rxvenants 01/03/2022O típico romance erótico duvidoso dos anos 2010sAVISO DE CONTEÚDO: Há uma cena no começo so livro em que a personagem principal é assediada no local de trabalho (e é uma cena bem descritiva). Mais pra frente, ela descobre algumas coisas do ex dela e há descrição de fotos com mulheres violentadas e agredidas, bem como ameaças de estupro e assassinato que ela sofreu. Quase no final, há a descrição da morte do pai dela. Se você é sensível a algum tema dessas cenas, não leia o livro ou leia-o com cuidado.
Eu não sei o que eu estava esperando de um livro com essa sinopse, mas eu realmente recebi o que estava lá.
E é aquilo, eu sabia exatamente o que ia receber desse livro e as minhas críticas talvez serão óbvias, mas vou escrevê-las do mesmo jeito.
Alpha conta a história de Kyrie, uma mulher simplesmente fodida na vida e cheia de dívidas que recebe 12 misteriosos envelopes com 10 mil dólares e algumas mensagens: Você me pertence. Depois do décimo segundo envelope, um homem aparece na sua porta para cobrar a dívida e levá-la até o doador misterioso (aliás, que [*****] de pessoa coloca um cheque de 10 mil dólares no banco sem saber quem deu o dinheiro e não liga pra isso?)
E o livro é tão horroroso nessa história quanto ele parece ser. A história tem diversos furos (quando há alguma história).
Dá pra claramente ver a diferença entre a escrita da história no geral e a escrita nas cenas de sexo. É cruel dizer que a autora focou mais nisso e não ligou pro resto, mas dá pra notar que as cenas eróticas receberam mais atenção (o que é uma pena, pois elas mostram como a escrita no todo poderia ter sido boa, já que essas cenas são incríveis).
A história é aquilo: um cara possessivo que trata a mocinha como um anjo caído do céu e que tem um segredo obscuro que faz eles se separarem por dois capítulos e voltarem no último. É o comum pra um livro erótico lançado em 2014.
Entretanto, a história é jogada de lado. E a coisa que mais me irrita nesse aspecto é que não há indicação de nada para que ela progrida.
Não existe nada na narrativa que me fez acreditar nos sentimentos dos personagens ou que trouxesse peso para as partes que mais precisavam - e essa falta de complemento trouxeram diversos furos.
Primeiro que o par romântico, Roth, é creepy pra [*****]. Ele passou 7 anos pedindo pro segurança/empregado stalkear a Kyrie e tirar fotos dela (sem fotos pessoais, diz ele ? mais pra frente ele diz que só não tirou essas fotos pois se tivesse visto ela nua, ele teria ido atrás dela, não por ser invasivo pra cacete e um crime) depois de ter olhado pra ela por literais 5 minutos. Além disso, ele monitorou a vida dela e ficou interferindo sempre que podia pois "ela pertencia a ele" e ele queria "proteger ela", além do plot principal: mandar dinheiro pra ela e depois intimidar ela a ir pra casa dele ou o a família dela ia [*****] sem dinheiro.
É bem cômico que em uma cena enquanto eles falam sobre o sistema de segurança dele a base de digital, ela pensa que faz sentido ele ter até um desses na porta para o quarto dele pois ele é "maníaco por segurança, não creepy".
SE UM CARA TE PERSEGUIR POR 7 ANOS NÃO É CREEPY, EU NÃO SEI O QUE PODERIA SER ASSUSTADOR.
A autora inclusive tenta justificar as coisas que ele faz com a personagem principal achando que a perseguição dele é diferente de stalkear, já que pra ela stalkers "perseguem e ligam constantemente, sempre entrando em contato com a vítima e causando terror". Minha amiga??? Ele é stalker do mesmo jeito, que [*****] é essa???
Isso inclusive trás um furo na história bem grande, que é no passado as contas dessa mulher serem pagas magicamente e ela não ligar pra isso. Ela diz que teve problemas com dinheiro desde que o pai morreu e ela não liga quando as contas são quitadas do nada??? Ela literalmente só deixa pra lá como se fosse normal e nem tenta descobrir quem pagou.
Quando ela é levada à casa dele, eles têm essa conversa e três coisas me chamaram a atenção: a primeira, que ele fala que nem Shakespeare, só que um Shakespeare que tomou decisões bem erradas na vida.
Esse cara falando normalmente é a coisa mais vergonha alheia que eu já vi. Não entendi o motivo de ele falar como um aristocracia da família real. Ele vêm de família rica, mas o pai dele abandonou ele na adolescência, dizendo que a herança do Roth era ele construir a própria fortuna (sim, ele foi abandonado no meio da Inglaterra rural pra [*****]). Se ele passou mais da metade da vida longe da família de sangue, qual o motivo de ele falar desse jeito?
