Leila de Carvalho e Gonçalves 14/07/2018
Originalíssimo
Eleanor Catton, surpreendeu a literatura mundial em 2013 com seu segundo romance, "Os Luminares", um calhamaço de mais de oitocentas páginas considerado admirável para uns e pouco palatável para outros.
Sua história transporta o leitor para o século XIX, durante a corrida pelo ouro na Nova Zelândia e tem como palco um vilarejo fictício, Hokitika. Pelas suas ruas, desfilam desde marujos e traficantes de ópio até prostitutas e seus cafetões, uma horda fascinante, especializada em fraudes, chantagens, naufrágios e assassinatos.
No meio dessa balbúrdia, o sumiço de um rico empreendedor e a estranha morte de um ex-garimpeiro despontam na narrativa. Aliás, originalíssima, ela foi estruturada de acordo com parâmetros astrológicos cuja fonte são mapas astrais referentes as datas dos acontecimentos apresentados. Esses mapas estão reproduzidos no livro e suas informações determinam as características e o destino de cada personagem.
Porém, a originalidade do romance não para por aí. No início da narrativa, Catton monta um interessante quebra-cabeças, uma espécie de paródia vitoriana que pouco a pouco, vai sendo desconstruída, chafurdada em álcool, sexo e drogas.
Com relação ao título do romance, os luminares são a Lua e o Sol e correspondem aos protagonistas de uma bela história de amor: a prostituta Anna Wetherell e Emery Staines, o empreendedor desaparecido. Curiosamente, eles são portadores de cartas astrais gêmeas, isto é, nasceram no mesmo dia e hora, separados apenas por uma pequena distância.
Você não precisa ser um perito em astrologia para se aventurar por essa história, mas sua leitura exige redobrada aplicação. Quando necessário, recorra a lista de nomes e lugares apresentadas nas primeiras páginas do livro e tenha em mente que irá encarar narradores indignos de confiança: todos possuem um passado desprezível, escondem segredos e distorcem os fatos. Por sinal, por mais que você se debruce sobre a trama, Catton sempre deixa algum mistério no ar, mas insinua o que pode ter acontecido, desapontando ou fisgando a curiosidade do leitor.
Finalmente, desde o século XIX, grandes filósofos e escritores, como Sartre e Bianchot, vêm afirmando que a literatura está com seus dias contados. "Os Luminares" prova que ela ainda tem fôlego e espero que por muito tempo.
Nota:
Seguem algumas associações que encontrei na Wikipédia. Elas me ajudaram a compreender melhor o viés astrológico da história:
Personagens e Signos: Tauwhare (Áries), Charlie Frost (Touro), Benjamin Lowenthal (Gêmeos), Edgar Clinch (Câncer), Dick Mannering (Leão), Quee Long (Virgem), Harald Nilssen (Balança), Joseph Pritchard (Escorpião), Thomas Balfour (Sagitário), Aubert Gascoigne (Capricórnio), Sook Yongsheng (Aquário) e Cowell Devlin (Peixes).
Personagens e Planetas: Walter Moody (Mercúrio), Lydia Greenway ou Wells ou Carver (Vênus), Francis Carver (Marte), Alistair Lauderback (Júpiter), George Shepard (Saturno), Anna Wetherell (Lua) e Emery Staines (Sol).