spoiler visualizarValdeci 14/10/2011
A Escriba
Ultimamente tenho me dedicado a comprar (e ler) livros que tenham como pano de fundo fatos históricos e, recentemente comprei na Livraria Saraiva 12 livros nesta linha editorial. Quem me acompanha pelo blog já deve ter percebido esta minha preferência pelas resenhas literárias que aqui tenho postado. Deste lote de 12 livros adquiridos, já escrevi neste espaço meus comentários sobre os livros “O Caminho de Nostradamus” dos escritores Dominique e Jèrôme Nebécourt e “Filha do Amanhecer” da escritora Pauline Gedge. Com este intuito que li A Escriba, de Antonio Garrido. Confesso que fiquei um pouco decepcionado com a narrativa de Garrido. Não que o livro seja ruim ou coisa do gênero, mas eu esperava bem mais. Esperava uma narrativa mais detalhada sobre os conturbados anos da Idade Média com todo o perigo que era viver naquele período em que a Igreja Católica Apostólica Romana dominava o mundo com mão de ferro (e muita lenha para queimar hereges e inimigos). De qualquer forma foi uma leitura interessante, já que é uma mulher a protagonista deste romance. Este fato é importante (uma protagonista mulher) levando-se em conta a época que se passa a história. Com certeza foi o igrediente que me levou à última página. Leitura ideal também para quem gosta de aventuras do tipo “capa-espada” e para quem se dispôs a resolver crimes e assassinatos ao estilo O Nome da Rosa, de Umberto Eco. Aliás, ambos personagens (Alcuíno de York e William de Baskerville) se parecem muito no que diz respeito a importância que dão aos detalhes e a capacidade de interpretá-los corretamente.
A história se passa na Alemanha nos idos dos anos 799 onde Carlos Magno está a vésperas de ser coroado Imperador do Ocidente pelo Papa Leão III para fazer frente aos povos bárbaros e assim ampliar o poder da Igreja Católica em todo o mundo. Nesta época Carlos Magno encarrega Górgias, um ilustre escriba bizantino, a tradução de um documento de vital importância para o futuro da Cristandade. No decorrer do trabalho de tradução deste importante documento, Górgias vai ensinando a sua filha Theresa o seu trabalho intelectual e todo o processo de fabricação de papiros, curtimento do couro e demais etapas relativas ao ofício de respeitável escriba da corte. Todavia, acontecimentos alheios interferem neste trabalho e tudo fica em suspenso até a elucidação de tais fatos. Um acontecimento importante que interferem nesta tarefa é a falsa acusação de que Theresa seria a responsável de ter provocado um grande incêndio nas oficinas dos curtidores de couro. Por todos acreditarem que ela morreu no incêndio, aproveita a chance de fugir da cidade para não ser presa injustamente. Na sua fuga chega à cidade de Fulda onde se estabelece na taberna de uma negra que também é a prostituta da região. Lá vem a conhecer o frade britânico Alcuíno de York que está na região investigando uma terrível epidemia que assola a população.
Com o passar do tempo, e por ser uma mulher inteligente que sabe ler e escrever, Theresa se torna uma escriba em um monastério de Fulda com a proteção do frade britânico. Ao ser informada que seu pai está desaparecido resolve voltar para sua cidade natal na companhia de Alcuíno. Começa então a aventura de descobrir o paradeiro de seu pai bem como a investigação na tentativa de solucionar as misteriosas mortes ocorridas na cidade. Com a investigação em andamento, Theresa e Alcuíno se deparam com uma teia conspirativa de ambição, poder e morte. Todos são suspeitos e cada um esconde um segredo. Com seu faro de detetive e a perspicácia de observar pequenos detalhes do cotidiano da cidade Alcuíno vai solucionando um fato aqui e ali e fechando o cerco sobre os responsáveis pelos assassinatos ocorridos no monastério e na cidade. Inúmeras reviravoltas e alguns suspeitos desaparecidos depois, a investigação volta sempre para a estaca zero e tudo precisa ser repensado e novas investigações realizadas. Uma verdadeira luta de gato e rato na escuridão da Idade Média. Doenças, mortes, miséria, fome e fogo perseguem a todos e só os poderosos do clero estão a salvos. Ou não.
Solucionar o desaparecimento de Górgias, provar a inocência de Theresa no incêndio da oficina, descobrir os responsáveis pelos assassinatos e envenenamentos da população e, acima de tudo, descobrir qual a verdadeira importância do pergaminho para a cristandade (e onde ele se encontra, evidentemente) são as perguntas que irão levar o leitor à última página.
Em uma entrevista, Garrido justificou a razão porque escolheu uma mulher para ser a heroína de seu romance:
“Elegi uma mulher para ser protagonista porque são elas as grandes esquecidas da História. Queria uma mulher de carne e osso, enfrentando as dificuldades que haviam na Idade Média, onde a vida dos homens valia pouco ou quase nada. Theresa tem ânsia de aprender, de sobrepor-se às adversidades, de lutar por seus sonhos e conhecer a cultura que lhe estava vetada”.