DIRCE18 12/10/2014
Enriquecedor e tragicamente hilário.
Existem escritores que me assustam ( meu receio é que sejam muito Cult para minha pessoinha) e, dentre eles, estava Voltaire, porém as resenhas, daqui do Skoob, especialmente a da Glaucia, fizeram com que eu deixasse o meu receio de lado e me incentivaram a ler Cândido.
Esperava fazer uma leitura descontraída e divertida, mas ...espera aí: para, para, para tudo. Eu me senti do mesmo modo que me sinto diante dos tais vídeos cassetadas,vídeos divertidos e assemelhados, mudo de canal, pois não acho a menor graça -seria o mesmo que rir de uma pessoa que cai próximo de mim. Ara, ara...não faz o menor sentido. Parei. Busquei afastar da minha mente a névoa que ofuscava a lembrança de Calvino e, essa busca, me permitiu voltar à leitura com um novo olhar.
Cândido era um agregado de certo barão e, segundo seu professor ( Pangloss), vivia em um reino que era o melhor lugar do mundo. Todavia, Cândido se apaixonou pela diva Cunegundes, mas como ele não possuía sangue azul, foi expulso do reino.
Lançado à vida, vai parar em meio à guerras, terremoto, é açoitado e por pouco perde a vida.Continua sua jornada, encontra o Eldorado, enriquece, conhece seus semelhantes, pouco a pouco vê sua fortuna se esvair, mas, ainda assim, continua vendo a vida com os óculos de lentes cor- de- rosa que seu professor lhe impusera.
O viver é feito de voltas e reviravoltas e, foi graças a essas reviravoltas que Cândido teve seu quinhão de felicidades, porém, dessa feita, com os pés no chão. Simples assim? Claro que não. Cândido ou O Otimismo é um livro filosófico onde Voltaire critica a religião ( a católica face o desmando da Inquisição) o exercito , o governo e a filosofia do Otimismo. E agora, é simples assim? Claro que não. Eu, uma leitora adepta das leituras tortas, comparei Pangloss a nós - mães. Nós queremos proteger nossos filhos das frustrações, os criamos sob uma redoma, fazemos uso dos óculos de lentes cor-de-rosa, nos recusamos a deixá-los a aprenderem empiricamente, a valorizarem aquilo que obtiverem com seu trabalho, a aprenderem, como muito bem disse Cândido, a cultivarem os seus jardins .
Essa obra é enriquecedora e, tenho que confessar: tragicamente hilária.