A segunda coisa que me chamou a atenção foi o Roth não exigir sexo da Kyrie quando ela chega a casa dele: ele diz que eles só fariam se ela estivesse confortável e quando ela quisesse e implorasse por sexo com ele (o ego desse cara, meu pai do céu). Ela então fala que seria tipo uma prostituição e ele diz que não, pois não vai exigir nada dela e ela pode ir embora quando quiser.
LOGO DEPOIS ele diz que porém, se ela for embora, ele vai parar de dar dinheiro pra ela (uma intimidação pra ela ficar lá) e eles conversam sobre coisas que são 80% sexo.
Na mesma noite, eles passam por uma sessão cheia de tensão sexual e eles se beijam.
Eu achei essa passada de pano pro Roth esquisita demais. Não sei vocês, mas eles só conversarem sobre sexo, ele dar dinheiro pra ela e dizer que em algum momento vão transar parece algum tipo de prostituição e pagamento de dívida com corpo.
Ela faz o que ela quiser com o corpo dela, mas me enrolar? Aí é foda.
A terceira coisa foi o retrato do Roth como um cara educado e sincero, como se ele não fosse um cara de 36 anos excêntrico e esquisito pra cacete.
Ele fala na conversa que ele tem um segredo que vai separar os dois em algum momento e a mina só segue o baile como se essa não fosse a pior coisa que alguém pode dizer depois de falar que te stalkeia por 7 anos.
Enfim, tirando esse plot assustador, a falta de sustância na história é de dar nos nervos.
Fora a tensão sexual entre os dois, NADA acontece. Esse livro é um grande exemplo de quando autores falam tudo e não mostram nada.
O surto psicológico da mãe da Kyrie e o irmão dela são grande parte da personagem, mas ela visita a mãe uma vez e nunca fala com o irmão (ela manda um e-mail pra ele, mas a gente nunca lê o e-mail e nem sequer ouve falar de uma resposta).
O Roth é rico pra caramba, mas tirando as empresas e restaurantes que ele fala que comanda, a gente nunca vê ele trabalhando. Existe um capítulo que ele fala que ficou fora por dois dias pois precisava trabalhar, mas pra variar, a gente não vê os dois separados e a Kyrie fazendo algo nesse tempo, só há um corte de tempo.
Todas as conversas entre os dois são minadas por meias frases de "a gente conversou", mas a gente nunca lê as conversas. Quando a gente lê, os dois só falam, novamente, de sexo e não dá pra acreditar em nenhum desenvolvimento de relacionamento entre eles.
O leitor não conhece os personagens direito, a própria Kyrie diz que não sabe nada do Roth, e fica por isso mesmo. Ninguém conhece ninguém, mas por algum motivo a personagem principal confia nele como se ele fosse um super herói da Marvel.
E como eu disse, não há nada na história que faça ela progredir. Não há um conflito, a personagem principal nunca questiona o Roth, nunca tem nada além dos dois se comendo. NADA.
Quando eles se separam brevemente no final, a Kyrie conta pra amiga sobre o Roth e dá pra ver como ela não tem NADA pra falar sobre ele além de ele ter um pau do tamanho da Torre Eiffel e ele ser bonito e rico.
Não tem nada da personalidade dele pra gente se apegar e muito menos ela.
Os dois se apaixonaram de uma forma que só pode ser descrita como Amor de Pika já que é a única coisa bem escrita no livro.
ELES NÃO SE CONHECEM (bom, ela pelo menos não conhece ele, já que Roth conhece ela bem pelos 7 anos que ele perseguiu ela).
E isso nos leva ao final e ao super segredo dele.
Basicamente, o Roth vendeu armas legalmente no passado e tinha conflitos com o pai da Kyrie era dono de um lugar de prostituição, o que não é muito bem explicado (eu também não me prestei muito a entender). Sem falar que é só conveniente que ninguém naquela casa soube disso.
A Kyrie lembra uma vez de ter sentido perfume no pai, mas a mãe não usava perfume. NADA MAIS.
O cara era simplesmente o maior mentiroso do mundo.
Enfim, continuando, um dia o pai dela foi tirar satisfação com o Roth com uma arma, ameaçando ele. Eles brigaram por um momento e sem querer o Roth baleia o pai da Kyrie no coração.
Pra variar, não tinha câmeras, testemunhas e ninguém sabia que o Roth estava lá, então ele só pegou as malas e foi embora.
O Roth conheceu a Kyrie 2 semanas antes, quando estava falando com o pai dela no escritório dele e ela entrou. Eles nunca se falaram.
Bom, o que já tava ruim ficou pior: ela passou pelo inferno pra tentar pagar as contas que o Roth não tinha pagado e quase morreu de fome todos esses anos pois o cara que transou com ela e que ela se apaixonou (a gente já falou disso) matou o pai dela.
Eu não sei o que é pior do que perdoar o cara que matou seu pai e fudeu sua vida, mas de alguma forma isso aconteceu.
E o que incomoda além dessa péssima ideia é a história não falar disso em NENHUM momento. De novo, a autora simplesmente não coloca NADA na escrita dela.
