Toni 26/08/2019
A coletânea de contos “Nos idos de março” foi publicada em 2014, quando o golpe militar de 64 completava 50 anos. Organizada por Luiz Ruffato, reúne 18 narrativas de autores de diferentes gerações e estilos (15 homens e 3 mulheres), todos abordando a ditadura civil-militar brasileira sob as mais diversas perspectivas: torturadores e torturados, soldados rasos e generais, pessoas comuns e guerrilheiros (passe a foto para a esquerda para conhecer o índice).
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Não é de hoje que escritores e intelectuais alertam sobre a degradação da memória social e o caráter autoritário das políticas de esquecimento. Uma vez que nosso processo histórico, seguindo a tese de Renato Janine Ribeiro, é marcado por dois traumas constitutivos nunca efetivamente encarados — a colonização predatória e a crueldade escravocrata —, regimes autoritários sempre encontraram, entre nós, as portas abertas para sua instalação e permanência. A literatura, por sua vez, acompanha de perto o rebuliço antidemocrático das elites e expõe seu caráter endogâmico, seja através de alegorias para burlar a censura ou trabalhando de maneira explícita discursos que, hipocritamente, prolongam a ditadura até nossos dias.
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A memória da ditadura não é um conhecimento pacífico. Não se passa uma semana (quiçá um dia) sem que precisemos defender o consenso ético de que a tortura não pode ser justificada, muito menos exaltada em votação pelo “impeachment” de quem-quer-que-seja. Por isso, mas também porque há uma fábrica de fake news a ser combatida, é que precisamos falar mais sobre a ditadura brasileira. Resolvi, com a ajuda de colegas aqui do IG (que ainda não sabem disso), usar este livro de contos como trampolim para um projeto de reparação de nossa memória coletiva, uma maneira de usarmos as armas à nossa disposição contra a precarização de um passado traumático. Fiquem ligados: em breve explico tudo para os interessados em participar desta #balbúrdia. #ditaduranuncamais #nãovamosesquecer