Greice Negrini 05/09/2014Um ótimo inverno!Alessandra tinha apenas 15 anos quando precisou encarar uma grande tragédia. Não que esperasse que tudo se resolvesse em um piscar de olhos, mas quando ouviu de sua mãe que estava doente, perdeu-se em seus pensamentos e de repente o mundo parou. Descobrir que sua grande companheira, de apenas 38 anos estava com câncer, era como saber que o fim do mundo estava chegando.
E foi basicamente assim que viveu durante os dois anos seguintes: entre a dor e a luta. Sabia que sua mãe fazia de tudo para não demonstrar a dor que sentia para sua filha e sua mãe, avó de Alessandra. Mas o definhar de suas feições era notável e a despedida de Alessandra foi dura quando pega de surpresa um dia na escola.
A partir deste momento decidira que se isolaria. Não queria mais abraços e as famosas palavras de lamentações de amigos e amigas que muitas vezes não passavam de lamúrias falsas. Não queria ter que dar explicações de como era ser pega sozinha e chorando a falta de sua mãe durante a noite.
Foi então que Alessandra decidira se juntar ao famoso Zero. Zero nada mais era do que Gabriel Righi, o "garoto problema" de sua classe, que não conversava com ninguém e que também não demonstrava nenhum tipo de simpatia. Simplesmente chegava e saia com seu habitual humor duro. Sabia-se que sua família era bastante problemática; sua mãe trabalhava muito e seu padrasto era bebia mais do que o permitido, o que fazia Zero nunca querer voltar para casa.
No dia em que Alessandra sentou-se ao lado de Zero, a classe inteira considerou que ela estava enlouquecendo pela morte de sua mãe. Sua melhor amiga Sônia tentou persuadi-la, porém sem nenhum ganho. Assim, Alessandra virou Zeta, a companheira de Zero.
Aos poucos, a habilidade de Alessandra foi ganhando pontos com Gabriel e um mundo de cores cinzentas foi surgindo para duas pessoas que não viam nada além do que a tristeza para seus futuros.
Alessandra tinha sua avó, mas a dor não era algo que podia ser compartilhada. Ambas sabiam o que havia sido perdido e a vida teria que tratar tudo de uma forma racional. Gabriel não via um futuro além do que um prédio em obras poderia oferecer e então, talvez juntos, os dois pudessem resolver as dores mais profundas e seus maiores medos.
O que falo sobre o livro:
Não vou ser injusta ao dizer que para a escolha deste livro eu tenha escolhido-o inicialmente pela sinopse. Obviamente o livro me encantou pela capa. Sabe quando você olha uma capa e a sensação corporal acaba sendo levada junto? Foi o que aconteceu comigo. Li o livro no inverno da minha cidade que fica no Rio Grande do Sul e com os trechos passados em momentos mais rígidos, a sensação acaba te colocando mais perto ainda da narrativa.
A autora, por ser seu primeiro romance, parece ter acertado em alguns parâmetros. Ao menos o que indica na parcela de sentimentalismo e dramaticidade. A narrativa sobre a perda de sua mãe é bastante sutil em um ou dois capítulos, mas se estende pelos momentos e sentimentos da personagem principal ao longo do livro. A lembrança imperativa sobre momentos da infância e adolescência entre mãe e filha gera um conflito interno de dor que faz com que o leitor crie uma simpatia gigantesca pela adolescente pois a autora o faz com tanta veracidade e mágica que parece estar externando os próprios sentimentos.
A junção de um personagem masculino "rebelde" pode ter sido uma divisão de águas. Os capítulos se tornam um pouco mais movimentados mas a história acaba sendo maltratada com o famoso "Zero". Não que não fosse uma ótima ideia. Acredito que o sentido que a autora criou foi bem concedido, mas a trama estava tão naturalmente criada e sentida pela personagem que ter o Gabriel na história foi como ter um intruso em cena. É como se parecesse que a história precisasse de um balanço para fluir e não creio que precisasse.
Também pode ter outra questão. Se a narrativa fosse feita somente entre as lamentações da personagem, talvez ficasse monótona demais. Assim, cruzando entre o realismo da dor e a rebeldia do garoto, dois mundos diferentes criaram uma certa vantagem. Nada dura para sempre e nada é eterno que não possa ser modificado.
Um livro esperançoso e bem escrito. Capítulos entrelaçados com a narração da personagem sobre sua mãe em que parece que está escrevendo em um diário e outros em que parece estar conversando consigo mesma. Parece que é um passado presente, por assim dizer.
Bonito, leve e descontraído.
site:
www.amigasemulheres.com