótimo. Fazia um bom tempo que não ria como eu ri lendo os diálogos.
Entretanto, a trama se revelou a ser um grande quebra-cabeça que não foi montado corretamente por ainda faltar muitas peças. Senti que as ações dos personagens não combinaram com o tom dos momentos em que estavam e vice-versa. Além disso, acredito que muitos temas que eu esperava que fossem abordados nunca apareceram — afinal, porque tantas pessoas diriam que choraram com o final? (Eu, certamente, não chorei). Acabei por realizar que o livro estava se inclinando para para o lado mais fino e macio do contemporâneo. Não me entenda mal, tópicos como violência, família, pobreza e diferenças éticas são trabalhadas durante todo o livro, mas simplesmente não demonstraram profundidade e importância. Eleanor & Park é um livro sobre o primeiro amor e o que pode dar errado.
Meu coração, inevitavelmente, se apertou quando Eleanor e Park começaram a realmente ajudar um ao outro em seus problemas e aprenderam a se aceitar. Eles se tornaram a fonte de alegria um do outro. Park é a forma pela qual Eleanor escapa de sua família disfuncional e vida escolar terrível, enquanto Eleanor é a única pessoa que faz Park se sentir confortável em sua própria pele. Contudo, Eleanor não é um personagem fácil de se gostar. Sua auto-depreciação e consciência não eram algo me animavam a continuar, e sua sensibilidade exagerada só me fez suspirar irritado. Mas, eu vejo como algumas pessoas podem lidar com ela, e as dinâmicas inquietantes em sua casa e sua família podem ser ímãs para a empatia de grande parte do público.
Eu estava amando ler Eleanor & Park, e ainda estaria amando mesmo depois de terminar, se não fosse pelo drama desnecessário e tedioso de Eleanor que se estendeu nas últimas partes do livro. Não pensem que eu sou uma pessoa sem coração, que não simpatizei com seu problema e não me senti tocado, mas a escrita se tornou preguiçosa e não me convencia dos motivos da personagem.
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