kleris aqui, @amocadotexto no ig 16/01/2015Se você gosta do Twitter, não espere boas sacadas. Se você só conhece por falarem sobre, é um bom convite para ver como funciona.Acho que fazer uma história com base em redes sociais (ou que cite umas) é um pouco... arriscado. As redes mostram tanto serem essas coisas de momento, que se o instante passa, meio que já era (?). Senti que a rede social de que a Teresa falava ficou apagada. Na verdade, muita coisa nesse livro é um pouco apagado. Mas vamos por partes.
Abby é uma escritora em crise em seu segundo livro, precisa de uma forcinha e sua agente acha que entrar na rede seria uma boa para divulgação de seu trabalho. Além da atividade em blogs e no Facebook, constantemente atualizados por Abby, o Twitter, pelo visto, representa um público alvo em potencial, dando uma maior proximidade com leitores e sua vida literária.
Iniciante nessa ideia, Abby começa a usar a ferramenta sem muito entender o que faz, e nessa experimentação ela conhece Mark, que percebe que ela é novata ali no site e resolve ser seu guia twitteiro. Ao longo dos dias, Abby se vicia fácil na brincadeira, eles conversam sobre coisas aleatórias e pessoais, vão construindo uma amizade e logo estão bem ligados. Isso até um dia que Mark revela um fato sobre sua vida e Abby faz tempestade em copo d’água por isso.
Confesso que não li bem a sinopse quando soube do livro, porque, como uma twitteira viciada que sou (rs), a premissa de um romance se passando em tweets (posts em 140 caracteres) me ganhou simples assim. Na realidade, sempre quis ler um desses, tendo em mente as maravilhas que foram uns livros da Meg Cabot (a série Boy explorava diários e e-mails), um da Sophie Kinsella (Fiquei com seu número explora sms e e-mails) e o do Daniel Glattauer (@mor, com e-mails). Resultado: abri esse livro com uma expectativa tão alta que não pude imaginar o tamanho de minha queda.
Ao folhear de primeira, notei que as trocas de tweets eram como em um chat. Acho que editora da autora optou por isso pra ter mais alcance de leitores, já que nem todo mundo usa o Twitter e, por ter uma lógica um pouco particular de funcionar, ele pode parecer complicado à primeira vista (por isso que a empresa pensa em mudar --’). Assim não esperei mesmo que mantivessem o formato dos tweets ou a estrutura do próprio Twitter/Tweetdeck (aplicativo que gerencia perfis), embora tenha parecido estranho ao longo da narrativa. Para quem não sabe ou conhece, a lógica da rede é de leitura de baixo para cima, seguimos perfis, falamos de tudo e nada e com 140 caracteres à disposição. Fotos, vídeos e links ademais têm suas URLs encurtadas por isso.
Até aí tudo bem, nada decepcionante. Algumas mensagens claramente tinham mais de 140 caracteres (você fica com olho biônico depois de se acostumar a reduzir caracteres, então sabe seu limite), mas também nada alarmante considerando que é um texto traduzido e nenhuma abreviação foi usada (o que me faz pensar no texto original e se a própria Teresa subestimou isso).
O que me pegou mesmo foi que a autora tinha uma boa ferramenta em mãos e não usou (ou não soube usar). Fiquei perdida em algumas partes, pois, já que não há uma interface ou informação ademais pra nos indicar onde se dá a conversa (nem as @s!), se na linha de tempo, se em DM*, aconteceu de uma hora a Abby tuitar para seus seguidores o que deveria sair em uma conversa privada e ninguém se tocar disso até o Mark comentar. Era para parecer ingenuidade da Abby?
DM*: Direct Message/Mensagem Direta - funciona como um inbox/chat privado da vida, só que com o padrão de 140 caracteres também. A ordem de leitura é "normal", de cima para baixo, como o chat.
Duzentas páginas de conversas "rápidas" se tornaram as duzentas mais interminááááveis. Ok que muita coisa tenta ambientar o Twitter, mas a maneira feita pela Teresa deixou tanto a desejar, que só sosseguei mesmo quando me forcei a acreditar que ali era algum bate-papo UOL alternativo que por um acaso roubou umas funcionalidades do Twitter. Então se você gosta do Twitter, não espere boas sacadas. Se você só conhece por falarem sobre, é um bom convite para ver como funciona.
Fora desse contexto então se espera uma boa história, certo? O enredo me pareceu um pequeno conto, onde tudo acontece depressa demais e com uma intensidade um pouco exagerada. Quer dizer, Abby se envolve tanto com Mark a ponto de sofrer como se fosse uma baita decepção. Nisso a história não me convenceu.
As surpresas boas (tem sim!) são o ritmo e o humor das conversas, que foram espirituosas e a la twittescas. Uma coisa que é bem particular é o humor no twitter, como a piada interna que poucos acompanham a pegada. Há algumas conversações que falam desse preconceito que rola entre Twitter e Facebook, mas, como outras coisas, foi algo bem passageiro.
Há também muitas referências a filmes e séries, e referências essas que são argumentos para piadas e brincadeiras entre Abby e Mark. Não me incomodaram, são até bem legais e engraçadas, só presumo que muito leitor vá deixar passar ou se sentir perdido por não ter as bases para entender, já que refletem uma cultura que aqui pouco chegou. Fiquei na dúvida se valeriam notas explicativas, mas aí seriam taaaaaaaaaantas... Nesse sentido a Teresa afunilou tanto seu público que a promessa seria (deveria ser?) uma história muito boa, que aí se revelou de pouco desenvolvimento.
Os papos entre Abby e Mark roubam as páginas, de modo que os capítulos ficam com pouco texto narrativo. O título original é Goodnight Tweetheart e gostaria que fosse Boa noite, Tweetheart mesmo, pois outra sacada se perdeu aí; acuso o alcance de leitores novamente para explicar. A capa é fofa, com os passarinhos temáticos da rede social. Ouvi falar que já acharam que eram algum tipo de autoajuda a la tempos de redes sociais haha Não, nada disso, garanto.
Recomendo para quem procura um livro para umas horinhas e guarda baixa, que aí Abby e Mark vão preencher de boa!
OBS: para visualizar trechos e tweets especiais para o post, entre no link da resenha.
site:
http://www.dear-book.net/2015/01/resenha-twittando-o-amor-teresa-medeiros.html