A Kyrie chega a achar que reconhece o Roth de algum lugar, mas ela nunca mais toca no assunto. 270 páginas até o ponto da revelação e a Kyrie nunca sequer cogitou pensar de novo sobre o segredo dele.
A personagem parece não ter consciência de nada, é totalmente bizarro.
Eu meio que descobri isso no meio do livro, já que a única coisa que poderia ligar os dois era a morte do pai dela. Não tinha nenhum indicativo pra eu saber disso, mas como eu tinha certeza que eles iam se separar em algum momento, essa era a única coisa que faria os dois se afastarem.
Essa conversa dos dois no final foi muito mal feita. Nada acontece no livro inteiro, a Kyrie mesmo nunca pensa sobre o Roth sem ser para a satisfação sexual dela. Não há nenhuma desconfiança no livro que faria essa revelação ter um pouco de nexo.
Se em algum momento a Kyrie deaconfiasse de algo, se ela visse algo do pai dela, QUALQUER COISA, seria diferente, mas não há construção de suspense. A gente só chega nessa cena achando tudo muito vergonhoso graças a falta de peso do momento.
Parece que eu tô exagerando quando falo que nada acontece, mas é que os capítulos são literalmente só as cenas de sexo dos dois.
Eu estava até considerando das 2 estrelas por essas cenas, pois elas foram realmemte bem escritas. Eu queria algo bem focado nisso e essas cenas em específico não me desapontaram, mas depois de perceber tudo que me irritou na leitura (existem outros dois pontos no final da resenha), não sei se consigo dar 2 estrelas meramente porque o sexo foi bem escrito e descrito. O dirty talk é bom pra caramba e a tensão sexual é ótima. É até triste que o resto seja uma porcaria.
Se alguém quer ler só por isso e fechar os olhos pra história mais rasa que uma poça d'água, eu recomendo, mas fora isso, não tem muito o que recomendar.
Eu inclusive fui pesquisar pra ver qual era a sinopse do segundo livro da série (sim, é uma série), já que não há nada nesse livro que diga que ele precisaria de uma continuação, pois não há conflito. Aparentemente eles viajam, transam e o Roth desaparece um dia e só fica um bilhete: Ele me pertence.
Eu ficaria intrigada se não achasse que seria a mesma coisa desse: um problema que nunca foi plantado vai acontecer e tudo vai ser conveniente demais só por que a autora quer. Eu não ligo pra ninguém desse livro e não há uma qualidade neles que me faça torcer para os dois ficarem juntos.
Eu não ligo pra quem sequestrou o Roth (ou induziu ele a se separar da Kyrie). Não há nada no primeiro livro que dê indicação que é perigoso ficar com o Roth ou que alguém quer matar ele ou quer separar ele da Kyrie, além de ele não sair de casa e ter um sistema de segurança grande.
Eu não tô a fim de me torturar e ver as desculpas que a autora vai criar pra esse novo bilhete.
ENFIM, é isso. Como eu disse, o livro não tem nada, não é instigante e nem os personagens são legais. As cenas eróticas são boas, mas não cobrem todos os problemas que o livro carrega.
P.S.: O livro também carrega aquela ideia de que pra um relacionamento funcionar tem que haver sexo. Existe uma ideia meio esquisita que sem atração sexual, relações não vão pra frente, o que é bem chato pra assexuais lerem.
Eu mesma fiquei um pouco incomodada (sou aroace) e rolando os olhos no começo quando esse papo começou.
Acho bom deixar claro que isso existe no livro, mas como ele é de 2014 (quando assuntos de aroaces não eram nada tocados) e é um livro erótico de uma autora allo e personagens allo que só sabem pensar em transar, eu não esperava muita coisa.
P.P.S: Existem coisas erradas com o retrato de latinos nesse livro.
? Primeiro, aqueles que ameaçaram estuprar e matar a Kylie eram pessoas que falavam espanhol e dá claramente pra saber que não eram personagens da Espanha. Dá pra saber que a autora não os colocariam como europeus.
? O Roth, quando fala da sua época de vender armas, fala sobre a América do Sul - o famoso estereótipo de latinos traficantes.
? Há uma empregada/chef/governanta do Roth, a Eliza. Ela é hispânica (no sentido de que ela é descrita como tendo sotaque da língua espanhola), provavelmente latina. O livro fala que ela ganha melhor que muitos CEOs só por ajudar o Roth, mas a única latina que ativamente fala algo sem ser ameaça de estupro ser alguém que serve (ao ponto de se isolar e não ter família ou amigos por conta do trabalho) dois personagens loiros, brancos e de olhos azuis não cai bem pra mim. Cai extremamente mal, na verdade.
Decidi não colocar como grande parte da resenha esses pontos, mas precisei comentar. Esses foram grandes fatores pra eu odiar esse livro, além da história ruim.
Não há nenhuma quantia de cenas de sexo bem escritas que me façam esquecer essas agressões.