Mauricio (Vespeiro) 09/09/2017“Não leia este livro!”Essa frase é incansavelmente repetida por alguns dos personagens das histórias presentes em “O Símbolo Amarelo e Outros Contos”. Eles leram o livro fictício (o roteiro de uma peça de teatro) “O Rei de Amarelo” ficaram loucos. E as atitudes advindas dessa loucura (misteriosa e inexplicável) são ingredientes para contos de terror cósmico que inspiraram ninguém menos que H. P. Lovecraft, por exemplo. Escrito por Robert W. Chambers, o livro homônimo traz 10 contos, sendo os 4 primeiros ambientados na “mitologia amarela”. Essa edição da Arte e Letra reúne 4 contos que se interrelacionam e um bônus escrito por Ambrose Bierce, que também faz referência ao original. Contrariando o título da resenha, esses são livros que você pode ler sem receio de enlouquecer.
Os contos foram publicados originalmente em 1895. Embora poucos acreditem, eu ainda não havia nascido. Trazem uma escrita cativante, envolvente e riquíssima. Chambers, Bierce, Lovecraft, Poe exigem do tradutor um conhecimento visceral da língua inglesa para que se possa fazer um trabalho de qualidade. Por isso preciso destacar o ótimo trabalho feito por Gabriel Oliva Brum. Durante o mês ainda lerei a edição da Intínseca, traduzida por Edmundo Barreiros, para a publicação original de “O Rei de Amarelo” (com seus 10 contos). Ela traz muitas notas ao final de cada conto que auxiliam na compreensão dos textos.
A edição resumida, com 5 contos, tem apenas a nata da mitologia criada por Chambers, porém nenhum extra, nenhuma nota. Certamente a leitura de uma edição mais completa vai aprimorar a minha experiência. Fica o registro de que o livro publicado pela Arte e Letra deixou escapar na revisão alguns erros de digitação, mas que não comprometem o resultado.
É notório o quanto Chambers influenciou Lovecraft (um dos meus autores preferidos). O estilo da escrita é muito parecido, apesar de entender que Lovecraft trouxe ainda mais qualidade e profundidade ao clima aterrador e nos brinda com uma mitologia muito mais ampla, rica e marcante, como os abomináveis “mitos de Cthulhu”. Pode ser impressão minha, mas entendi que a misteriosa atmosfera que Chambers procurou criar envolvendo um livro imaginário foi elevada à máxima potência por Lovecraft quando criou o “Necronomicon”. Os contos de Chambers também inspiraram a espetacular e memorável primeira temporada de “True Detective”. Quem gosta do estilo e ainda não assistiu, não perca mais tempo!
Além de boas histórias, o estilo lapidado favorece ao enriquecimento do vocabulário. Nesse opúsculo, pude aprender o significado (pesquisado) de novas palavras como: greva, escarcela, coxote, trapeiro, colbaque, casaco agaloado, colódio, tumefato, postigo, coruchéu, budoar, espineta, morrião, clerestório, doxologia. Ninguém disse que é fácil, mas é por demais saboroso!
Nota do livro: 6,73 (3 estrelas).