Mari 08/06/2015Poético!Comecei a ficar intrigada com a história logo na capa. Normalmente conseguimos entender o que esperar de uma história por alguns elementos constantes na capa. Mas essa era diferente, tão abstrata e nada previsível. Me ganhou!
Em Morada das Lembranças acompanhamos a fuga de uma menina, sua mãe e seu irmãozinho do país natal, a Rússia. Em meio à Revolução Russa e com a morte do pai, Maria (como ficou conhecida quando chegou ao Brasil) viu a vida confortável que levava desmoronar diante dos seus olhos. Ela ainda não entendia o porque, mas precisava ser forte e acompanhar a mãe que, com a ajuda de amigos, conseguiu fugir para a Polônia e, logo depois, para o Brasil.
O livro todo é narrado em primeira pessoa. A rápida fuga, o frio que matava, o permanecer escondida para que ninguém visse que duas crianças estavam acompanhando a mãe (apenas uma era permitido), todos os episódios que levaram à mudança tão drástica de vida são contados através da percepção de Maria.
Eu, chorona assumida que sou, já comecei a derramar algumas lágrimas logo nas primeiras páginas quando Maria, no fim da vida, começa a narrar a história dos seus primeiros anos e das lembranças que tinha daquela época de mudanças.
Logo no início, a forma como Maria começa a contar a história, me levou a crer que ela falaria do relacionamento com sua neta. Foi nesse momento que as lágrimas começaram a rolar pois foi impossível não lembrar de minha avó, com quem eu era extremamente ligada e que já deixa saudades em meu coração desde 2009. Mas não é esse o caminho que o livro toma e eu confesso que fiquei um pouquinho decepcionada, porque ainda não li nenhum livro que fala da ligação entre avós e netos, achei que este poderia ser diferente mas a questão foi abordada bem sutilmente.
Independente disso, Morada das Lembranças é um livro poético. Apesar de narrado por uma criança, a forma como a personagem nos conduz para as dificuldades dos seus dias é comovente. Acompanhamos todas as mudanças e as recordações que Maria foi obrigada a guardar em um baú no seu coração: sua terra Natal, os nomes impronunciáveis que foram trocados por mais simples na chegada ao Brasil, os documentos originais da família, os pais, a religião e a vida que nunca mais seria a mesma. A narrativa não é nada infantil e é carregada de sentimentos e determinação.
A cada etapa da vida de Maria as letras das páginas são acompanhadas por ilustrações abstratas, como as da capa. Interpretei como as cores das lembranças, pois os tons das ilustrações mudam a cada capítulo e, a meu ver, de acordo com os sentimentos de Maria. Como eu disse, poético.
Indico o livro a todos e parabenizo a autora, Daniella Bauer pela sensibilidade em sua escrita. Desejo muito sucesso!
Espero que gostem!
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http://cantinhodeleituradamari.blogspot.com.br/2015/06/resenha-morada-das-lembrancas.html