Queria Estar Lendo 20/07/2017
Resenha: O Irresistível Café de Cupcakes
O Irresistível Café de Cupcakes é o livro de estreia da Mary Simses e foi lançado por aqui pelo selo Paralela, da editora Companhia das Letras -- que nos cedeu o exemplar para resenha.
O livro acompanha a viagem que Ellen, uma proeminente advogada de Manhattan que está completa e irrevogavelmente acostumada aos luxos da cidade grande, até a pequena cidade de Beacon, no Maine, para realizar o último desejo de sua avó, falecida uma semana antes.
Ellen está de casamento marcado com seu noivo, Hayden Croft, um advogado em ascensão com interesse em uma carreira política, como todo o resto de sua família, e apesar da viagem acabar tirando a vida agitada de Ellen dos eixos por alguns dias, ela não consegue desapegar da promessa que fez a avó: entregar uma carta que ela escreveu para Chet Cummings, seu amor de adolescencia com quem, aparentemente, deixou as coisas meio inacabadas.
"Eu ainda penso em você sempre que vejo blueberrys."
A princípio a garota de cidade grande que existe dentro de Ellen fala mais alto e ela está determinada a entregar a carta e sair de Beacon sem nem olhar pelo retrovisor -- especialmente depois do incidente no pier que quase a matou e colocou seu resgate na primeira página do jornal local, rendendo uma pelido inconveniente.
Porém, quando ela descobre que Beacon esconde segredos sobre a vida de sua avó que ela nunca tinha imaginado, Ellen fica tentada. É uma oportunidade única de descobrir mais sobre a vida da mulher que lhe ensinou muito do que ela sabe e quanto mais percorre a cidade, desvendando a história da avó, mais ela passa a questionar as decisões que fez sobre a própria vida. Especialmente quando um certo carpinteiro que a salvou do afogamento continua a aparecer no meio do seu caminho.
"Eu levaria para o túmulo a informação de que os pacientes do dr. Peter Herber geralmente tinham quatro patas."
O Irresistível Café de Cupcakes tinha tudo para ser o tipo de livro que aquece o meu coração: uma história antiga a ser desvendada, uma pequena cidade praiana e uma busca acidental por autoconhecimento. Mas, infelizmente, não foi bem assim que aconteceu para mim.
Estou completamente ciente de que os meus sentimentos pelo livro nada tem a ver com a qualidade da obra: Mary Simses tem uma narrativa bem fluida e fácil de ler, ela não te entedia e não se prolonga em divagações desnecessárias. Ela é bastante objetiva -- embora a Ellen tenha me incomodado muito no inicio com a dificuldade de entender uma de suas ações ao ser resgatada -- e coerente.
Os personagens são bem escritos e seus desenvolvimento é congruente com a história. Ela não precisa usar de artifícios como a/o ex louca/o ou artimanhas de um namorado/ex para criar obstáculos na história, fica bem claro que os obstáculos são o próprio crescimento dos personagens e a forma como pequenos detalhes podem mudar nossa vida toda.
"Talvez Roy tivesse razão quando disse que a Vovó me mandou para cá para descobrir os segredos dela. Talvez ela tenha me mandado para descobrir os meus também."
Porém, todavia, entretanto, não consegui me apegar a nenhum dos personagens. Não existiu um momento, para mim, em que os personagens ganharam meu coração. Nem mesmo a pequena cidade de Beacon -- e quem me conhece sabe que eu sou louca por cidade pequenas, especialmente aquelas com moradores intrometidos e peculiares, como Stars Hollow (Gilmore Girls), Bluebell (Hart of Dixie) e Everwood.
Eu consegui ver o que ela estava tentando fazer, mas muitas das atitudes dos personagens que deveriam soar como uma intromissão características dessas cidades onde todo mundo conhece todo mundo, soaram estereotipadas e rudes, em vez de engraçadas. Não gostei, especialmente, do fato de que mais da metade do humor do livro não se baseava no senso de humor dos personagens ou algo do tipo, mas sim em situações que deveriam ser cômicas -- mas acabaram soando como rudes, humilhantes e invasivas. Não tinha graça alguma.
O interesse amoroso de Ellen, Roy, além de não me cativar, me deixou irritada em vários momentos. Ele aparece todo cheio de preconceitos para cima de Ellen por ela ser uma advogada, mas a história nunca explica porque ele não gosta de advogados e menos ainda formula um pedido de desculpas decente a respeito de tudo isso. O romance dos dois também nasceu do nado, bem princesa da disney.
O livro é bem curtinho, tem apenas 288 páginas, e acho que se tivesse se estendido um pouco mais, teria conseguido criar um romance mais crível. Também acho que cortando alguns twists desnecessários ela poderia ter se aprofundado mais na questão central. A Mary adicionou alguns arcos sem função na história, que terminaram servindo a nenhum propósito nela.
No fim, eu fiquei me perguntando se tinha sido eu que não estava preparada para ler um livro como esse, ou se realmente faltava algo ali. Na capa a gente tem uma indicação do James Patterson que compara a história com os romances de Nicholas Sparks e eu realmente estava esperando algo como as histórias que estou acostumava a ver nos filmes baseados em obras dele. Resta saber se fui eu que me enganei ou é algo que a gente se acostuma com o tempo.
Por fim, talvez os fãs do Nicholas Sparks consigam encontrar nesse romance algo que eu não consegui -- e, se fizerem isso, por favor, me avisem!