Andresa 06/08/2015Um livro-poemaVou confessar que fui enganada pela capa do livro. Eu geralmente não gosto de ler as sinopses antes da leitura, porque amo a expectativa de saber o que irei encontrar. Li "Natasha" sem qualquer vestígio do que a história se tratava e, ao ver os tons e detalhes da capa, imaginei que se tratava de algum suspense ou algo mais fantasioso, até mesmo sobrenatural, rs. Bem, não é! O livro, na verdade, é um romance, na forma mais pura da palavra!
Aqui, conhecemos Paulo Jacu (Jacu refere-se a um apelido, o qual desvendamos no início do livro), ou melhor, PJ, que é o nosso protagonista: um rapaz tranquilo, cujos olhos encontram poesia por onde passam. Um certo dia, PJ conhece sua nova vizinha, Natasha, e se apaixona perdidamente por ela. A partir daí, a vida dele muda completamente.
No entanto, Natasha não é uma menina como outra qualquer. Impulsiva, sem papas na língua, inconsequente, espontânea, de espírito livre, do tipo que se joga no mundo sem medo de nada. Essa é Natasha.
Durante a leitura, que é em primeira pessoa, PJ nos conta um pouco de sua trajetória, desde os primeiros olhares trocados com Natasha até o momento atual, em que a memória começa a falhar, mas cujos detalhes mais importantes permanecem em nossa mente. São a esses detalhes que ele se prende para nos apresentar a relação de ambos.
A narrativa é bem diferente, pois é um livro-poesia. As palavras de PJ não formam apenas frases, mas verdadeiros poemas, nos quais vamos adentrando no mundo e no relacionamento conturbada que ele teve com a menina ruiva de olhos foscos.
Natasha não é meu tipo preferido de personagem. Ele é uma mulher, ou melhor, menina de fases e, exatamente por isso, o livro é dividido em quatro estações, pois sua personalidade, seus anseios e suas vontades mudam como elas.
Por conta dessa impulsividade, Natasha atordoa não só a PJ, mas a nós, leitores. É impossível dizer o que a atormenta ou o que ela espera. É como se o que tem no presente não fosse suficiente para ela. Como se sempre quisesse mais do mundo e vivesse frustrada por não conseguir. Às vezes, as palavras dela soavam tão ácidas, tão rígidas, que atravessavam PJ e as páginas do livro e acabavam me atingindo.
Essa personalidade, extremamente contrastante com a de PJ, é o que torna a leitura instigante. Queremos saber mais e mais sobre o que acontece com ambos, por isso é fácil lê-lo em uma só sentada (além do mais, o livro é relativamente curto).
Não há um aprofundamento muito grande na vida de ambos. Senti muita falta de saber mais sobre PJ e sobre Fox, queria ver mais diálogos entre eles, queria entendê-la melhor, queria entrar no livro e sacudi-la para que ela percebesse o quão precioso era o sentimento de PJ por ela, rs. Mas acredito que a intenção da autora foi justamente essa, de que não era preciso todos esses detalhes para sentir a profundidade do sentimento que existia ali, entre eles.
Fiquei encantada pelo jeitinho simples e apaixonado de PJ, pela maneira com que ele sempre tentava relevar as loucuras de Fox, a forma como tentava compreendê-la e fazê-la se sentir bem e protegida.
O livro é, acima de tudo, uma história sobre o amor (ou, quem sabe, sobre a dor de amar). Um amor que pode atravessar estações, anos, que luta contra o esquecimento e até com as coisas inexplicáveis da vida, como a própria natureza humana, tão inconstante e incompreensível.
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